Contra o Consenso
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dimanche, septembre 25, 2005

 

CASA NOVA

samedi, septembre 24, 2005

 

Um viva aos ônibus fretados

Por alguma razão, escolheram como vilão do trânsito das grandes cidades justamente aquela que é a melhor solução surgida nos últimos anos: os ônibus fretados. Num país em que transporte público é sinônimo de monopólio forçado pelo Estado(Alguma ARTESP ou ANTT da vida decide as linhas, as dá de presente para alguma empresa, quase sempre sem concorrência. Se o serviço estiver ruim ou for visto como caro e algum bravo empreendedor decidir oferecer uma alternativa será preso e terá seu meio de trabalho apreendido), os ônibus fretados são uma solução maravilhosa. Ao invés de esperarem alguma ação por parte do Estado, as próprias pessoas e empresas surgem com uma solução prática e barata para deixar o carro em casa.

Há desde de piadas vindas dos maiores vilões do trânsito das grandes cidades(As pessoas que viajam diariamente de carro sozinhas), com coisas do tipo que ônibus fretados são ônibus que dirigem como carros à restrições para a movimentação de carros em algumas áreas(Caso de Jundiaí,em São Paulo). Tomemos um trecho dessa entrevista com Jurandir Fernandes, secretário de Transportes Metropolitanos, do Estado de São Paulo:

"Hoje são mais de 150 ônibus fretados que saem diariamente de Campinas para São Paulo. O usuário pega esse ônibus fretado e gasta R$ 8 por dia. Não há trem que subsista com esse valor. Só que vai chegar o momento em que os fretados enfrentarão grande dificuldade para entrar em São Paulo e a legislação de São Paulo, até por sobrevivência, vai começar a causar impedância para esse tipo de circulação. É importante lutar desde já por um sistema mais evoluído."

O que ele esquece de dizer é que a necessidade desse sistema "pouco evoluído" só surgiu por incompentência estatal. E que, vale frisar, o sistema de fretados só atingiu essa proporção por culpa do governo. Os ônibus fretados, ao invés de serem vistos como causadores de problemas de trânsito, deveriam ser reconhecidos como parte da solução. Antes um ônibus fretado na rua que quarenta carros.

 

Acadêmico e contemporâneo

Poucas manifestações culturais foram tão criticadas pelos intelectuais do seu tempo quanto o jazz. Theodor Adorno colocava o ritmo no centro da sua crítica do rádio e a cultura de massas, D. H. Lawrence, autor de um dos livros mais combatidos pelos conservadores de todos os tempos(O Amante de Lady Chatelley) via o ritmo com desprezo, assim como o socialista e Bertrand Russell.

Posteriormente, isso mudaria. O escritor americano Norman Mailer e o historiador inglês Eric Hobsbawm onstentariam com prazer sua paixão pelo ritmo dos negros do sul dos Estados Unidos. Hoje, é um ritmo vendido nas lojas junto com a música erudita, a música clássica, aquela música não consegue ter uma denominação que não seja imponente. Outras manifestações vistas como bastante marginais em seu tempo, como a milonga, o tango, se tornariam sinônimos de sofisticação e símbolos de uma classe média/alta intelectualizada.

São demonstrações claras de como classificar e analisar uma obra de arte é uma questão muito mais complexa de que parece. E como certas classificações estéticas podem se tornar perdidas com o tempo.

***

Por exemplo, arte acadêmica e arte contemporânea. Arte acadêmica, a rigor, era a arte oriundas das grandes academias do Século XIX, aonde os artistas eram rigorosamente cobrados no acabamento das suas obras e em especial na questão do desenho. Toda a obra era meticulosamente desenhada e esboçada e os artistas passavam anos e anos treinando o desenho de perspectiva e anatomia humana. Curiosamente, hoje, os pintores que dizem acadêmicos têm falhas grotescas de perspectiva e anatomia. São artistas incapazes de desenhar, muitas vezes.

Os fundamentos do que hoje se chama de arte contemporânea nasceram no ínicio do Século, quando o Império Turco-Otomano ainda existia e tanto o nazismo quanto o comunismo dominavam boa parte do mundo ocidental. Ninguém nega que é plenamente possível se fazer uma instalação, uma colagem ou uma obra de arte abstrata inovadora em pleno Século XXI(Assim como é possível fazer uma pintura de nu no estilo clássico inovadora), mas são caminhos perigosos, aonde o risco da repetição é enorme.

É basicamente este um ponto em que muitos artistas cometem. Consideram que o simples uso de borrões e ready-mades é uma forma de contestação. Esquecem que são manifestações surgidas há mais de oitenta anos atrás e que idolatrar Picasso ou Matisse não é muito diferente que idolatrar Leonardo da Vinci e Rafael e que uma pintura cubista por si so não é mais inovadora que uma pintura da Virgem Maria.

Muitos gostam de falar estufados em arte burguresa. Mas os ricos em geral não se alinham junto a Rafael ou a Bouguereau. Muitas grandes galerias de hoje se baseiam fundamentalmente na arte moderna. O próprio conceito de instalação e arte abstrata foram uma bênção para esse tipo de comércio, uma vez que são obras de produção muito mais rápida que um retrato produzido de forma meticulosa.

Se ready-mades eram inovação e contestação quando surgiram, hoje indubitavelmente fazem parte do sistema.

Fica a questão: num mundo dominado pelo computador, que inclusive criou novas formas de expressão do ponto de vista estética, ainda há sentido em artistas contemporâneos que são guiados pela Bauhaus, pelos cubistas e pelos impressionistas? Afinal, qual a inovação e a contestação de uma obra que segue os mesmos padrões de oitenta anos atrás? E se a crítica fundamental à arte acadêmica é a falta de inovação, qual o valor de uma arte contemporânea sem inovação, aonde os artistas seguem ferreamente os preceitos pré-estabelecidos e os ensinamentos de seus professores das universidades?

Por fim, ainda hoje, há algum sentido nos termos acadêmico e contemporâneo? Muitas cidades classificam seus salões de artes dessa forma. Como se classificar uma obra nesses parâmetros?

vendredi, septembre 23, 2005

 

Dia sem carro

Há uma velha e batida piada contada no dia 8 de março. Muitos dizem que esta data é o "Dia Internacional da Mulher" porque todos os outros dias do ano são "Dias do Homem". A piada agora parece se repetir com o "Dia Internacional sem Carro".

Se há um rei no Brasil, este rei é o automóvel. É ele que guia não só as políticas de transporte, mas muitas das econômicas e sociais também. Por exemplo, qual a primeira coisa que se propõe quando o desemprego atinge índices ainda mais altos que a média? Diminuir os impostos da fabricação de carros. E isso vai longe: nos anos 90, tivemos vários estados brigando a ferro e foice por montadoras(Com incentivos financeiros que fugiam do limite do razoável), uma briga ferrenha pela duplicação de vias, construção de estradas, etc. E claro, isso explica a manutenção da Petrobrás sob o manto estatal, e não raro, gasolina vendida à preços camaradas perto do cobrado internacionalmente.

O mais engraçado do tal "Dia internacional sem Carro" é que justamente os grandes entusiastas da idéia, os políticos e a imprensa, são os grandes adoradores do rodoviarismo no país. Por exemplo, se hoje, em Campinas, se via várias faixas pedindo ao motorista para deixar o carro em casa, tíhamos a mesma administração que fez o pedido orgulhando-se de gastar 120 milhões com recapeamento de avenidas. Numa cidade em que faltam passarelas, com viadutos sem acesso para pedestres e com um transporte público arcaico e ineficiente.

Não raro lemos artigos em jornais reclamando dos efeitos do tráfego de trens em determinadas cidades. Muitos jornais falam como se fosse o apocalipse a passagem do trem de carga por uma cidade, cortando cidades ao meio. Bem, o tráfego numa linha cargueira geralmente não significa mais de um trem passando pela linha por hora e existem praticamente em toda cidade passarelas para pedestres. O problema dos trens, claro, é que eles retiram, por minutos, a majestade do automóvel. Nunca vi ninguém reclamar de uma rodovia dividindo cidades, por exemplo(Sim, há vários casos em que isso ocorre, como em Louveira, pela Anhanguera). Poucos jornais também falam que para um pedestre, atravessar certas avenidas de São Paulo(Como a Faria Lima) pode ser muito mais demorado que o tempo que um motorista leva para ver um trem carregado de soja passar por Itirapina ou Rio Claro.

A mesma imprensa e os mesmos políticos sempre adoraram vender as maravilhas das grandes obras viárias, por mais caras e absurdas que elas fossem. O Rodoanel em São Paulo é vendido como se fosse uma obra ecológica, de grande âmbito social, como se não beneficiasse apenas os donos de carros e as transportadoras. Quase nenhum jornalista jamais quis discutir os vários aspectos negativos da obra, como seu efeito relativamente reduzido sobre o trânsito, seus altos custos e impactos ambientais. E bem, é o mesmo filme de demagogia feito com toda obra viária de grande porte.

Também é uma bela piada os políticos pedirem as pessoas para deixarem os carros em casa. Afinal, poucas coisas no Brasil são mais mal-cuidadas pelos políticos quanto o transporte público. Metrô é coisa de poucas capitais, e com uma extensão bem menor que o necessário. Trem de longa distância, com exceção de duas linhas, inexiste. O sistema de ônibus é uma piada de mau-gosto, com um sistema de monopólio forçado pelo Estado e tabelado de forma uniforme. Na prática, depender do transporte público significa ter que dispender em muitos casos seis, oito vezes mais tempo que no mesmo percurso feito de carro. Significa pagar um custo em passagens próximo ao gasto com gasolina para percorrer percursos semelhantes ao feito de carro(Por exemplo, para se viajar entre Campinas ou Sorocaba até São Paulo de carro a gás, sozinho, mesmo considerando pedágios, gasta-se menos que fazendo o mesmo percurso de ônibus). E claro, significa perder horas esperando em rodoviárias, sujeitando-se à dormir na rua ou ficar acordado a madrugada inteira, à gastar fortunas com táxi, etc.

Os políticos deveriam deixar de certas hipocrisias. Antes de colocar faixas pedindo para as pessoas deixarem o carro em casa um único dia do ano, deveriam dar opções e deixar de incentivar o uso do carro o ano inteiro.

mardi, septembre 20, 2005

 

A liberdade de expressão

Um valor que surge tanto no discurso típico da esquerda quanto da direita. A direita adora falar dos dados relativos à Cuba e à China dos Relatórios dos Reporteres Sem Fronteiras, a esquerda falar da demissão de jornalistas que se posicionam contra o governo americano. Claro, todo mundo adora falar em liberdade de expressão. Pena que, na prática, as coisas são mais complicadas.

