Contra o Consenso: mai 2005
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mardi, mai 31, 2005

 

Dúvida de um milhão de dólares...

Já que falam tanto de politicamente correto, o governo federal irá abolir termos como "preto", "pardo" ou "amarelo" que aparecem em seus próprios formulários(Exemplo, formulários médicos ou do Exército) e classificações oficiais, como do IBGE?

 

Cópia autenticada e firma reconhecida

Um inimigo que os liberais brasileiros deveriam dar mais atenção é a burocracia. Ela muitas vezes é tão prejudicial à economia quanto altos impostos, e é muito mais fácil de ser combatida. Diminuir imposto é sempre complicado por quê ninguém quer ceder verba, mas burocracia só favorece cartório.

Exemplo: firma reconhecida e cópia autenticada. Não bastasse você ter que provar que não está fraudando um documento toda vez que dá entrada com um processo na Receita Federal(O que é absurdo), cada vez mais o processo por trás disso torna-se mais complexo. Agora, além de autenticar cópias de documentos, exigem um carimbo de quem copiou na parte de trás da folha e cada vez mais o grau de exigência de uma assinatura frente ao seu cartão de assinatura num cartório é cada vez maior. É um tal de ir atrás de tal cartório porque só tal cartório tem assinatura de Joãozinho, ou de correr atrás da Mariazinha porque sua assinatura mudou um tracinho e não é reconhecida pelo cartoriozinho bonitinho.

É uma coisa sem sentido: há uma diferençazinha entre a assinatura de contrato e lá vai o pessoal atrás de assinatura de sócio tal, as vezes em outra cidade, sendo que as vezes o cara está longe de uma máquina de fez. Isso sem contar o custo. Não seria relativamente simples eliminar dentro das instituiçoes públicas a exigência dessas duas palavras? É um teatrinho de mau-gosto, e facilmente evitável.

 

Citação da Semana

 

A Paulista é de todos


Avenida Pedro Alvares Cabral,

em frente do Parque do Ibirapuera,

com o infame Complexo de viadutos oão Jorge

Saad, o Cebolinha, ao fundo
Originally uploaded by Andre Kenji.

A região do Ibirapuera, que deveria ser um cartão postal para São Paulo, virou uma espécie de rotatória gigante. Há um gigantesco conjunto de avenidas, altamente poluidoras, com direito à mais uma aberração arquitetônica made in Paulo Maluf(O complexos de viadutos oão Jorge Saad, tal Cebolinha). A presença humana é praticamente impossível, tamanho o barulho da cidade.

O carro e trâfego se tornou há décadas o Deus da cidade. Por exemplo, não se usa mais o método de trincheira(Em que se escava um buraco, que é coberto com uma estrutura de concreto) para se criar obras subterrâneas. Só se usa o método de escavações mecânicas subterrâneas(Tatuzão) para não prejudicar o trânsito. Só que esse método é muito mais caro, o que prejudica inclusive o andamento das obras no metrô.

Agora, o prefeito José Serra quer colocar as manifestações públicas da Avenida Paulista no sambódromo, como a Parada Gay, a festa do Dia Primeiro de Maio ou mesmo de evangélicos. Eu acho a idéia um absurdo.

A Avenida Paulista é um natural ponto de encontro de São Paulo, um cartão postal da cidade, queira ou não. O tráfego pesado da avenida já é um empecilho e tanto para o uso dela como ponto de encontro comercial, turístico ou cultural. De domingo e feriados o tráfego na avenida é tão, mas tão pequeno que pode facilmente ser absorvido pela Alameda Franca e outras alamedas dos Jardins. Além do mais, além do sambódromo não ter nem um décimo do charme da Paulista é um local de muito dificil acesso à maior parte da população. Não, não é a mesma coisa. São Paulo não pode perder essas manifestações populares somente para agradar o "tráfego", o mesmo monstro que pauteia todas as decisões urbanas da cidade.

Pensemos por uma vez nas pessoas, não no carro.

lundi, mai 30, 2005

 

Corrida para 2006

Estaria Eduardo Suplicy sendo colocado para escanteio depois da questão da CPI dos Correios? Pessoalmente, acho que o PT corre o risco de perder uma carta importante no baralho. Suplicy tem um bom trânsito entre não-petistas e é uma carta importante estadualmente - ele tem carisma, bom trânsito entre mesmo entre não-petistas - e isso conta considerando o interior, politicamente bem conservador. O PT pode acabar perdendo a longo prazo ignorando as opções regionais e dando muita atenção para o aspecto federal.

Em São Paulo, se eles souberem bater nos pontos fracos do PSDB - o eleitorado mais à esquerda está insatisfeito com questões como saúde e educação, o eleitorado mais à direita está insatisfeito com questões como a FEBEM e pedágios(O que conta em lugares aonde viagens intermunicipais são muito comuns - podem ganhar. Mas aí teriam que jogar mão de Aloísio Mercadante(O mais provável) ou Eduardo Suplicy, numa campanha muito bem articulada. Marta Suplicy tem muita rejeição tanto na capital quanto no interior, apesar de ser popular na Grande São Paulo. José Genoíno fez uma campanha tão fraca que ficou muito queimado. João Paulo e Vicentinho tem pouca expressão em nível estadual. Alguns falam em Eloi Pietá, prefeito de Guarulhos, mas o PT sabe bem dos riscos que um mandato interminado têm, na segunda maior cidade do Estado. Além do quê, por mais que Guarulhos seja a segunda maior cidade do Estado, Pietá é pouco conhecido fora da sua cidade.

