Contra o Consenso: O ano que se vai
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dimanche, janvier 02, 2005

 

O ano que se vai

Não sou fã de festas de final do ano. Todo mundo troca gentilezas, abraços e desejos de melhores dias, mesmo que seja com pessoas que não se conheçam. Acho meio falso, já que ao invés de trocar abraços as pessoas poderiam ao menos se importar com as outras pessoas no resto do ano. Não empurrar, comprimentar, ser gentil, não ficar apunhalando ninguém seriam bons começos. Tem também o discurso de esperanças de um ano melhor e de que o ano anterior não deixa saudades. Isso ano a após ano, esperança e esperança que nunca chegam e todo ano que se vai não deixa saudades.

Mas acho que o fim de 2004 merece ser comemorado. 2004 foi marcado pela tragédia, pela crueldade, foi um ano em que o mal pareceu triunfar de forma ululante. Os terroristas estremeceram o mundo matando trabalhadores em Madri e chacinando crianças em Beslan. O horror, que muitos haviam previsto no Iraque, se revela ameaçador e brutal, seja no sangue das crianças iraquianas, seja nos caixões encobertos com bandeiras, seja nos pobres homens torturados cercados por uma baixinha sem graça. Israel se retira de Gaza, mas constrói um muro que asfixia a vida dos palestinos. Para finalizar, o ano acaba com a morte de Susan Sontag e um dos piores terremotos da História. O ano acaba com um genocida monstruoso, que deveria estar em Haia, comandando Israel. Com um corrupto homem de uma história corporativa sempre suspeita dirigindo os EUA. Com um magnata cercado de processos e suspeitas de corrupção dirigindo a Itália e com um líder fraco e subserviente na Grã-Bretanha. John Howard, homem de triste história com relação a imigrantes, continua no comando da Austrália. Nem o fato de Jose Maria Aznar ter caído na lixeira da História compensam esses fatos.

As imagens que 2004 deixa para a História são os destroços repletos de corpos de Madri, as crianças carregadas mortas em Beslan, as pilhas de corpos na Indonésia, as cenas de tortura em Abu Graib. É um ano que não deixa saudades.