Por exemplo, peguemos o professor de Direito de Harvard, Alan Dershowitz. Ele vêm sendo fortemente criticado nos Estados Unidos porque, ele, que sempre falou em liberdade de expressão e em respeito à Primeira Emenda, mas vêm tentando, de todas as formas, impedir a impressão e comercialização do livro "Beyond Chutzpah: On the Misuse of Anti-Semitism and the Abuse of History", de Norman Finkelstein. Neste livro, Finkelstein acusa Dershowitz de plágio, manipulação de dados, entre outras coisas, no livro "In case for Israel"(Publicado aqui no Brasil como "Em defesa de Israel"). Dershowitz chegou ao ponto de enviar uma carta ao governador da Califórnia, pedindo que este intervisse na University of California Press para impedir a publicação do livro, posteriormente mobilizando um exército de advogados para pressionar qualquer pessoa que estivesse envolvido em alguma forma na produção do livro para depois, bem, partir para uma campanha difamatória contra Finkelstein.

Outro exemplo: David Irving. Irving é um dos mais conhecidos nomes do revisionismo do Holocausto. Uma das defesas que os revisionistas fazem é com relação à liberdade de expressão. Eles adoram se colocar como mártires da liberdade de expressão. Mas Irving não titubeou em abrir um processo contra a historiadora americana Deborah Lipstadt por difamação, por esta ter afirmado que ele era movido por motivos políticos, entre outras coisas. Irving, claro, perdeu o processo.

Todo mundo, sem exceção, gosta de clamar pela liberdade de expressão. Mas na prática, ninguém gosta dela. Muitos, que se dizem liberais, não titubeiam em querer ameaçar terceiros com processos por difamação(Num país aonde a legislação sobre o assunto é bastante criticável). Há o velho choramingo desse mesmo povo quando falam mal do Gustavo Corção, do Paulo Francis ou do Olavo de Carvalho. Pessoalmente? Grande merda. Não consigo ver lógica em alguém com mais de quinze anos indignado porque alguém não gosta dos autores que ele idolatra. Outras pessoas ficam indignadas porque fulano colocou um vídeozinho pornô minúsculo no seu próprio site, cuja a hospedagem o próprio paga.

Qualquer um fala em liberdade de expressão, mas ninguém economiza esforços para impedir que alguma coisa que a gente não goste seja publicada ou falada, seja algo negativo sobre nós mesmos, algum texto que consideremos racista, preconceituoso ou machista. Claro, alguns falam em "limites" ou "exceções" para a liberdade de expressão. Que, não raro, são coisas que a gente não gosta.

 

CPTM e a segurança

O acidente ocorrido em Mauá no final de semana, aonde um trem da CPTM descarrilhou por quê algum idiota colocou um paralelepípedo nos trilhos(Um ano depois que um fato semelhante ocorreu entre as Estações Imperatriz Leopoldina e Presidente Altino) é só um sinal que mais de dez anos depois que a CPTM foi criada, das cinzas da CBTU e da Fepasa, muitas melhorias ainda são necessárias. É irresponsável deixar um trem de subúrbio trafegar em áreas não-cercadas. Não raro, o trem passa com pessoas e crianças andando pelos trilhos, há várias passagens de nível, faltam passarelas. Em alguns pontos da Lapa e da Mooca, crianças pulam os muros para entrar nos trilhos.

Claro, nem tudo é falha do governo estadual. Há um viaduto não terminado no Jaraguá sobre a linha férrea(Aonde existe uma passagem de nivel), que ficou assim durante o Mandato inteiro da Marta Suplicy. Mas também não da para negar que o governo estadual, ao invés de se orgulhar pelas linhas em construção do metrô(Isso considerando que desde que o Mário Covas assumiu, só se inaugurou duas pequenas ampliações iniciadas na gestão Fleury, e prometidas pelo Quércia, além de um naco inútil de metrô em Capão Redondo), deveria dar padrões mínimos de segurança para os passageiros e as pessoas que moram no entorno das linhas da CPTM.

lundi, septembre 19, 2005

 

Casa, comida e liberdade

Eu, não consigo ver prisões como lugares agradáveis. Não consigo, quando passo perto do Cadeião de Pinheiros, dentro do trem da CPTM(O trem passa quase grudado de lá) ver um lugar aonde eu gostaria de estar morando. Mesmo as cenas de prisões americanas, sem problemas como super-lotação, me parecem nada agradáveis.

O conceito de prisão é o de punir o indíviduo retirando-lhe o seu maior bem. No entanto, sempre ouvi muita, mas muita gente reclamar que os presos ficavam lá no bem-bom, com comida e casa gratuita. Traduzindo: tudo bem ficar preso, numa prisão super-lotada, sendo sujeito à surras e a ser estuprado. Afinal, você tem comida e casa gratuita.

Triste um país aonde comida e casa valem mais que a liberdade.

dimanche, septembre 18, 2005

 

Fofoca

Segundo uma fofoca que circula pela internet, teriam tentado derrubar um avião de passageiros que saía de Nova York, da America West, com misseis terra-ar. O piloto e os passageiros teriam visto e agora estariam sendo interrogados pelo Departamento de Aviação e pelo FBI.

Isso, a rigor, significaria que sim, os americanos estão mais vulneráveis do que pensa(após terem eleito Bush com base no discurso da segurança). Mas, bem, é fofoca, e não foi comprovado ainda(E saiu num site chamado "Bolas de Futebol Americano Verdes", então fica a seu cargo acreditar ou não).

samedi, septembre 17, 2005

 

Monteiro Lobato

Quando a nova versão do "Sítio do Pica-Pau Amarelo" estrelou, foi alvo de várias críticas. Alguns reclamaram, por exemplo, da Dona Benta utilizar a internet. Pessoalmente? A série não faz jus à obra de Monteiro Lobato. O sítio que me aparece, digamos assim, é fluminense demais. Não nego que as regiões serranas do Rio de Janeiro sejam belíssimas. Adoro Nova Friburgo e Itataia. Mas, filmar a obra de Monteiro Lobato no Rio de Janeiro me parece como filmar um video-clipe de "Garota de Ipanema" do Tom Jobim no Guarujá, com atores paulistanos. Ou, ainda, filmar a vida de Heitor Villa-Lobos com atores paulistas, no Brás. Não funciona.

Claro, o que nenhum dos zumbis televisivos percebeu é que a série antiga do Sítio também não fazia justiça à obra de Lobato. Lobato criava pequenos épicos para crianças, grandiosos, e isso não caberia numa série barata da Rede Globo.

Lobato, assim como Tolstoi e Dostoivski, basicamente, foi feito para ser lido. Nos livros. Com calma, atenção e muita imaginação.

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Infelizmente, um dos nossos maiores autores tem sido cada vez mais esquecido pelos adultos e pelas crianças. É algo criminoso. Dr. Seuss, por exemplo, mesmo hoje, continua sendo um autor bastante vendido e respeitado dentro dos Estados Unidos. Monteiro Lobato é muito mais que a inspiração de duas séries de TVs ruins e de uma série fuleira de quadrinhos. Era o criador de um mundo maravilhoso, com uma técnica inigualável, costurando tradições de vários mundos.

Afinal, foram gerações crescendo com o nome de Emília como sinônimo de boneca.

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Monteiro Lobato encarnava, com maestria, aquela tradição interiorana, tipicamente paulista, que José Ferraz de Almeida Júnior havia pintado anos antes. A mesma tradição que hoje cidades como Campinas e Barretos gostam de ostentar, de tradição e modernidade ao mesmo tempo, Monteiro Lobato já ostentava naquela época.

Claro, estou sendo egoísta ao querer trazer sua obra para o meu estado. Duma certa forma, Lobato era brasileiríssimo e creio que cada um irá identificar o Sítio do Pica-Pau Amarelo na zona rural mais próxima da sua cidade(Embora, sim, Lobato era da Região de Taubaté, e isso meio que transparece nos livros, incluíndo uma menção à Central do Brasil, ferrovia que servia a região). Afinal de contas, com sua meticulosa e bem feita mistura de tradições brasileiras, de origem africana e indígena, com mitos e personagens europeus, Lobato fez uma grande homenagem ao brasileiro, com sua maravilhosa mistura de culturas.

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O mais legal dos personagens de Lobato é que não haviam lições de moral, conflitos existenciais nem à volta à uma realidade. Se no Mágico de Oz, de Frank B por exemplo, tínhamos uma menina do Kansas presa num mundo mágico em que ela detestava, junto com um leão, um robô e um espantalho descontentes com sua própria existência, no "Sítio do Pica-Pau Amarelo" temos crianças viajando por mundos mágicos basicamente, bem, por que querem se divertir, e temos bonecas e sabugos que não se importam em contestar sua condição. Deliciosamente brasileiro.

Não havia nem resquicios daquela tradição moralista de viver a realidade, que infesta obras como Peter Pan ou Alice no País das Maravilhas. As crianças tranquilamente fugiam da realidade, sem problemas algum com isso. Também, ao contrário da tradição dos contos de fadas, tínhamos crianças agindo como crianças no foco da ação. Não víamos a Narizinho choramingando por um amor, nem longos romances açucarados. Era uma série para crianças, com crianças agindo como crianças.

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Por fim, esqueça a série de TV e certos preconceitos, numa época em que falar asneiras do seu próprio país virou moda. Monteiro Lobato, ao contrário de qualquer novela reverenciada pelos jornalistas, é obrigatório. Em livro, no original.

vendredi, septembre 16, 2005

 

Segunda Citação da Semana

"Não haverá guerra civil no Iraque. Nunca houve uma guerra civil no Iraque. Em 1920, Lloyd George nos alertava de uma guerra civil se o Exercíto britânico fosse embora. Como os americanos agora ameaçam os iraquianos com uma guerra civil se eles saírem. Tão cedo quanto em 2003, porta-vozes americanos nos alertavam que poderia haver guerra civil se as forças americanas desembarcassem.

O que as forças imperiais, colonias não irão aprender - não vamos usar seus nomes verdadeiros - e não podem aprender é que o Iraque não é um estado sectário, mas uma nação tribal. Homens e mulheres iraquianas se casam por religião ao invés de por afiliação.

Um ano atrás, eu conversei com um médico que tinha acabado de ter seu irmão morto por homens armados, assassinos que, eu não tinha dúvida, eram xiitas enfurecidos que o seu irmão havia feitos objeções à construção de uma mesquita xiita no fim da sua estrada. Eu me virei ao seu irmão no funeral e perguntei se haveria uma guerra civil no Iraque.

"Por quê você e os americanos querem que tenhamos uma guerra civil?" ele perguntou "Sou um sunita casado com uma xiita. Você quer que eu mate minha mulher?"