Geraldo Alckmin tinha como principal chamariz nas obras de despoluição e contra enchentes no Tietê, mas as inundações da semana passada foram um choque violento no que talvez fosse sua principal obra. Não há previsão de continuação do rodoanel nem grandes inaugurações de obras viárias para a época das eleições. A Linha Amarela-4 do metrô tem ritmo de construção bem mais lento, e as duas estações que deverão ser inauguradas em 2006 trarão pouco alívio ao sistema, alvo cada vez maior de críticas(esse trecho do metrô foi prometido pelo Orestes Quércia, quase quinze anos atrás).

Ele também não tem tanto carisma a ponto de eleger um desconhecido somente por quê este foi indicado por ele. Gabriel Chalita, da educação, é o único secretário estadual com algum carisma, numa área bem frágil do seu governo. Também existem poucas opções fora do secretariado estadual. José Serra, que deve sua vitória mais aos erros de sua adversária que os méritos próprios enfrenta uma fase bem impopular na prefeitura da capital. Por outro lado, os tucanos podem usar um certo ás na manga, ai com grandes chances de ganhar.

Só sei que a campanha eleitoral com certeza vai ser aquela baixaria.

***

No Rio, muitos já falam na possibilidade de Ciro Gomes se candidatar. Alguns fluminenses o consideram uma boa opção, que talvez fugisse da mesmice política local(Embora Gulherme Fiúza o considere um novo "Garotinho"). Eu tenho algumas restrições a ele, porque acho que o Rio de Janeiro precisa ser governado por alguém que de fato seja fluminense e conheça bem o Estado, de uma vez por todas. Por outro lado, Ciro Gomes tem algum preparo administrativo, e é alguma coisa se considerarmos César Maia e a turma dos Garotinhos como opções.

De qualquer forma, ao meu ver o que o Rio precisa é de um governador que saiba que seu estado precisa ter algum tipo de integração política com seus vizinhos - em especial São Paulo e Minas Gerais- e com o governo federal. Não faz sentido governador do Rio querer ficar agindo como eterna oposição e com birra do governo federal por causa de refinaria ou coisa que o valha. Afinal, mesmo Aécio Neves e Geraldo Alckmin buscar negociar de forma um tanto ponderada com Lula.

Acho também que o próximo governo fluminense precisará pensar em obras de infra-estrutura, em especial na área de transportes. Se nada mudou em dez anos, tem trecho da BR-101 no norte fluminense em que as pontes não aceitam o tráfego de mais de um veículo, o que é ridículo. O governo federal precisa duplicar a BR-101 ou o governo estadual teria que abrir uma nova via de acesso à Campos e Macaé. Seria uma forma de industrializar o norte fluminense e ainda criar condições de desenvolvimento para a região noroeste do Estado. Há também a questão da rodoviária da capital, que é vergonhosa.

De qualquer forma, há anos que eu não passo de Queluz para poder avaliar o que ocorre no Rio de forma satisfatória. Espero a opinião dos fluminenses.

samedi, mai 28, 2005

 

A tal onda de democracia no Oriente Médio

O governo do Egito, que recebe mais dinheiro dos EUA que estes gastam com a Amtrak, o sistema de transporte ferroviário que corta o país, deu uma boa demonstração de democracia quarta feira, com sua polícia espancando manifestantes contra Mubarak ou permitindo que manifestantes pró-Mubarak os espancassem. Segundo relatos, uma mulher teria sido espancada por partidários de Mubarak com bastões e esmurrada, tendo suas roupas retiradas, vomitando na rua. Relatos falam de abusos sexuais contra mulheres. Isso na frente dos turistas e jornalistas. SEgundo Abdul Hamid Qandil, do Partido Kifaya, disse que era a primeira vez que essa humilhação e agressão ocorria no Cairo. Subentende-se então que longe dos olhares de jornalistas e turistas na capital a prática seja comum.

As reformas, que pretendem permitir que mais de uma pessoa participe das eleições presidenciais(E você achando que eleição com um só participante era coisa de desenho animado), são vistas como insuficientes pela oposição. Bem, era mais ou menos isso que tanto a Economist, a Veja e outros jornalistas falavam da tal onda de democracia no Oriente Médio?

Bem, isso é um detalhe: a Austrália de John Howard, um dos parceiros de Bush na guerra ao terrorismo, sempre tratou os manifestantes na base da porrada e os refugiados e aborígenes como lixo, e nunca deixou de ser uma democracia. Afinal, Hitler, Mussolini e Salazar usaram da democracia para chegarem ao poder.

vendredi, mai 27, 2005

 

Sou contra a CPI

Eu sou contra a CPI dos Correios. Não por causa de Lula, mas por quê a única coisa que CPI serve é torrar a paciência de quem acompanha o noticiário político. Investigação, apuração é coisa da Polícia Federal, do Ministério Público, do Judiciário. Não a toa, funções bem pagas e de formação exigente na maioria dos casos. Deputados e senadores tem formações que muitas vezes nem chegam ao ensino superior. Ademais, são funções técnicas, não políticas.

A CPI da Prostituição Infantil esteve longe de acabar com a exploração sexual de meninos e meninas no Brasil. O máximo que serviu foi de palanque para a deputada Maria do Rosário(PT-RS). A CPI do Banestado virou um circo, em que investigava de tudo, do Caso Waldomiro aos desvios de verba de Paulo Maluf(O que aquilo investigava mesmo?). Quem viu a cena em que o presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros(PSDB-MT), pede a prisão de Celso Pitta sabe que o cara não tinha preparo para presidir investigação alguma.

Lula e FHC tem razão ao quererem bloquear CPIs quando estão no poder e em incentivá-las quando estão na oposição. Tradicionalmente, no Brasil, a lentidão do Legislativo costuma ser uma grande pedra no sapato do Executivo. Quando há CPIs então, roubando atenções, essa pedra costuma aumentar.

Se CPI fosse solução, que se instituísse a CPI da Pouca Vergonha e estava tudo resolvido.

 

Pelo fim das Festas Juninas

Uma coisa que pouca gente consegue explicar é o motivo pelo qual chega maio e as escolas, por boa parte do país, mesmo no meio do Tatuapé, do Centro de São Paulo ou de outros locais aonde a maioria dos alunos nunca viram uma vaca na vida precisam parar tudo para ensaiar para festa junina. Festa Junina é festa religiosa, o que vai contra o Estado e o ensino laico. Pior, como é uma festa dedicada a celebrar três santos católicos ofende profundamente o público evangélico, que é uma parte considerável dos pais de filhos que estudam na escola pública. É uma dança metódica, que as crianças consideram maçante, há a questão de fazer parzinho(Que criança tende a não gostar, além de como invariavelmente existem mais meninas que meninas aparecem as meninas, geralmente as mais quietas, com roupa de menino).

Pedagogicamente ninguém consegue justificar direito a coisa. Os programas de Arte recomendam trabalhos de dança mais soltos, os de Educação Física dizem que essa não é tarefa de um programa de educação física. Além do mais, o tempo gasto com os ensaios poderia ser gasto com matérias como Matemática. O tempo que essas festas roubam costumam fazer muita falta sim.

Quem quer ver o filho dançando danças mais específicas que coloque-o numa escola de dança. A função da dança dentro da escola é outra. Festa Junina não é função da escola. D

***

O que muitas vezes justifica as festas é de que a APM, a Associação de Pais e Mestres da Escola, pública, precisa de verba. O que eu acho uma afronta: escola é para ser guiada por princípios educacionais, não por busca de verba. Além do mais, pais já pagam uma fortuna em impostos, não precisam patrocinar APMs. É muita cara de pau do governo, que muitas vezes não envia verba esperando que a escola arrecade dinheiro com os pais.

Há outro detalhe: há uma suspeita generalizada entre muitos professores da rede estadual de má-gestão e desvio de verba(Até porque as entradas desse tipo de conta são dificeis de rastrear). Uma ex-colega professora disse acreditar que nenhuma escola ficava sem ter irregularidades. Eu tendo a endossar a opinião dela.

Então, se você têm filhos na rede pública, não permita que eles participem de festas juninas. E não pague o carnê da APM.

jeudi, mai 26, 2005

 

Lula, Lula e Lula


Avenida Eusébio Matoso em São Paulo em obras no ano passado, com propaganda eleitoral ao fundo

Ontem, eu fuçava o site da revista Primeira Leitura e notei uma coisa curiosa: o site da revista ignorava que São Paulo, a maior cidade do país, havia sido inundada. Falava daquela CPI dos Correios(Que no máximo vai conseguir é torrar a paciência de quem acompanha o noticiário político, como quase toda CPI), mas não do fato de São Paulo ter passado um dia inteiro praticamente paralisada por causa da chuva. Talvez fosse politicagem, já que as enchentes atingiam em cheio o PSDB, mas, bem, a revista sempre deixou questões de lado. Mas de fato tinhamos uma revista cuja a redação de localizava no distrito paulistano do Itaim-Bibi, ao lado do Pinheiros que quase transbordou, ignorando um problema ao lado.

Ontem o Tiago chegou num ponto interessante: fala-se muito de Brasília quando se discute os problemas brasileiros e pouco do governo municipal e estadual. Uma birra minha com o "esquerdismo engajado" de São Paulo é que se fala muito de Lula, e pouco de Geraldo Alckmin, que, afinal de contas, é a antítese da esquerda. Cansei de ver gente falando em neo-liberalismo, mas poucos falando sobre o fato de ter gente apanhando a rodo da polícia militar na rua.