Há muitos jornalistas, escritores e porta-vozes da Casa Branca que gostam de ameaçar o Iraque com uma guerra civil. Mas por quê? Dois anos atrás, o porta-voz oficial dos EUA fez uma ameaça dessas. "Al-Qaeda", ele queria dizer, claro, sunitas - queria uma guerra civil.Mas os xiitas se recusaram a dar aos americanos a sua guerra civil e o Iraque permanece infeliz e adormecido. Por quê? Por quê diabos eles não decidiram por uma guerra civil? Por quê o Imã Ali uma vez disse ao seu povo que "quando você vê um um outro homem, ele é seu irmão na religião ou seu irmão em humanidade."

No Líbano, é fácil simbolizar guerra civil. Os sunitas e xiitas lutaram contra os cristãos maronitas - o conflito era os maronitas contra o resto - e os americanos, israelenses, sírios e outros vieram para se aliar ao lado que eles desejavam. Mesmo agora, o governo americano alerta para os perigos de uma guerra civil - como se os libaneses precisassem disso. Aliás, os libaneses enfrentaram uma guerra civil que custou 150 mil mortos. Os iraquianos não precisam deste conflito terrível. Por quê nós o desejamos para eles?"

ROBERT FISK, correspondente no Oriente Médio do The Independent, de Londres.

jeudi, septembre 15, 2005

 

O Mundo gira

Delfim Netto saiu do PP e foi para o PMDB. Ou seja, na prática, o PP acabou. Também vai ser lindo o PMDB de agora, com Quércia, ex-brizolistas como o Garotinho e agora o ex-tsar da economia do regime militar.

***

Não pude conferir pessoalmente como a Polícia Militar dispersou a manifestação dos estudantes em frente à Assembléia Legislativa para saber se de fato houve abusos e se a paralisação da Avenida Pedro Álvares Cabral foi total(Embora o trânsito aquela região viva paralisado).

 

Ferrovias

Duas possíveis obras ferroviárias que surgiram no post sobre o Rodoanel são um ramal ferroviário ligando o Vale do Paraíba a São Sebastião e o TGV São Paulo e Rio.

Tiago, o ramal ferroviário entre o Vale do Paraíba e São Sebastião seria bastante interessante porque possibitaria que as cargas vindas da região de São José dos Campos pudessem ser embarcadas de forma mais racional, sem depender de Sepetiba ou de Santos(Em ambos os casos, fazendo viagens longas, utilizando mais de um ramal ferroviário). Caso houvesse, junto à isso, um ramal ferroviário ligando a estação de Boa Vista, em Campinas, à região de São José dos Campos, meu chute é que tanto a soja que é vinda do Centro-Oeste pela Ferronorte quando aquela vinda do Porto fluvial de Pederneiras poderiam ser exportadas por São Sebastião. Mas, claro, é um chutão, já que ninguém discutiu à sério essa idéia e muito menos existem estudos sobre o assunto.

De qualquer forma, infelizmente, parece estar fora de cogitação.

Francisco, o principal problema é que tanto os estados quanto às cidades de São Paulo e Rio de Janeiro têm problemas sério de locomoção para sequer pensar num TGV. È talvez o tipo de obra viaria mais criticada que existe, junto com o Maglev ou freeways demasiadamente sofisticadas. É uma obra cara, cujo os custos do quilômetro construído rivalizam com o metrô, e tanto em Portugal quanto na África do Sul os projetos desse gênero têm atraído fortes críticas. Some-se a isso o trecho de Serra entre a Barra do Piraí e o Rio de Janeiro, ou mesmo a alta densidade habitacional na região do Vale do Paraíba paulista, e você tem custos absurdamente altos.

Ao meu ver, antes de se pensar em TGV, o país precisaria pensar em estabelecer um sistema próximo ao da AMTRAK americana ou mesmo o utilizado na Rússia. Ou seja, trens confortáveis, numa velocidade média entre 60 a 150 km por hora, entre as principais cidades, talvez usando parte da malha atual. O sistema americano, que não teve grandes progressos desde dos anos 60, é alvo de bastante críticas. Mas, de qualquer forma, seria um grande progresso. Seria uma opção extremamente razoável para viagens longas, mais que apenas um corredor em padrão TGV servindo duas cidades.

mercredi, septembre 14, 2005

 

O mundo gira

A Delta Airlines, a terceira maior companhia aérea dos Estados Unidos, entrou com pedido de falência. Chapter 11, então a empresa continuará operando normalmente.

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Frances Newton, que segundo evidências recentemente coletadas é inocente da acusação de ter matado seu marido e seu filho, foi executada hoje em Houston, Texas. Mais uma execução polêmica e que mobilizou vários ativistas nos Estados Unidos.

mardi, septembre 13, 2005

 

O massacre de Vila Nova Curuçá

A imprensa tem dado bastante destaque à família torturada e morta em São Paulo(O casal de aposentados Tadashi e Futaba Yonekura, os filhos Nilton e Fatima e a nora do casal, Erica Miyamoto). Eu pessoalmente acho um crime absurdamente bárbaro. Mas há um ponto na cobertura da imprensa que me incomoda: o destaque para a origem étnica das famílias.

Primeiro, se o mesmo crime tivesse ocorrido com famílias de origem africana, alemã, ou peruana não seria mais nem menos bárbaro. Convenhamos: seria ridiculo colocar manchetes, durante a morte de Liana Friedenbach sobre a morte de "judia". Aí, a origem da família é um detalhe irrelevante. O Diário de São Paulo afirmou na morte de uma família de japoneses. Ora, bolas, família era de brasileiros de origem japonesa. O fato de ter olhos puxados não torna ninguém automaticamente japonês(Fato que tanto a colônia japonesa no Brasil quanto as pessoas em geral deveriam saber).

No mais, esse sim é um crime que nos deixa revoltados.

 

O plebiscito

O TSE já anuncia o plebiscito do desarmamento nas rádios e na televisão. E já tomei minha decisão: se o dia estiver ensolarado, vou a uma cidadezinha qualquer(Cambui, Itu, sei lá) tirar fotos e justifico. Se o tiver estiver nublado, anulo o voto.

Não gosto da lei do desarmamento em si. Acho ela mal-feita, nem difere uma pistola de um rifle. Não acho que o Estado deva decidir que tipo de coisa você guarda na sua casa. Nem acho que isso vá funcionar. Na prática, deve somente incentivar o mercado negro de armas, sem ter muitos efeitos na questão da criminalidade. Por outro lado, votar no "não" significa votar junto com a porção mais fascista da sociedade. Aquela que defende execuções sumárias pela polícia e um poder ainda maior ao Estado no combate ao crime. Sim, votar junto com Comte Lopes, Afanásio, Jair Bolsonaro.

Aqueles que atacam o desarmamento não o fazem por considerarem que a defesa pessoal é um direito individual nem que o Estado não deva interferir na vida das pessoas, mas sim por serem absurdamente maniqueístas. Eles querem uma ação praticamente militar contra a criminalidade, e isso inclui Estado, mílicias, e o que for, são defensores ardorosos do Exército e da Polícia. Uma vitória dessa turma no plebiscito daria mais força para o aumento do efetivo da PM, sem que políticas sérias de investigação fossem implementadas. E acho perigoso fortalecer a PM do jeito que esse povo quer.

Então, não quero me alinhar com nenhum desses dois lados. E não acho que eu deva ser obrigado à votar.

 

Ainda o Rodoanel

O pessoal do PSDB têm vendido a idéia de que a culpa pelo atraso do Rodoanel deve-se exclusivamente ao governo Lula(Como se o trama oeste, feito durante o governo FHC, tivesse tido um ritmo de construção fabuloso). Mas, claro, a coisa é bem mais profunda.

Há um tanto de demagogia quando se fala no rodoanel. É uma obra viária, que na prática só beneficia mesmo a especulação imobiliária e os donos das transportadoras, mas que querem falar como se até os favelados fossem beneficiados(A mesma coisa que ocorreu nas outras grandes viárias da cidade). Nas cidades americanas em que esse tipo de obra foi feita, isso acelerou o processo de ocupação dos subúrbios e areas rurais.

Há outras questões dentro da questão de exportação também. Não acho que o rodoanel seja prioritário se formos pensarmos em infra-estrutura, considerando, por exemplo, a malha ferroviária que o país têm. Isso sim é importante.

O traçado do rodoanel é criticado por vários especialistas(Incluindo Luiz Célio Bottura, presidente da DERSA na gestão Montoro e um dos grandes especialistas na área). De fato, não faz nenhum sentido fazer uma rodovia de via dupla(Tres faixas cada uma) que ficaria muito próxima da Rodovia Dom Pedro II(Que está longe de estar saturada), no meio daquele espaço vazio entre Caieiras e Mairiporã(Que é exatamente o que faz o tramo norte). Ele também não considerou que as diversas regiões da cidade tem demandas bem diferentes.

Notem que o governo estadual privatizou as rodovias mais bem conservadas e rentáveis do estado, enquanto o contribuinte que irá pagar pela construção e manutenção de uma via de 170 km, repleta de túneis e pontes. Seria muito mais inteligente fazer o contrário.

Se a questão é logística de exportação, fazer uma acesso ferroviário ao Porto de São Sebastião, além de uma ligação direta entre a região de Campinas com o Vale do Paraíba(O que permitiria exportar soja sem passar por Santos). Se a questão é poluição, um sistema de trem de longa distância e obras no metrô seriam muito eficientes. Se a questão é distribuição do tráfego pela Região Metropolitana, isso poderia ser feito com obras viárias de menor porte.

E o problema não é repasse de verba. É o fato da obra ter sido má projetada. Nunca deveriam ter começado a obra sem ter definido todo o projeto e feito todo o licenciamento ambiental.

 

Citação da Semana

"Eu não sabia se o que eu estava fazendo era o correto. Mas eu não tinha tempo.Eu tinha que tomar decisões rápidas, sob as circustâncias mais desanimadoras, e eu fiz o que eu achava ser certo"

"Eu injetei morfina nos pacientes que estavam morrendo e em agonia. Se a primeira dose não era suficiente, eu dei uma segunda. E a noite eu rezei a Deus para que tivesse compaixão por minha alma."

"Nós dividimos os pacientes em três categorias: aqueles que estavam traumatizados mas medicamente suficientemente bem para sobrevivem, os que precisam de cuidados urgentes e os agonizantes"

"As pessoas achariam impossível entender a situação. Eu tinha que tomar decisões de vida ou morte em meio segundo."

"Veio a questão então de dar às pessoas o direito humano básico de morrer com dignidade."

"Haviam pacientes com uma placa "Não ressuscitará". Dentro de condições normais, alguns poderiam ter sobrevivido vários dias. Mas quando a força se foi, não tínhamos nada."


DE UMA MÈDICA EM NEW ORLEANS, que admitiu em uma entrevista ter matado pacientes em agonia durante as enchentes causadas pelo Katrina. Com gangues de saqueadores armados sitiando o hospital, ela afirmou não ter tido escolha, numa das mais chocantes revelações sobre o caos causado pelo furacão.

 

Direto da Rua

O "Direto da Rua" é a nova seção regular deste site. Ela será constituída, basicamente, por fotos que ilustram fatos cotidianos que ocorrem nas ruas e outros lugares de São Paulo e do interior, em fotos recentes. Assim, o povo de outros estados poderá ter uma noção do que ocorre por aqui, como está infra-estrutura, a questão do policiamento, mendigos, etc.

Hoje, dia a dia em Jundiaí, cidade de 60 km da capital.


jund1
Originally uploaded by Andre Kenji.
O famoso McDonald´s da Avenida Nove de Julho de Jundiaí, aquele que uma corrente de emails afirmava ter a piscina de bolinhas em que uma criança teria morrido picada por uma cobra.

A notícia, claro, é falsa, mas note o rio(Poluído) e a mata que o email citava.




jund2
Originally uploaded by Andre Kenji.
Palmeiras do Jardim Botânico de Jundiaí, ainda em construção. Jundiaí, bem, é um dos maiores redutos do PSDB em São Paulo(Doze anos do partidão). Notem o plantio das mesmas palmeiras imperiais que a administração Marta Suplicy colocaria na Avenida Suplicy, adultas, os tão criticados "coqueiros" pelo mesmo partidão.

Ah, a prefeitura tem usado patrocínio(note as placas de propaganda embaixo) para financiar a obra. Para quem usa propaganda para pagar uniforme escolar, isso não é nada.



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Originally uploaded by Andre Kenji.
Pequeno carro utilizado na malha da Cia Paulista, agora enfeite de praça. A rua bem ao fundo é a Avenida União dos Ferroviários e era por lá que passava, até os anos 70, a Estrada de Ferro Ituana, ligando Jundiai a Itu.

lundi, septembre 12, 2005

 

Mais uma moda americana que chega aqui

Primeiro, foi aquele festa babaca em que as crianças se vestem de monstrinhos para mendigar doces nas portas das casas. Agora, mais uma onda americana tipicamente americana chega ao Brasil: a dos pundits.

Pundits são as pessoas que, em algum meio de mídia, em especial na televisão, dão sua opinião sobre um assunto qualquer. Por qual motivo elas fazem isso? Seriam, digamos assim, especilistas? Tipo, um professor de universidade que fale árabe e que tenha vivido no Líbano falando sobre Oriente Médio? Ou ainda um engenheiro militar falando sobre segurança? Nada disso. São geralmente umas portas, tipo a Ann Coulter, Bill O´Reilly e a Michelle Malkin, cuja a formação se restringe ao jornalismo ou alguma redação(Muitos acusam a Ann Coulter e a Michelle Malkin de serem racistas e nojentas. Não nego isso, mas o que mais me espanta nas duas são a falta total de qualquer resquício de conhecimento).

Agora, a onda chega ao Brasil. Você liga a televisão à cabo, tem algum jornalista falando em crise institucional ou sei lá o quê. Você liga o Jornal Nacional e tá lá ao Arnaldo Jabor, sem falar coisa com coisa. Você liga o Jornal Hoje tem a Miriam Leitão, com suas opiniões rasas. Até no telejoornal da TV TEM, retransmissora da Globo na região de Sorocaba e Jundiaí tem um sujeito estranho dando opinião. Na rádio CBN é um festival de horror, com direito à Lúcia Hypollito, Arnaldo Jabor, Miriam Leitão. A mesma coisa do que ocorre na Fox News ou na CNN. Um monte de gente rasa dando opinião sobre assuntos rasos. A internet então, aonde até Cláudio Humberto(Sim, aquele do Collor) e um tal de Giba Um(?) viram vozes respeitadas, nem se fala. Bem, nenhum deles têm uma grande formação acadêmica nem uma grande experiência de vida. Falam sore qualquer coisa, por quê bem, por quê falam. Assim como faz a Ann Coulter.

Essa cópia de costumes americanos é preocupante. Daqui a pouco o pessoal vai abandonar o futebol em prol daquele jogo estranho com tacos, luvas, bases e capacetes e deixar de usar picanha e linguiça no churrasco para assar hamburguers.

dimanche, septembre 11, 2005

 

Quatro anos do Onze de Setembro

E Osama Bin Laden e Al-Abu Musab Al-Zarqawi continuam à solta. Na verdade, boa parte da cúpula da rede terrorista continua a solta. E ela está bem mais perigosa agora. Tão descentralizada que mesmo a prisão ou morte de Bin Laden faria pouco efeito. Embora, segundo vários estudiosos, quem de fato seria o líder da organização seria Al-Zarqawi.

E para piorar, ao meu ver, os Estados Unidos estão inclusive menos seguros que antes do atentado. E de que cenas tão horríveis ou piores que as vistas em New York e New Orleans podem se repetir. Em pouco tempo.

 

A culpa por New Orleans



Eu não vou com a cara de George Walker Bush desde dos tempos em que ele era governador do Texas, com sua sanha pela uso da pena de morte(Com direito à casos como de um sujeito executado em que seu advogado dormiu no julgamento). Considerando que Bush talvez tenha sido um dos presidentes americanos que mais tenha se esforçado em jogar a Constituição americana no lixo(Talvez só perdendo de Abraham Lincoln, Woodrow Wilson e Franklin Delano Roosevelt) e que tenha lançado seu país em duas guerras coloniais desastrosas e genocidas, bem, é o suficiente para dizer ao meu ver que ele é absolutamente detestável.

Mas, dito isso, vale lembrar, tanto Kathleen Blanco, a governadora da Louisiana, quanto Ray Nagin, prefeito de Nova Orleans, tem uma boa fatia de culpa na tragédia de Nova Orleans. Claro, Bush foi irresponsável ao colocar boa parte da Guarda Nacional dentro do Iraque, e ao cortar recursos pro FEMA, a agência federal para desastres desse porte(Que, vale lembrar, foi formidável não ao não conseguir gerenciar a crise, mas ao atrapalhar ainda mais a situação, inclusive proibindo a Cruz Vermelha de enviar suprimentos), mas, por outro lado, tanto a governadora quanto o prefeito deveriam ter evacuado a cidade. Afinal de contas, haveriam os ônibus escolares para transportar a população mais pobre, e estes ficaram alagados com a chuva. E a polícia, que cometeu saques e permitiu que o caos eclodisse na cidade, era responsabilidade da Prefeitura.

O sistema federativo americano é bem mais profundo nos Estados Unidos, sendo que os estados tem uma vasta liberdade para proclamarem leis. Se mesmo no Brasil costuma se colocar a culpa por ações má-gerenciadas nesse tipo de tragédia nas esferas estaduais e municipais, imagine nos EUA. Claro, como notou Clark Stooksbury, Bush não se lembrou do federalismo quando lançou o No Child Left Behind ou foi à Suprema Corte para impedir os Estados de legalizarem a maconha medicinal.

Em menos de quatro anos, é a segunda vez que os americanos são brindados com uma cena nos jornais que parece retirada de uma história em quadrinhos ou de um filme de ação ruim, com uma cidade inteira devastada, com sobreviventes saqueando para sobreviver, corpos por todo canto. Afinal, desde de 1864, durante a Guerra Civil, quando Atlanta fora incendiada, não se via uma cidade americana ser evacuada por completo. Claro, não se pode negar que Bush não tenha culpa no Cartório. Mas também não se pode negar a culpa de Ray Nagin e Kathleen Blanco. E os três irão pagar um preço político muito alto por New Orleans.

vendredi, septembre 09, 2005

 

Droga

Encontraram um corpo de um garoto de oito anos assassinado na Represa do Rio Atibainha, em Nazaré Paulista. Além da barbaridade do crime, isso me choca por que eu conheço o lugar. Que, aliás, é belíssimo.

Aliás, boa parte da água consumida na capital de São Paulo vêm dessa represa.

 

Aforismo do dia

A esquerda de hoje é a direita de amanhã.

mercredi, septembre 07, 2005

 

Como mulher de malandro

O patriotismo não é um sentimento que cabe muito bem dentro do meu individualismo político. Afinal, como Liev Tólstoi disse uma vez: "Quando penso em todos os males que eu vi provenientes de ódios nacionais, digo-me que tudo isso repousa sobre uma mentira grosseira: o amor pela pátria". E de fato, é de se lembrar como o patriotismo dorme na cama junto com o militarismo, e como povos inteiros são empurrados a matar outros povos em nome da pátria.

Ainda mais no Brasil, aonde o patriotismo segue discursos ainda mais idiotas que a média, como aquele corrente cretina que circula na internet falando das batatas fritas vendidas em jornal na Holanda, como se fora de um bairro de classe média brasileira as coisas não fossem infernais. Ou ainda aquele de que o álcool combustível poderia abastecer o planeta inteiro com tecnologia nacional.

Mas, bem, não consigo negar. Amo este país. Não me lembro aonde eu li que, o amor de pátria era como o amor de mãe. Você ama sua mãe não por quê você a acha superior a todas as outras mulheres do mundo, mas porque ela é sua mãe.

Mas há algo de bastante especial nessa terra que me atrai. Há uma certa simplicidade no brasileiro, um certo sorriso mesmo nas suas piores situações, que é algo arrebatador ao meu ver. Você já viu como as mulheres negras americanas adoram alisar e tingir os cabelos de castanho? Aqui no Brasil não. Nossas mulheres negras adoram ostentar sua negritude por ai. Colocam lindos panos coloridos na cabeça, fazem trancinhas maravilhosas com os cabelos, um penteado mais bonito que o outro.

Há algo muito bonito na visão da construção do país erguida por Gilberto Freyre e seguida pelos integralistas. Do encontro da cultura do português com a do índio, e posteriormente com a do negro. Você já viu uma escultura de Aleijadinho de perto? Você já viu como é maravilhoso um profeta cristão, com uma certa grandeza clássica, com formas fortes como de uma máscara africana? Ou ainda como nossas mulheres podem ter as melhores coisas que uma mulher negra, com de uma loira ou de uma indígena ao mesmo tempo?