Eu tenho uma certa dificuldade de linkar muitos blogs porque eu não sei de que canto do país o sujeito escreve. Afinal, só se fala de Lula, Lula e Lula. Mesmo com problemas que são questões municipais(Educação) ou estaduais(Segurança a culpa é de Lula). Por exemplo, a maioria dos movimentos pela paz de São Paulo ainda insistem na idéia de só falar em governo federal para protestar sobre determinado assassinato. Parece que o Governador e o secretário estadual de segurança não tem responsabilidade sobre isso, só Lula.

Essa questão em si se torna um tanto séria, porque aí a base do sistema democrático da população fiscalizando o governo para poder escolhe-lo se torna ainda mais frágil do que ela já é. Afinal, as esferas mais importantes - municipal e estadual - são ignoradas. As políticas que de fato influem na sua vida, como a questão de transportes, segurança, educação ou saúde são questões estaduais e municipais. Basicamente, o que o governo federal nessas áreas faz é criar regulamentações e similares. É preciso colocar no centro das críticas não as futricas políticas de Brasília, mas o que seu governador e seu prefeito fazem.

Pessoalmente, Emídio, prefeito de Osasco, talvez seja o petista que mais me preocupe, talvez pela minha convivência com esta cidade, assim como outros prefeitos do PT. Mais que José Dirceu ou mesmo Lula.

***

Além do mais, precisamos esquecer por um momento fofoquinhas políticas e centrar fogo nas questões principais. Mais importante do que o fato de Lula estar se aliando ao PTB, ao PRONA ou a eei lá o quê são políticas de transporte, educação, saúde, segurança. Em São Paulo, por exemplo, eu nunca vi gente discutindo sobre a questão de transporte público. Fora do VLT da Baixada Santista isso não se discute. Poucas vezes vi discussão sobre algum tipo de metrô leve em São Paulo. O governo estadual discute conceder uma malha rodoviária(Dom Pedro-Ayrton Senna-Carvalho Pinto-Tamoios) que pode aumentar o pedágio pago numa viagem entre Campinas e o litoral norte de São Paulo em mais de vinte reais. O Rodoanel poucos discutem se seu custo-beneficio é favorável ao público. Poucos jornais falam do assunto. Mesmo políticas educacionais ou de segurança pública são ignoradas, com exceção talvez do desarmamento.

Pode parecer bobagem, mas será que se houvesse uma real discussão teríamos visto a construção de obras viárias que degradariam regiões inteiras, como o Minhocão? Ou ainda Paulo Maluf enterrando uma linha de metrô inteira num túnel debaixo do Ibirapuera? Afinal, a Lower Manhattan Expressway, uma via elevada que desalojaria dez mil pessoas e destruíria um bom sem número de prédios históricos em Nova York, foi deixada de lado por pressão popular.

Deixemos as fofocas políticas de lado. Vamos ao que interessa.

 

Comédia pastelão

Guerras costumam gerar produtos culturais. Alguns razoáveis, outros bons, outros nem tanto. Tanto a Segunda Guerra Mundial quanto a Guerra do Vietnã geraram dramas e filmes de ação. A Guerra ao Iraque de Bush, em vinte anos, corre o risco de só conseguir gerar comédias. A não ser que a coisa seja vista do lado iraquiano, só teríamos uma comédia de mal-gosto.

Já tem gente levantando a hipótese de que o sujeito preso e que aparece nos jornais de cueca não seria Saddam, mas um de seus numeros sósias. Se tal possibilidade for de fato verdadeira, seria a cereja no bolo na comédia de erros que a guerra ao Iraque se tornou(Bem, a comparação entre as duas fotos de fato abre possibilidade de serem fotos de pessoas diferentes).

Veja bem, já tivemos de tudo: desde de coisas como a mudança de nome da batata-frita, gente querendo devolver a Estátua da Liberdade para a França(Sério, isso chegou a ocorrer, embora o site dos defensores da idéia não exista mais), uma apresentação de um relatório no Conselho de Segurança da ONU que era plágio de trabalhos de estudantes, uma soldada rispidamente salva dos iraquianos que a haviam resgatado e a cuidavam num hospital, um americano que teria sido morto por americanos fantasiados de iraquianos, uma encenação da derrubada de uma estátua de Saddam.

É um assustador festival de trapalhadas atrás do outro. Se isso não significasse um rombo bilionário nas contas do contribuinte americano, a devastação do Iraque, com dezenas de milhares de mortes, seria engraçado.

mercredi, mai 25, 2005

 

Foto do ano


Esta é a foto do ano,. Marginal Tietê, ontem â noite, autor desconhecido.

 

Que coisa, hein, Geraldo e José?

A principal vitrine de Geraldo Alckmin para 2006 talvez seja a tal despoluição do Rio Tietê na capital. O governo estadual tinha colocado placas com textos como "Três anos sem enchentes no Rio Tietê", anunciava que as margens do Rio seriam transformadas num grande jardim/parque(Pelo fato deles estarem cobrindo as margens do Rio com concreto, duvido fossem conseguir plantar algo além de arbustos pequenos. Além do quê, entre duas vias de tráfego pesado, não dá para fazer parque, já que considerando o tráfego da Marginal, por mais que se limpe o Rio, ninguém iria se aventurar a passear nas margens do Rio), entre outros discursos grandiosos. A tal despoluição é coisa que se fala há mais de vinte anos. Eu me lembro bem de com uns nove ver pelas marginais um monte de dragas tirando lodo do fundo do Rio.