Claro, o país tem um zilhão de problemas. Somos uma espécie de ditadura mal-disfarçada de democracia. O Estado é uma grande ferramenta de concentração de renda, com privilégios dados à classe média custeados pelos impostos dos mais pobres. Temos coisas como o Estado mais rico da federação gastar quase dez porcento do seu ICMS com o custeio do ensino superior dado de graça à parcela mais rica da população. Ricos e pobres defendem abertamente soluções autoritárias, como o combate à criminalidade com execução sumária. Temos, talvez, uma das polícias mais violentas do mundo, uma imprensa no geral fraca e ruim. Enfiamos pessoas em ônibus para atravessar o país e achamos que tudo vai bem. Assistimos passivamente o uso do Estado por parte das empresas para enriquecer. Não temos na nossa história um Benito Juarez, um San Martín, um Símon Bolívar. Somos um povo desgraçado pela falta de heróis(E lembre-se sempre do que Bertold Brecht dizia dos povos que precisam de heróis), numa história escrita à linhas tortas.

Mas, diabos, sou como mulher de malandro. Apanho, mas não deixo de amar o agressor. Esqueço tudo isso ao ver aquela menina alegre, moreninha, com olhinhos de indiazinha, toda alegre no trem lotado. Ou, ainda, ao ver o ritmo absurdamente calmo, daquelas cidadezinhas do interior, aonde tudo ocorre em torno da Igreja. Aquele misto de devoção, de fé numa Sexta-Feira.

Não consigo deixar de amar este país e quem nasce nele. É o meu fardo.

mardi, septembre 06, 2005

 

A indigência intelectual do Brasil

Nós, brasileiros, costumamos a olhar com desprezo nossos colegas da América Latina. Mas, pensemos bem: quais os pensadores que se identificam com o liberalismo, com a direita, nos nossos vizinhos? No México, gente como Enrique Krauze. No Peru, Hernando de Soto(Que tem a mais clara defesa da propriedade privada que eu já vi) e Mário Vargas Llosa. Na Colômbia, aquele país que tiramos sarro pelo narcotráfico, ninguém mais que Gabriel Garcia Marquez. E no Brasil, ô senhor, qual pensador que nossa direita se reunem, protegendo lacrimejantes(Como a adolescente que não suporta que falem mal da sua boy-band favorita)?

Não, infelizmente, é preciso admitir: se um astrológo que, consegue colocar a culpa das mortes do Katrina nas próprias vítimas(uma perspectiva tão odiosa que nem os piores inimigos da América conseguiram engedrar) é visto como maior ídolo da "direita" brasileira, então, só nos resta sentar na sarjeta e chorar. Por quê, nada, mas nada, nos demonstraria nossa indigência intelectual que um tipo que escreve uma barbaridade como essa ser adorado por uma classe média metida a liberal e de direita.

Só nos resta aceitar nossa pequenaz intelectual como país e invejar o Peru de Hernando de Soto e Vargas Llosa.

UPDATE: O post acima é irônico. O Olavo de Carvalho tem tanta influência na vida real quanto aqueles malucos que começam a pregar com a Bíblia dentro do metrô ou da Praça da República(Mentira, os malucos do metrô tem um público muito maior). Fora do Orkut, ele é tão desconhecido quanto a faxineira que limpa os banheiros do Terminal Santo Amaro.

A não ser, claro, dentre a histérica turma de fãs pós-adolescentes, magricelos e branquelos, que ficam espalhando aqueles textos horríveis em tudo quanto é fórum e lista de discussão e ficam postando mensagens irritadinhas quando falam mal do seu ídolo.

 

Lá-lá-lá

Sebastião Augusto Buani, acusado de pagar propina ao Presidente da Cãmara, desmentiu as acusações. Segundo o próprio: "Nunca houve isto. Nunca paguei R$ 10 mil por mês. Não tenho dinheiro para pagar nem as minhas contas".

Não é preciso ser gênio para saber que com dez mil reais por mês você abre um restaurante numa área cara de qualquer capital ou numa rodovia movimentada de qualquer canto do pais. Ninguém seria estúpido de pagar todo esse dinheiro mensalmente num negócio que, imagino eu, é de pequeno porte. Severino Cavalcanti pode ser uma pessoa detestável(E é), mas uma mentira descarada ainda é uma mentira descarada. E tanto a Veja quanto a Istoé e a Época deveriam ter percebido o quão rídiculo é um dono de um restaurante pagar dez mil reais por mês em propina.

ERRATA: Quem caiu no conto da propina, pelo visto, além da Veja, foi a Isto é. A Época cita Severino, mas não fala do suborno.

Aliás, o artigo da Isto é afirma que um sujeito tentou as mesmas informações que saíram na Veja à revista. O que nos leva a crer que se eu ligar para a Veja falando ter informações de que José Dirceu é traficante de cocaína, eles, obviamente, acreditarão.

lundi, septembre 05, 2005

 

Ainda mais Katrina

Você certamente esperava capas e capas nas bancas das revistas semanais falando sobre uma tragédia que quase apagou uma das maiores cidades americanas do mapa, matando milhares de pessoas, não é? Estudos e estudos sobre o ocorrido, gráficos, opiniões de especialistas, não é? Afinal, tragédias vendem.

Obviamente, você só vai encontrar capas e mais capas sobre mensalões e mensalinhos. Por isso que eu ignoro essas merdas e só me informo pela internet.

***

Não sei porque o povo reclama do Bush. A sua Guerra ao Iraque mais o seu gerenciamento explosivo da crise do Katrina levou o preço da gasolina às alturas(Já há posto cobrando seis dólares o galão, enquanto se encontrava o preço do galão por pouco mais de dois dólares antes da crise). Isso é mais eficiente no combate ao Efeito Estufa que o Protoloco de Kyoto ou qualquer tipo de regulamentação ambiental.

 

Mais Polícia Militar?

Não há dia em que eu não leia a notícia de algum crime cometido por soldados da Polícia Militar em São Paulo. São geralmente execuções sumárias de "suspeitos", entre outros crimes. Também é díficil você andar por algum ponto movimentado de São Paulo e das grandes cidades do interior e da região metropolitana da capital sem ver soldados da Polícia Militar.

Parece que isso não é suficiente. O governo do Estado quer contratar mais 2350 soldados para todo o Estado. Para o terror da população, os soldados passaram seis meses em treinamento, antes de, portando armamento pesado, patrulhar as ruas.

Essa questão da polícia precisa ser melhor discutida. O governo do Estado têm alocado PMs em patrulha por locais movimentados(Curiosamente, os mesmos afirmam que não podem sair do lugar), enquanto arrastões em prédios e condomínios fechados se tornam crimes comuns. A Polícia deve existir para investigar e apurar crimes. Não adianta colocar PM por todo o canto ao passo que, o cidadão ao ser assaltado, mal consegue ser atendido pela polícia(Tudo mundo que eu conheço que foi assaltado reclamou da falta de estrutura ao dar queixa na polícia). E sim, a Polícia Civil, não a Militar, que precisa de investimentos. O que se têm feito é demagogia pura.

P.S: Eu moro em São Paulo. Pelo que eu vi, em Minas Gerais, há problemas semelhantes com relação à isso. Não sei a situação de cada estado. Mas, dependendo da situação, é algo que se deveria discutir nacionalmente. Não adianta encher as ruas de policiais mal-treinados.

 

Dúvidas de um milhão de dólares

Se algum de vocês souber a resposta, me avise, por favor:

- Quanto que o Itamaraty gasta em ajuda externa e políticas "humanitárias"?

- Quais os principais e mais movimentados eixos viários dentro do Estado de São Paulo? Quais cidades recebem maior quantidade de caminhões? Qual rota seguem os caminhões que passam pela Marginal? Quanto desses caminhões poderiam ter sua rota desviada da capital paulista com obras simples, como a duplicação de vicinais(Como ligações entre a Dom Pedro e a Dutra e o sistema Anhanguera-Bandeirantes), sem que fosse necessário enterrar bilhões de dólares no Rodoanel? Se até Luiz Célio Bottura, que já presidiu o DERSA, e é um dos maiores engenheiros rodoviários do país, acha que o traçado do Rodoanel está errado, por quê não rever estes aspectos?

- Quantos imigrantes - ilegais ou não - existem pelo país? Alguém já se preocupou em fazer estudos com relação à isso?

- Quanto que o governo gasta com políticas de distribuição de renda e ajuda social?

- Por fim, mais importante: considerando que, o país tem pretensões ao Conselho de Segurança da ONU, que muitos brasileiros moravam na região da Lousiana e do Mississipi, que países como Afeganistão, Venezuela, Cuba, Irã, Arábia Saudita, China, México e Rússia estão enviando ajuda às vítimas do Katrina, que tipo de ajuda o governo brasileiro enviou à região?

dimanche, septembre 04, 2005

 

Momento diarinho

Um momento de narcisismo e egocentrismo, num post horrível, que, se eu fosse você, pulava.

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Estou fazendo uma matéria especial na Unicamp. O professor, que fala de Baudrillard e Matrix a todo momento, é definitivamente uma pessoa engraçada. Em certos momentos, parece que você está num teatro assistindo a uma apresentação de um comediante.

De qualquer forma, até que está sendo produtivo. Já vi uma palestra sobre como a arquitetura do futuro usaria formas organicas e circulares em detrimento das formas quadradas, com toda a produção feita por máquinas, ao invés de pedreiros. E querendo ou não, qualquer coisa que fuja do pseudo-marxismo que impera nesse tipo de universidade(Em especial a ECA da USP) é bem produtivo.

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Uma mocinha me chamou a atenção logo na primeira aula. Tinha um jeito bem delicado, mas sei lá, talvez seja insuportavelmente fresca. Pelo olhar distante dela, ou não vai com minha cara, ou tem namorado(E é insuportavelmente presa à ele) ou é lésbica. Há também uma moreninha bem simpática, de arquitetura, com um jeitão meio desencanado, com um jeito imoralmente irrestível natural. Moreninha,cabelos encaracolados. Também responde ao olhares, mas está meio díficil de se aproximar dela.

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Há também a atendente da academia, que é irretocável sob todos os aspectos.

 

Não diga

Estatísticas divulgadas na quinta-feira mostraram que, no semestre passado, no viaduto do Chá, em que caminham diariamente 700 mil pessoas, o crime caiu drasticamente. Do primeiro semestre de 2003 até o mesmo período deste ano, o número de pedestres vítimas de roubo caiu 96%.
Como mostram as estatísticas, é muito mais provável alguém ser assaltado na avenida Higienópolis, um dos lugares mais elegantes de São Paulo, repleto de segurança privados, do que no viaduto do Chá, com seus pedintes e crianças de rua.


GILBERTO DIMENSTEIN, na sua coluna de ontem na Folha de São Paulo. É tão emocionante quando consegue enxergar o óbvio. Claro, é muito mais díficil você ser assaltado num lugar movimentado, geralmente com pessoas de classe baixa, do que numa rua quase vazia, repleta de moradores da classe alta.

 

Morre William Rehnquist

William Rehnquist, Chefe da Suprema Corte americana, morreu aos 80 anos, de câncer na tiróide. Indicado por Nixon em 1972, estava há quase dezenove anos na mais alta jurisdição da Justiça daquele país e havia sido levado à chefia da casa por Reagan, em 1986.