José Serra foi eleito com reclamando das enchentes na gestão anterior. Bem, uma semana depois do Rio Pinheiros, o grande afluente do Tietê na capital, ter aparecido com um monte de espuma, a cidade passa por uma das suas piores enchentes em um bom tempo. Tanto o Tietê quanto o Pinheiros e o Tamanduateí transbordaram(Alagando tanto as pistas expressa quanto local das marginais), o trânsito em boa parte da cidade ficou parado em boa parte da sua extensão, mais de trinta pessoas ficaram ilhadas, uma linha dos trens da CPTM estava parada de manhã. Até listas de discussão estão meio paradas, uma vez que várias empresas ficaram alagadas. Inclusive o Terminal Rodoviário do Tietê, o maior da cidade, esteve fechado até por volta do meio dia.

Que coisa, hein. Lembro-me do pessoal do PSDB atacando a gestão anterior por causa das enchentes(Agora, Serra diz que não havia o que fazer. Dã). Faz tempo que não se vê coisa tão violenta assim. Bem, já que eles reclamaram tanto, que resolvam. Eu acho que a enchente de ontem é um golpe duro para as pretensões políticas do governador, já que a Linha Amarela do Metrô, aquela a linha nova, está sendo construída num ritmo bem mais lento do que o anunciado, as duas estações na linha verde que serão inauguradas terão pouco efeito a curto prazo(Pô, isso é menos que o Quércia prometeu para linha!). Também não há grandes obras viárias para serem inauguradas(O trevo de Itu na Anhanguera, em Jundiaí, tem sido tratado com destaque), há muitas críticas dentro da segurança(Como na questão da FEBEM), educação e saúde.

***

Muito tem se falado na questão da popularidade do Prefeito José Serra. O ponto é o seguinte: a população está cansada do discurso de qualquer político querer colocar a culpa no antecessor. Então, ninguém mais quer ouvir Lula, Serra ou seja lá quem for colocando a culpa em FHC, Marta ou sei lá quem.

Serra prometeu coisas que ele sabia não poder cumprir. Sabia que na situação da prefeitura uma colaboração com o Estado para a construção do metrô seria de pouco valor. Provavelmente sabia que a integração gratuita Metro-Bilhete Único era uma aberração do ponto de vista técnico, que seria uma coisa de custo proibitivo e de que a própria estrutura do metrô não suportaria tanto trânsito(Tanto ele quanto a Marta mereciam pauladas por terem prometido essa asneira). Sabia também que a saúde era uma questão bem mais complexa do que parecia ser. Sabia também que enchentes são um problema sério na capital, e muitos técnicos afirmam que em regiões como o Aricanduva a única solução para as enchentes é mudando o bairro de lugar. Sabe-se que ele tem errado em vários pontos, inclusive com a saída de dois secretários importantes, em especial no tocante às greves no transporte público e em questões na saúde.

Bem, ele que aguente. Que aprenda a não prometer o que não pode cumprir, como se "planejamento" fosse um santo remédio para tudo.

mardi, mai 24, 2005

 

O desarmamento


Foto por jawngee.
Uma das grandes polêmicas entre os sites políticos é a questão do desarmamento. Eu sou contra a idéia, mas acho que têm havido exageros tanto dos defensores quanto dos inimigos da idéia.

Eu pessoalmente acho que armas de fogo são uma forma ineficiente de defesa pessoal para os tipos de crime existentes no Brasil. Pode ser uma forma de defesa eficiente contra invasores de propriedade desarmados, mas definitivamente de pouco adianta ter uma AR-15 se o bandido te pegar de surpresa com um cano para a testa, dentro do carro. Além do quê, há de fato uma série de riscos em se ter uma arma, em especial de acidente ou de reações precipitadas a assaltos.

Mas eu acho que isso se torna um problema de quem comprou, além desses problemas serem contornáveis por treinamentos e exames. Se o sujeito corre o risco de ser morto reagindo a um assalto, bem, aí é problema dele. Claro, existem aqueles que argumentam que quem compra uma arma se torna um risco para terceiros, mas acho isso em termos estatísticos um fator falso. Nos EUA, num país com mais de 44 milhões de donos de armas(*), a taxa de mortes é de 10,27/100 mil habitantes. Matanças e acidentes ainda assumem um papel de destaque na mídia, o que não ocorreria se fosse coisa trivial. Ninguém lê notícias do sujeito que bate o carro em Saint Louis ou em alguma Interstate qualquer.