Rehnquist, é bastante conservador, votou contra a Roe vs. Wade(A decisão da Suprema Corte que legalizou o aborto em todo território americano). Portanto, em tese, seja lá quem Bush indicar ao cargo, pouca coisa alteraria no equilíbrio da corte em si. Mas, num país aonde decisões da Suprema Corte tem poder de leis, bem, é um momento que não deixa de ser crucial. Quem irá sucedê-lo na presidência da corte(Antony Scalla, talvez?), e como isso poderia derrubar decisões como a Roe vs. Wade, bem, fica a cargo do presidente. Esperemos pelas análises de pessoas mais qualificadas que eu, como Alexander Cockburn ou Nathan Newman.

samedi, septembre 03, 2005

 

O que os deputados comem?

Segundo a Veja, o dono do restaurante do Congresso Nacional pagaria dez mil reais por mês ao Severino Cavalcanti de propina. Só, que, pera aí, considerando que a gente fala de um restaurante que serve um local específico(Não uma mega-churrascaria de luxo numa avenida movimentada de alguma capital), o quê diabos se servia lá? E em especial, o quanto se cobrava? Por quê, convenhamos, para alguém dar dez mil reais em propina, manter os gastos com a manutenção de um restaurante e ainda tirar lucro, deve ter um negócio bastante lucrativo.

Que tipo de refeição que os deputadores e assessores comem para dar tanto lucro? Foie Gras com vinho francês? Eles levam a família para comer lá? Ou são os manifestantes do MST que comem no lugar?

Há alguma coisa de estranho nessa história.

***

De qualquer forma, a entrevista com Daniel Barenboim na mesma revista está imperdível. Mesmo.

 

Palavras e coisas que eu não aguento mais ver pela minha frente

1-) Mensalão

2-) Crise "institucional"

3-) Propaganda de Celular

4-) Polícia Militar e Guarda Civil

5-) QUALQUER coisa relacionada a Big Brother ou alguém que tenha participado deste troço

6-) Mensalão, crise política, José Dirceu, Roberto Jefferson, Severino Cavalcanti, Lula e similares. Socorro.

vendredi, septembre 02, 2005

 

Mais Katrina

O jogo de empurra-empurra começou, e vai ser coisa séria. As apostas estão altissímas. O objetivo final será derrubar a presidência de Bush. Katrina e o "Quem perdeu New Oleans" vão ser pivotais para o segundo mandato de Bush como o Onze de Setembro foi para o primeiro.

PATRICK BUCHANAN.


"Quatro dias antes já vinham anunciando que [Katrina] iria passar pela região, mas o senhor, o rei das férias [Bush], em seu rancho disse nada mais que: "é preciso se retirar". Não disse como (...) É a mentalidade do vaqueiro"


HUGO CÈSAR CHÀVEZ

Então, o preço da gasolina nas alturas, talvez no país mais dependente do combustível no mundo. Uma mãe acampada na porta do rancho em que o presidente passa férias(E que era visto tocando violão enquanto o Katrina riscava New Orleans do mapa) e agora um furacão devastando boa parte do sul do país, com estimativas de centenas de mortos e cenas que já são vistas como dignas de país africano, enquanto críticas de todos os espectros ideológicos surgem com a descoberta de corte de verbas dos bombeiros nos meses anteriores à tragédia de que um terço da Guarda Nacional desses estados estava no Iraque. Esperemos pelas pesquisas de popularidade. Embora duvido que os democratas sejam capazes de aproveitar esse momento singular.

Afinal, os republicanos não evocavam a questão da segurança para eleger Bush? Que segurança é essa, hein? E o que ocorrerá quando não apenas um furacão destruir os diques de New Orleans, inundar a cidade, com um plano de evacuação e realojamento de desabrigados que vira alvo de críticas, nesse caso, corretas de Hugo Chávez, mas quando a Al-Qaeda, após ter conseguido isolar os Estados Unidos dos seus aliados europeus, decidir se voltar novamente a atacar alvos domésticos dentro do país? Já tentaram explodir uma bomba suja no centro de Washington D.C. Imagino se as cenas de New Orleans se repetirem se resolverem explodir metade do centro de Boston ou de Los Angeles.

jeudi, septembre 01, 2005

 

Katrina

Um quadrinho que me tocou muito recentemente é a série "Y-The Last Man", de Brian Vaughan e Pia Guerra. A história versa basicamente sobre um mundo em que todos os seres com cromossomos Y morrem, incluindo cromossomos e fetos, com exceção de um único cara(Yorick Brown) e seu macaco de estimação. Bem, basicamente o planeta entra num estado de colapso, com as mulheres sobreviventes se matando por pedaços de comida, e numa briga pela sobrevivência, não raro tentam matar uma à outra. Inclusive a trama se desenvolve com desenlaces como de lésbicas feministas que tentam matar as mulheres e claro, nosso protagonista, com soldados israelenses dispostas a entrar em guerra com os Estados Unidos pelo domínio sobre o último homem do planeta.

O roteiro do Vaughan é muito bem amarrado e nota-se a forte pesquisa que ele para a série. Mas eu imaginava que ele exagerava. Não mais, depois de ver as cenas de saques em New Orleans com a passagem do Katrina.

***

Tanto o esquerdista Norman Solomon quanto o conservador Paul Craig Roberts notaram o óbvio: o resgate no Missipi e na Lousiana foi tão falho porque boa parte da Guarda Nacional estava no Iraque(Segundo Solomon, correspondendo a um terço da Guarda nesses dois estados).

De qualquer forma, depois de uma noite de sono, amanhã, desenvolvo melhor esse tema. Zzz...

mercredi, août 31, 2005

 

Criança outdoor

Eu, como educador, sou contra o uso do uniforme. Muitas escolas são incapazes de controlar brigas, uso de drogas e grupos de alunos que agem praticamente como gangues e em especial nas escolas da rede estadual há uma falta crônica de inspetores. Controlar quem usa uniforme se torna um esforço bastante grande e exige pessoal que poderia ser útil em outras funções. Além do mais, vestir a criança é direito e dever dos pais.

Quando se fala em distribuição gratuita de uniformes, eu sou mais contra ainda. É um gasto desnecessário e alto pros contribuintes, sem tanta razão. Quem anda pelo metrô ou pelos trens da CPTM frequentemente vê adultos com uniformes escolares antigos doados pela prefeitura.

Agora, a idéia de se colocar anúncios nos uniformes a coisa piora ainda mais, como a Prefeitura de São Paulo e a ABRAVEST querem fazer. Os pais, além de terem que vestir o seu filho com uniformes, terão que aturar propagandas. Como se já não tivessemos propagandas demais nas nossas vidas(Não sem motivos) . Isso sem contar que o negócio vai ser uma pechincha para as empresas(O Diário fala em retorno de pelos menos 100%), que em troca de roupa, ganhariam exposição praticamente permamente por anos. Como o próprio presidente da Abravest, Roberto Chadad admitiu: "O retorno é excepcional. A criança jamais vai esquecer o produto, é marketing para mais de vinte anos". Bem, é o negócio favorito do PSDB: projetos ótimos para as empresas, e péssimos para os contribuintes.

Para variar, assim quando o sistema de ciclos foi implantado na rede estadual de ensino, nem os pais nem os professores foram consultados. Aliás, esse trecho da reportagem é genial: "Pinotti diz ter feito uma pesquisa informal com as crianças em três escolas que visitou recentemente. Recebeu a "aprovação" depois de dizer que, com os R$ 70 milhões que gasta por ano com as roupas, fará mais escolas.
Como se isso fosse um debate sério.(E sim, cobraremos as escolas então. A quantidade de escolas que o governo estadual em onze anos do PSDB construiu é minúscula).

E claro, ninguém falou em licitação. Num negócio tão lucrativo como esse, é de se desconfiar que algum tipo de troca de favores possa ter havido. É díficil acreditar que um acordo tão lucrativo como esse tenha surgido do nada.

 

Estacionamento de shoppings

Como hoje acabei comprando o jornal Diário de São Paulo(uma versão diet e voltada para São Paulo do Globo da cidade do Rio de Janeiro) para verificar a parte de cinema(Sem muito sucesso), estou com algum assunto.

Aliás, fala sério, como aquela coluna do Ancelmo Gois está fraquinha. Ainda não consigo acreditar que os blogueiros cariocas citem tanto esse cara...
***

A Assembléia Legislativa de São Paulo inventou de aprovar um projeto de lei que isenta o consumidor que comprovar gastos de no mínimo R$ 40,00 de ter que pagar pelo estacionamento. O autor do projeto, José Dilson(PDT), afirma que "Nada mais justo que o cliente tenha compensação".

Errado. Quem define isso é a velha relação entre cliente e fornecedor, o mercado, não um projeto de lei. O Shopping West Plaza oferece não só ao consumidor, mas a qualquer um, seja se for um mendigo ou um cliente caríssimo, ônibus gratuito entre o shopping e a Terminal da Barra Funda. Não há lei nenhuma obrigando-o a isso, mas em compensação, é um dos fatores que fazem do lugar um dos shoppings mais populares da cidade. O Shopping Light chega a cobrar pelo uso do banheiro, e não a toa vive vazio.

Aliás, como já disse, impressionante como os deputados e vereadores se preocupam com a pobre classe média/alta que utiliza esses lugares. Nem é um controle de um bem essencial ou usado pela classe baixa.

***

Aliás, em muitos países da Europa, tenta-se proibir estacionamentos nas regiões centrais das grandes cidades, para tentar inibir o uso do carro. Aqui querem impor a gratuidade...

 

Notas rápidas

Jude Wanniski, um dos colunistas mais controversos do meio político americano, conservador, ex-editor do Wall Street Journal, voz forte do movimento anti-guerra, morreu aos 69 anos.

Grande perda.

***

A revista "Mundo Estranho" publicou um bizarro ranking das Dez Piores Capas da Playboy. Como se a concepção do ranking não fosse por si rídicula e um tanto quanto machista, os critérios de escolha são meio estranhos. Hein? Vanessa Campos e Debora Rodrigues no Top Ten e NENHUMA dessas ridículas estrelas de reality shows?

Fala sério.

***

Se bem que é legal uma revista da própria Abril sacanear outra.

***

Tomas Young estava na mesma Sadr, no mesmo dia 4 de abril de 2004 em que Casey Sheehan, morreu(Casey é o filho de Cindy, aquela que está acampada no rancho de Bus em Crawford, Texas). Tomas, ao invés de morrer, ficou paraplégico. E ele também quer conversar com Bush. Entre outras coisas, ele quer perguntar por quê Bush cortou o financiamento das pesquisas com células-tronco, que lhe poderiam retomar os movimentos das pernas.

Ouch. Isso sim parece uma boa saia justa.(Via Antiwar.com)

 

Eu e a PM

É meio assustador. Eu não me lembro de uma única vez que eu fui salvo de algum tipo de assalto ou coisa do gênero pela Polícia Militar. Duas vezes, um moleque veio com aquela lorota de assalto, uma vez no centro de Campinas, outra na Avenida Paulista. Claro que moleque desarmado nenhum vai assustar quem já deu aula para rede estadual de ensino.

Mas me lembro de *várias* vezes em que a Polícia Militar cometendo abusos de poder. Lembro-me de uma vez que um PM quis arrombar a porta do banheiro em que eu estava num bar em Pinheiros, São Paulo. Agora, a onda dos caras é fazer blitzes diárias nos ônibus que chegam em Itatiba vindos de Jundiaí, revistando todos os passageiros(Se muitos reclamam de serem fichados ao adentrarem um país estrangeiro, imagina ser revistado ao chegar na sua própria cidade). Bem, cadê os manés que reclamavam da pobre dona da Daslu, que teria sido molestada pelos Policiais Federais?

 

A única coisa boa da lei do desarmamento

Muitos tem reclamado que a Lei do Desarmamento desarma as Guardas Municipais. Ao meu ver, justamente a única coisa boa deste projeto de lei é justamente isso.

Como se já não tivessemos que conviver com uma Polícia Militar agressiva e incompetente, alguém inventou este verdadeiro frankenstein, que são as Guardas Municipais. Guarda Municipal, a rigor, é demagogia pura. São pessoas que não tem o menor treinamento para polícia, com inquérito e investigações(Até por quê, combate à criminalidade é algo bem mais complexo que colocar guardinha em ruas centrais da cidade). Geralmente se envolvem com abusos do poder e agressões. Até por quê, Guarda Municipal não pode prender ninguém.

Não sei direito para quê isso serve, que ao meu ver só resulta em gastos ao contribuinte. Eu nunca consegui achar Guarda Municipal que conseguisse fornecer as informações mais simples. Colocar essa cambada com arma na mão é uma irresponsabilidade tremenda.

***

Aliás, outro ponto que o pessoal do "sou da paz" deveria discutir é o desarmamento da Polícia. Em São Paulo se vê policiais com armamento pesado em ações rotineiras, na rua. Armamento que deveria se limitar a ações especiais, como confronto com traficantes ou rebeliões de presídios.

Até por quê, não raro essas armas da polícia caem na mão dos criminosos por meio de furtos.

lundi, août 29, 2005

 

Passando o recado

Recebi o email do Antônio Pastori, analista do BNDES que quer retomar o trem entre a Central do Brasil e Petropólis, e repasso:

Prezados

Vcs podem muito me ajudar na divulgação dessa idéia de reativção do Trem da
Serra de Petrópolis. Por favor, mandem e-mails para a redação de O Globo:

cartas@oglobo.com.br ou, plantao@oglobo.com.br

com os seus elogios, críticas, questionamentos, pedidos de mais informações
sobre a matéria "O TREM PODE SUBIR DE NOVO A SERRA", da jornalista Alba
Valéria Mendonça, pulicada no dia 27/08/2005, cujo espaço não deu pra
publicar certos esclarecimentos importantíssimos.

Os jornais, ao perceberem que há interesse dos leitores sobre o assunto,
costumam dedicar mais espaços à matéria e assim, pode ser que os outros
jornais venham a se interessar pelo assunto.

Garanto pra vcs que o projeto tem viablidade técnico-econômica& financeira.

Contudo, a decisão política é a chave do sucesso, principalmente ao tratar
de questões ligadas às desapropiações.

Obrigado, valeu !

Pastori

ps: amanhã darei uma entrevista para Radiobrás.

 

Cursos de inglês

Curioso como tem curso de inglês promentendo fazer seus alunos falarem inglês em não sei quanto tempo, geralmente seis meses ou um ano. O inglês é uma língua relativamente simples, mas com uma fonética e uma gramática bastante diferente da nossa. Daí, que muitas vezes mesmo uma pessoa com um bom vocabulário e um bom nível de leitura acaba escrevendo inglês numa estrutura latina, com frases que soam incompreensíveis para nativos da língua inglesa.

A língua também é feita de um sem número de expressões, a maioria que não faz sentido nenhum se traduzida a outro idioma. Não é lá simples absorver um bom número de expressões em inglês, e saber trocar a que você possui por outra. Falar, com desenvolvimento, solto, isso se ganha num curso.

Claro, ter um bom vocabulário e um bom nível de compreensão em leitura e audição numa lingua estrangeira não é tão díficil, e bastante importante se você tiver pretensões intelectuais: seja uma pós-graduação, seja escrever. E sim, para isso um curso ajuda muito para se ter uma base, que pode e deve ser treinada por fora, com leituras diversas.

Mas, daí querer falar e escrever numa língua estrangeira, assim, do jeito que os cursos de inglês prometem, nem em sonho.

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Outra piada são os cursos que prometem ensinar com música e filmes. Isso tende a não funcionar(Assim como os cursos voltados à conversação, como se conversar com alguém que fala um língua estrangeira tão mal quanto você fosse mudar alguma coisa).

Se fosse assim, eu falaria fluentemente espanhol, flamengo e alemão.

samedi, août 27, 2005

 

Guerra é guerra

Aviso de um site de trocas de fotos de pornografia:

"Se você é um soldado americano alocado no Iraque, Afeganistão ou qualquer outra zona de combate, e quiser se tornar um patrocinador gratuito para este site, você pode postar fotos que você ou seus colegas tenham tirado enquanto vocês estavam em missão."

Sim, exatamente. Os soldados postam fotos de mortes dentro do Iraque ou Afeganistão em troca de acesso à fotos de pornografia. As fotos, em si, não mostram cenas de tortura como aquelas de Abu Graib(Embora haja cenas revoltantes, como uma em que soldados americanos acenam alegremente para a câmara, atrás de um corpo de um iraquiano carbonizado), mas são bastante cruas. Há tantos soldados quando insurgentes mortos, o Iraque de fato parece com uma espécie de inferno para os americanos e bem, querendo ou não, é um rico material sobre a guerra que não costuma aparecer na "grande" mídia.

Se você tiver estomâgo, confira aqui. (Via Antiwar)

 

Eu e a esquerda

Um dos momentos em que eu perdi a fé na esquerda de vez(Não que eu tenha tido alguma fé nela) foi quando fui censurado por uma colega, professora de História, por dizer que boicotava a Coca-Cola por causa de Israel. Segundo ela, os "judeus eram um povo oprimido" e que deveríamos lutar contra o "imperialismo", não contra Israel.

Tentei explicar que Israel recebia dez bilhões de dólares por ano dos Estados Unidos e que era, bem, o principal aliado do imperialismo americano, mas não adiantou.

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Outro momento que eu vi o tamanho do buraco foi quando ouvi, num burburinho de organização de uma chapa de Diretório Acadêmico um cara dizendo que trabalhava com a criação de textos publicitários, que ganhava bem, mas que queria largar o emprego porque era um trabalho "emburrecedor".

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Psra falar a verdade, o grande momento em que acabei caminhando lentamente para uma espécie de libertarismo meio anárquico, jogando fora qualquer resquício de esperança na esquerda foi na faculdade. Todo mundo da minha classe reclamava da qualidade do curso em conversas reservadas. Eu ia lá, fazia uns abaixos-assinados. Era um sacríficio conseguir gente para assinar(Eu pensava, "Porra, é só assinar um bendito papel") e claaro, aqueles que usavam camisa do Che Guevara, adoravam o PT e idolatravam o MST eram os últimos a assinar(Também eram aqueles que ficavam namorando quando surgiam protestos do DA na Reitoria contra os aumentos de mensalidade). Eu era um dos únicos a querer fazer algum tipo de mobilização. Lembro-me de uma vez que todos aqueles que reclamavam do curso em reservado ficaram bem quietinhos quando surgiu uma reunião da classe com a coordenação do curso.

Eram basicamente pessoas que adoravam em falar em luta e mobilização contra o governo brasileiro e o americano, mas que eram incapazes de se mobilizar contra um grupo de professores de faculdade.

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E claro, teve o momento em que fui chamado de "reacionário" por dizer ser contra o Pro-álcool. Como, se alguém, além dos usineiros e dos ricos donos de automóveis, tivessem sido beneficiados por aquele desastre.

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Hoje adoro passear pelos prédios de Humanas da Unicamp e da USP só para dar risada com os cartazes falando mal do tal "mercado", exigindo bolsas(isso de quem tem o estudo custeado com quase dez porcento do ICMS do estado que mais arrecada na federação) ou alguma coisa que o valha.

 

Rápidas

Sábado é mais um insuportável "McDia Feliz". Eu não gosto do McDonald´s, acho a decoração horrível, a comida um lixo, o atendimento porco e frio, tudo isso a custos altos. Mas cada um gasta seu dinheiro da forma que achar mais apropriado.

Mas, francamente, é meio hipócrita uma empresa conhecida por pagar um dos piores salários dentro dos EUA, já ter demitido um funcionário palestino na filial israelense por falar árabe no trabalho, além de financar o lobby pró-Israel, de querer bancar a humanitária.

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A Jennifer Loewenstein escreveu o melhor texto sobre a "retirada" israelense de Gaza. Eu pensei em traduzir trechos para publicar aqui, mas o antigo é longo e irretocável. Vale a pena ser lido por inteiro, para quem souber inglês.

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Eu estou pensando em transferir este site para minha conta pessoal de email(www.andrekenji.com.br). O grande problema é que eu não estou conseguindo instalar nem o Wordpress nem o Nucleous. Ainda não sei se de fato concretizo isso: minha meta é ir colocando toda minha produção pessoal, como fotos e desenhos, no site, e isso ocupa espaço.

Além do quê, eu não saberia o que fazer para evitar o spam de comentários, que impera em sistemas desse tipo(Que é precisamente a razão que me levou a deletar alguns).

mercredi, août 24, 2005

 

E o Iraque?

Não existem prospectos dos Estados Unidos conseguirem estabilizar o Iraque. Até agora, cerca de duas mil soldados morreram. Em um ano ou dois, alcançaria-se aí a soma de mortos do onze de setembro. Há tropas para tanto? E pior, há disposição política para tanto? Até quando que os americanos irão suportar ver tantos jovens mortos? E sim, financeiramente falando, até quando os americanos irão suportar, financeiramente falando, até quando que o conamericano irá conseguir financiar uma guerra que já é mais cara que o Programa Apollo ou que o sistema federal de Intestate Highways?