Há outro detalhe: há perigos maiores para terceiros, não só em forma de poluição sonora e do ar como de acidentes. Como o carro, por exemplo. Poucos pensam em proibir carros, apesar dos transtornos e riscos que ele proporciona a quem não têm um. Eu já estive perto de morrer em atropelamentos(Várias vezes), mas ainda não vi uma arma de fogo na minha frente.( Não a toa, Eduardo Galeano faz uma boa comparação entre o carro e a arma de fogo)

Por fim, o Estado dificilmente consegue impedir uma venda se existe demanda e oferta por determinado bem. O Estado, mesmo com gastos altos, não consegue impedir a compra e venda de drogas, produtos piratas e produtos contrabandeados. Ele não consegue impedir a compra e venda inclusive de armas dentro do mercado negro- justamente aquele que alimenta os criminosos e boa parte dos sujeitos que matam terceiros em brigas de bar. A proibição, inclusive, poderia fazer com que pessoas passassem a comprar armas ilegalmente, sem treinamento ou controle. O que seria muito pior: uma pessoa sem treinamento não só seria um alvo potencial de acidentes como poderia ter sua arma furtada. E ninguém teria controle de quantas armas existiriam no mercado, e inclusive o tráfico ilegal de armas se tornaria uma atividade mais atrativa. Poderia, a rigor, aumentar a oferta de armas no mercado negro a longo prazo. São as armas ilegais que armam a criminalidade e incham as estatísticas de crimes. E lei nenhuma conseguiu controlá-las.

Claro, acho que há exageros em torno da questão. Acho que há violações bem maiores à individualidades no Brasil, não há garantias sérias de que uma população civil fortemente armada seja um fator de segurança, institucional ou politicamente falando. Discursos como "cidadão de bem" são maniqueístas(Já que muitos criminosos são pessoas com uma profissão que resolvem assaltar um banco ou num momento de fúria matam terceiros), há um certo exagero, ainda mais que armas não é uma defesa tão eficiente quanto parece ser. Mas, até agora, o que o desarmamento conseguiu foi fazer com que o dinheiro do contribuinte fosse gasto na compra e destruição de coleções que estavam largadas na casa de viúvas de colecionadores. E sim, que o controle das vendas de armas seria uma medida muito mais eficiente que sua proibição.

P.S: Anthony Gregory, autor libertário, faz um bom texto sobre o fracasso do governo americano em controlar tanto o porte de armas quanto de drogas. Concordo com ele que são duas proibições amplamente ligadas entre si, embora não seja tão simpático à questão das armas como direito humano. De qualquer forma, é uma boa leitura.

** Eu citei inicialmente quarente e sete milhões, mas os dados que pululam por aí variam entre algo entre 44 a 67 milhões.

 

Para quê serve mesmo?

Quando eu tinha nove anos, eu enchia o saco de todos os adultos ao meu redor perguntando sobre "para quê servia a Câmara de Deputados e o Senado". Para mim, na minha inocência infantil, não servia para nada. Eu continuo sem entender para quê serve aquilo. Leis? Num país em que se estabelece que o Estado tem dever de garantir transporte ao cidadão, num país em que ele é caro e ineficiente? Aonde você pode ficar preso numa cidadezinha porque o último ônibus que sai da cidade sai à cinco da tarde?

Aliás, pensar que Bush fica o tempo inteiro visitando escolas - ela ficou parado quando um avião bateu com um dos prédios mais altos na maior cidade do seu país - ou que Lula fica inaugurando fábricas, eu não consigo entender para quê serve o presidente. Aliás, se for para pensar no Judiciário e suas decisões absurdas(Sendo que se você não tem dinheiro para pagar advogados, não tem acesso a ele), não consigo entender para quê serve.

Para quê serve mesmo? Estado, governo? Bah.

lundi, mai 23, 2005

 

Colocaram LSD no meu chá?

A Veja desta semana estaria pedindo uma CPI, aquela sigla que a revista passou a segunda gestão inteira do Fernando Henrique criticando como um mero palanque para parlamentares ou alguma coisa do gênero?

Claro, pode ser alguma coisa que colocaram no meu chá.

p.S: Não, não leio a revista. Mas é o que parece pela capa..

dimanche, mai 22, 2005

 

Atrocidades de guerra

Há um novo vídeo feito no Iraque por tropas inglesas. Não é mais um caso de maltratos, mas sim de um soldado andando pela base com colegas de cuecas, alguns vestidos de árabes, outros de toalha, ao som de " This The Way To Armadillo", do Peter Kay. Por mais bizarro que seja, o vídeo conseguiu dar pane nos servidores do Ministério da Defesa, tamanha a popularidade.

***

Claro, as tropas inglesas não se limitaram a atrocidades contra o mal-gosto. Uma família iraquiana entrou com um processo por causa de Bahu Mousa, um recepcionista de hotel de 26 anos que teria sido espancado até a morte enquanto esteve em custódia dos soldados.

Segundo uma testemunha citada pelo The Observer, Kifah al-Mutari, os presos eram mantidos vendados, sendo privados de sono e ainda alvos de competições de chutes(!) entre os ingleses. Segundo Mutari, teria sido numa dessas sessões de tortura que ele teria ouvido Mousa gritar "Estou morrendo... sangue, sangue..".

Urgh.

***

Sexta feira, dois jornais, o The Sun de Londres e o New York Post, do Rupert Murdoch, o grande defesor da invasão ao Iraque, publicaram fotos de Saddam de cuecas. Segundo fontes militares citada pelo The Sun, a pretensão seria "de minar a resistência no Iraque". Hã? Hã?

Esse é o tipo de anta que o contribuinte americano sustenta com seus impostos?(Certo, a resistência iria parar de atacar os americanos após ter visto Saddam de cueca).

 

Fotografias e a liberdade


Foto tirada clandestinamente da estação
de Francisco Morato da CPTM

Originally uploaded by Andre Kenji.
Há uma boa frota de locomotivas da antiga FEPASA apodrecendo num antigo depósito em Jundiaí. São um material histórico importantíssimo, que está sendo perdido, sem uma devida documentação ou pesquisa. A prefeitura de Jundiaí, que administra o local, proíbe terminantemente que se proíba que se tire fotografias. Todas as tentativas de entidades como a ABPF e outros particulares de preservar material assim são sempre muito dificultosas. Veja bem, o Estado, no caso, além de não preservar e pesquisar o material, proíbe que o cidadão o faça.

Não entendo ao certo a probição em grande parte das instituições públicas brasileiras de se fotografar. Em vários museus, como no Museu Republicano de Itu, isso é proibido, assim como dentro dos trens do Metrô e da CPTM. São tipos de proibição que eu não entendo: mesmo no Louvre de Paris só os flashes são proibidos. Ainda mais que se paga entrada, em locais não raro sustentados pelos impostos do cidadão.

Se o Estado proíbe seus cidadãos de fazerem uma coisa simples como fotografar uma estação de metrô, é um sinal de que ele não titubea em coibir a liberdade dos cidadãos de forma muito mais séria.

 

Felipe IV, o esquerdista


A dita direita brasileira têm insistido na tese de que Hitler e Mussolini seriam de esquerda. Eu acho essa divisão entre esquerda e direita uma coisa besta, mas francamente, acho que historicamente os argumentos a favor deste argumento são tão bestas que nem mereceriam ser discutidos.

As bases do argumento são uma mera questão de semântica: "nacional-socialista"(Como se a própria palavra "nacional" não fosse contra o internacionalismo do comunismo da época e de que Hitler tivesse várias vezes reclamado várias vezes de que os marxistas tinham roubado o significado da palavra "socialismo" ou ainda trechos de discursos voltados aos trabalhadores ou coisas do gênero. Obviamente, por aí concluímos que Paulo Maluf é de esquerda, uma vez que sua principal obra viária, quando inaugurada, era conhecida como Rodovia dos Trabalhadores. O Partido Popular do José Maria Aznar seria de esquerda? E George Walker Bush, com seu "No Child Left Behind"?

Em termos práticos, não há grande diferenças entre regimes totalitários, de modo que querer ficar fazendo comparações entre Cuba ou entre o Chile de Pinochet sejam coisas como comparar tortura com eletrochoque ou por espancamento.

Há a fantasia entre a auto-intitulada direita que governos de direita são governos aonde o Estado é menor. Bobagem. Felipe IV, rei da Espanha nos tempos de Velásquez. seria um governante de esquerda? Afinal, o Estado e a burocracia na Espanha e nas suas colônias atingiam proporções assustadoras, as grandes propriedades eram dos amigos do rei(Aliás, a rápida queda da Espanha apartir de então, que se tornaria um país paupérrimo, e a rápida ascensão da Holanda e Inglaterra como maiores potências comerciais da Europa talvez seja a defesa mais contundente do liberalismo econômico). O Estado não permitia também que os individuos escolhessem sua religião, forçando muçulmanos, judeus e ateus a se converterem à força ou serem processados pela Santa Inquisição. Aliás, a maioria dos países de tradição católica, com exceção talvez da Polônia, Irlanda e alguns gatos pingados seja de ter uma burocracia e uma participação estatal na economia em doses cavalares. A mesma Igreja Católica adorada pela direita nacional.

Melhor ainda, seria o nosso regime militar de esquerda? Afinal, nos tempos dos militares a participação do Estado na economia e na vida dos cidadãos era muito maior. Os militares do Mobral, do Pró-Alcool, das barreiras comerciais, dos computadores Cobra, de um monte de obras estatais carissímas.

Uma simples olhada por textos neo-nazistas na internet já nos dá uma boa resposta. Não há nada que se possa ser relacionado com a esquerda. Atacam-se homossexuais, exaltam-se valores morais e familiares, o Exército. Esteticamente, Hitler seria o mais conservador possível. Ele perseguiria todos os artistas modernos da Alemanha, exaltando uma estética clássica, inspirada nos gregos e romanos. Ele patrocinaria Arno Breker, um escultor que seguia a mesma linha de nus inspirada nos gregos, romanos e renascentistas. Leni Riefenstahl, a cineasta do Reich, tinha uma estética clássica também. Suas bases de apoio sempre foram as classes altas da sociedade, como empresários(que usavam mão de obra dos Campos de Concentração) ou mesmo os advogados e outros profissionais liberais que formariam a SS. Não é algo que eu relacionaria à esquerda. Além do quê, uma das mais sangrentas guerras de toda a humanidade foi justamente a luta de Hitler com Stálin, e um dos pretextos utilizados para se perseguir os judeus seria sua relação com o socialismo, com listas de pessoas judias ou de ascendência judaica que seriam grandes nomes comunistas.