Por outro lado, uma retirada das tropas seria vista como uma derrota pelos árabes e poderia, como Juan Cole diz, colocar o país em guerra civil, que se espalharia pela região. Além de, claro, fortalecer, e muito Bin Laden. De qualquer forma, a ocupação só tende, em especial a longo prazo.

Ou seja, não há uma saída agradável, ou que não configure derrota americana, para a situação. E, o que ocorrerá quando a Al-Qaeda, decidir parar de atacar os aliados dos americanos para atacá-los?

 

Cumpra seu dever patriótico neste sete de setembro

Muitos prefeitos aproveitam o Sete de Setembro para fazer o tradicional desfile com as escolas. Não é aquele desfile com as crianças marchando, é sempre alguma aberração meio carnavalesca, com as pobrezinhas das estudantes fantasiadas de regiões do Brasil, com muita lantejoula, cartolina e outras bobagens. Cumpra seu dever patriótico, leitor: boicote essas festas. Se seu filho estudar numa escola municipal e sua cidade fizer algo assim, não autorize que ele participe. E, se não tiver filho nessa situação, não compareça. E se possível, pressione seu prefeito e o diretor de escola contra a realização desse tipo de coisa.

Prefeitos adoram fazer esse tipo de festa porque é propaganda política feita com a infra-estrutura das escolas, dinheiro do FUNDEF e do orçamento da educação. Na prática, significa que tanto alunos quanto professores perdem tempo com a preparação destes ensaios. Tempo que deveria ser gasto estudando. E francamente, não consigo ver valor pedagógico nenhum nesse tipo de coisa. Outro ponto pior é que isso vai contra a idéia de autonomia das escolas. Elas não escolhem se vão participar ou não, e geralmente esses desfiles são organizados longe das comunidades das escolas.

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Outra festa incrivelmente cretina que as escolas insistem em realizar é a da Primavera. Eu não noto nenhum aumento da quantidade de flores ou de verde nessa época do ano. A Quaresmeira, uma árvore muito comum no Brasil, tem sua floração no inicio do ano, geralmente ficando sem flores nos outros meses(Inclusive na dita primavera), por exemplo. Dependendo da região, na primavera se têm menos, não mais flores.

mardi, août 23, 2005

 

A volta do trem de passageiros?

Há um plano, a primeira vista interessante, se retomar o transporte ferroviário de passageiros entre Rio e Petropólis. Segundo Antônio Pastori, o autor do projeto:

" reassentar
6 km de trilhos no antigo leito do trem da Serra da Estrela, que ligava o
Bairro do Alto da Serra, em Petropolis a Vila Inhomirin, na baixada,
revitalizando esta estação e construindo uma nova, nas proximidades do Alto
da Serra.

Estimativas iniciais dão conta de algo entre R$ 15 a 20 milhões de
Investimentos para infra-estrutura viária + estações + desapropriações.

O Trecho Vila Inhomirim-Estação Dom Pedro II, no Rio, ainda existe (tem 48
km) e ainda é operado pela CENTRAL (ex-FLUMITRENS).

O percurso todo (Alto da Serra-Estação Dom PedroII) tem 54km e poderia ser
feito em 1,5 h. O veículo recomendado é um VLT movido a gás natural (segundo
estudos da COPE) com capacidade para 400 passageiros sentados. Uma
locomotiva cremalheira "empurraria" o trem Serra acima, e desceria
"freiando", serra abaixo. A tarifa seria de ~R$ 15,00/pasageiro. Nos finais
de semana, operaria como trem Turístico, explorando as belezas da Mata
Atlântica da Serra da Estrela.

Porém, um dos aspectos mais importantes seria a ampliação das alternativas
de mobilidade para a população da Cidade de Petrópolis (e Região) com um
novo modal, mais eficiente (rapidez e economia) além de ser ecologicamente
correto, ficando longe dos acidentes, congestionamentos e das balas perdidas
da Linha Vermelha."

Bem, em tese a proposta é interessante porque seria de fato uma ligação ferroviária entre duas cidades importantes, tanto do ponto de vista econômico quanto turístico. Na prática, claro, seria algo mais próximo do trem que liga Pindamonhangaba à Campos do Jordão, em São Paulo. Afinal, uma hora e meia para percorrer menos de sessenta quilômetros é tempo demais. E quinze reais pela distância dinheiro demais.

O passeio tem bastante interesse turístico e querendo ou não, este trecho suprimido pela RFFSA nos anos 60, é talvez, do ponto de vista histórico, o mais importante do país(Bem, foi nossa primeira ferrovia). De qualquer forma, o VLT à gás parece ser uma idéia interesssante para outros trechos ferroviários usados para cargas, em especial aqueles que passam por locais de interesse turístico.

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O Estado de São Paulo, 20 de agosto, informa:

"Um estudo que custou R$ 1 milhão, pago pelo governo espanhol, indicou
a viabilidade técnica e financeira de um trem rápido entre Campinas e
São Paulo. O resultado foi entregue esta semana pela Embaixada da
Espanha à Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos. O projeto
está orçado em R$ 2,7 bilhões. Os trens poderiam percorrer o trajeto
em 50 minutos e a tarifa ficaria em R$ 12,60."

Há dúvidas se esse projeto de fato se concretizará. O sistema Anhanguera-Bandeirantes, que liga a região de Campinas à São Paulo, de fato se aproxima do saturamento. Está se construíndo uma quarta faixa na Bandeirantes, utilizando o largo canteiro entre as duas pistas. Mas sabe-se que não dá para se colocar faixas a mais infinitamente, até por quê há a necessidade de um canteiro central para se previnir acidentes.

Por outro lado, até agora, não se há um plano concreto para isso. Fala-se muito em se construir uma linha utilizando o canteiro central da Bandeirantes, mas há vários problemas com essa idéia. Há vários viadutos e pedágios no meio do caminho, tanto em Jundiaí quanto em Campinas a rodovia passa bem longe das regiões centrais. Creio que com a quarta faixa na rodovia, isso fica até inviável. A opção de se utilizar o trecho já existente? Bem, entre a Luz e Francisco Morato o tráfego de trens de subúrbio é intenso, o trecho tem mais de cem anos de construção e certamente exigiria retificações, além de ser usado para cargas. O trecho entre Campinas e Jundiaí encontra-se atualmente nas piores condições possíveis(com favelas no entorno da linha) e teria que ser reformado quase do zero para se ter um uso de tráfego intenso, a alta velocidade.

Não vi muita seriedade no que o governo do Estado falou até agora. Colocar a estação de Campinas fora da área central da cidade, como estava se falando, seria um tiro no pé. De qualquer forma, é uma proposta que se torna mais necessária a cada dia. Não só pelo trânsito das duas cidades, mas pelo fluxo dentro do sistema Anhanguera-Bandeirantes.

lundi, août 22, 2005

 

Os liberais e o Brasil

A turma que se diz liberal no Brasil costuma reclamar do seu pequeno número e que são vilanizados pela "esquerda". Olhando de perto, bem, não é surpreendente que sejam em número pequeno e vilanizados. Ou mesmo que o liberalismo seja vilanizado, já que muitos tendem a relacionar o liberalismo não â grande tradição de Adam Smith, David Ricardo, Thomas Jefferson, Ludwig von Mises ou à Murray Rothbard, mas ao pseudo-conservadorismo que na prática é uma patética justificação do egoísmo.

Eu não concordo com tudo que os conservadores tradicionais americanos(Ou, também chamados de paleo-conservatives) ou com os libertários de livre-mercado americanos. Discordo fortemente dos primeiros com relação à imigração e da participação estatal no mercado em si e acho que os segundos, por exemplo, se esquecem que o uso desenfreado dos automóveis só foi póssível graças ao subsídio estatal à construção e manutenção de rodovias. Também não acho que eu precisaria ter um rifle em casa, por exemplo. Mas é um povo bastante coerente, com uma filosofia coesa, de princípios. Por isso que ambos grupos se opuseram a Guerra ao Iraque: sabiam dos custos que isso traria para os constribuintes americanos, além de ser uma afronta à propriedade privada e à própria vida dos iraquianos.

Por outro lado, não é de se admirar que qualquer movimento ligado ao liberalismo/conservadorismo político não emplaque no Brasil. A maioria destes defende um conjunto de valores e idéias que é insuportável no seu todo. Há a tola obssessão por George Walker Bush, que mantém subsídios e barreiras comerciais à vários setores da economia, além de manter um dos maiores déficits da história americana. Ora, isso se aproxima mais de uma social-democracia européia do que do conservadorismo ou liberalismo econômico. Assim como a política de que os americanos devem trazer democracia ao Oriente Médio.

Outro ponto: nem o liberalismo nem o conservadorismo são contra a caridade ou acham que os pobres estão nessa situação porque merecem. Só não acham que o Estado deva se prestar a esse papel, mas sim que isso deve ficar à cargo da iniciativa privada, numa atividade que deveria ser financiada por doações dos cidadãos, não dos seus impostos. Aliás, eu não consigo ter muita simpatia por pessoas que sejam contra a caridade.

Nossos liberais frequentemente se esquecem que, o grande braço opressor do Estado não são os coletores de impostos, mas o Exército e a polícia. Num país em que a polícia forja provas, espanca manifestantes ou sai simplesmente atirando em quem vê na rua, seria de se imaginar liberais protestando contra tal atitude. Infelizmente, não é isso que ocorre, com uma certa passividade ou mesmo complacência com a morte de criminosos na mão da polícia. Uma frase bastante citada pelos libertários americanos é aquela de Randoulph Bourne: "A guerra é a saúde do Estado". O conceito de guerra se baseia na idéia de sacrifício coletivo em prol da patria ou de um falso conceito de segurança geral. Guerras significam conscrição, estados de sítio, toques de recolher, impostos e mais impostos, títulos de guerra, controles de matéria prima e de vendas de empresas, embargos. Murray Rothbard, de forma bem incisiva, explica nessa entrevista sua posição com relação à guerra. Também não é segredo a razão pela qual grande parte dos grandes liberais foram pacifistas.

Claro, há a histérica paixão pelos Estados Unidos. Claro, o ódio pelos Estados Unidos que boa parte dos adolescentes metidos à socialistas têm é bobo e infantil. Mas isso não tira o fato de que, num certo país, você não baba ovo para outro país que não seja o mesmo dos seus compatriotas sem ser mal visto. Francês que fica babando ovo para a Inglaterra, ou americano para o Canadá inevitavelmente é mal-visto.

O liberalismo em si é uma grande filosofia. Num estado em que os pobres proporcionalmente pagam mais impostos em troca de quase nenhum serviço por parte do Estado, poderia se transformar em algo bastante atrativo. Mas, infelizmente, se ele continuar a ser relacionado com essa salada que se vê pela internet, não vejo muitas chances.