Claro, isso não quer dizer muita coisa. Stálin não tem muita coisa ver com a esquerda que governa a Finlândia da Nokia, e bem, Churchill e De Gaulle eram definitivamente políticos conservadores. Mas querer transformar Hitler em comunista, esquerdista ou qualquer coisa que o valha é algo que foge do senso comum.

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Vale lembrar que Olavo de Carvalho, o grande propagador da teoria do "nazismo de esquerda" já defendou Ezra Pond e Martin Heidegger, respectivamente defensores do facismo e do nazismo, como grandes nomes do pensamento da "direita".

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Os grandes riscos à liberdade não são nenhuma ideologia, que por mais estúpidas que sejam são um direito individual, mas sim o momento em que as pessoas aceitam aumentar o poder do Estado, excessivamente, em nome de um pretexto qualquer. Sim, como o combate ao terrorismo ou em nome da distribuição de renda.

samedi, mai 21, 2005

 

Renuncie, Saulo Abreu

Este site lança a campanha: Renuncie, Saulo Abreu. Pedimos simplesmente que Saulo Abreu de Castro Filho, Secretário da (in)Segurança do Estado de São Paulo peça demissão. Na verdade, se ele se enforcar no banheiro um tanto melhor, mas demissão já estaria muito bom.

Nesse tempo todo, o Sr. Saulo conseguiu mostrar como uma polícia NÂO deve ser: violenta e ineficiente. Ele deveria fazer uma palestra para chefes policiais do mundo inteiro explicando como não se administra uma polícia. Várias vezes sua polícia matou inocentes, em casos que estarreceriam o país e frequentemente se utilizou a truculência para conter manifestações, com balas de borracha sendo usadas contra estudantes. Crimes como sequestro, antes restritos à capital, passaram a ocorrer no interior. Tanto a Febem quanto o sistema presidiário passaram a assistir sistematicamente rebeliões, enquanto os arrastões em prédios ocorriam nos bairros mais caros da capital.

Já passou a hora dele ir embora faz tempo. Renuncia, ô maldito.

P.S: Obviamente inspirado nisso aqui.

vendredi, mai 20, 2005

 

A vida é feita de coisas inúteis


Uma coisa tanto ateus, quanto ativistas em defesa de animais e socialistas de botequim conseguem me irritar seriamente. É quanto eles dizem que tal coisa é inútil ou fútil.

A vida é feita de coisas inúteis. Sem coisas inúteis, a sua vida é tão divertida quanto a vida de uma bactéria ou de uma formiga. O que seria útil? Comer, trabalhar para comprar comida, transar para se reproduzir e dormir? Claro, sexo somente para reprodução seria bastante limitado e sem graça. Comida, só o essencial. E seguindo uma alimentação rígida, só com peixe, frango sem pele, legumes, verduras, carbohidratos. Nada de carne vermelha, doces ou similares.

Aquele abraço na pessoa amada é uma coisa inútil. Toda a arte, a música, são coisas inúteis. O Louvre, o Prado, o MASP são grandes templos da inutilidade. Mesmo as cachoeiras, boa parte do mar, as flores, as árvores, são coisas inúteis. Sem as coisas inúteis, nossa vida seria um misto de dor e tédio, como descrevia Schopenhauer. Imagine um mundo sem sorriso, sem abraço, sem arte. Seria um mundo como no livro de 1984 de George Orwell, aonde a língua, privada dos seus termos inúteis, virava algo absurdamente sem graça.

Jogue fora quaisquers daqueles preceitos pseudo-burgueses de valorização do trabalho. O trabalho é só uma ferramenta para você encontrar sua satisfação nas coisas inúteis da vida. Escolha a inutilidade que lhe agrade e ignore o que os outros dizem.

Missas e cultos evangélicos seriam inúteis, por quê Deus supostamente não existiria? Qual o problema, se as pessoas que participam desses cultos parecem estar felizes(Mesmo se não estivesse, qual o problema)? Ou mesmo os rodeios? Eu acho que como diversão é uma coisa boba, mas se as pessoas que frequentam estão felizes, qual o problema(Se os animais são maltratados nesses eventos, que se proibam que eles sejam maltratados, não a sua realização)? Ou mesmo novelas e músicas comerciais. São opções de cada um.

Em suma, brindemos a inutilidade. É ela que dá alma à nossa vida. Posted by Hello

 

Futilidades

Será que no México quando alguém vêm com muito drama ou coisa do gênero o povo fala em novela brasileira? Por quê, fala sério, não consigo ver coisa pior que novela da Globo. As novelas mexicanas, por mais que sejam repetitivas, não tem tanto dramalhão quanto as novelas da Globo, que devem seguir alguma cartilha marxista: todos os personagens ricos são insuportáveis. Os pobres são tão burros que dão dó.

Isso sem contar a busca por chocar e chamar a atenção, que fica cansativo. A Glória Pérez já colocou um romance entre pai e filho. Não sei por quê não coloca de vez uma orgia com GHB ou heroína no meio. Ou ainda uma mãe vendendo as filhas. Ou melhor, uma orgia entre crianças de treza anos.

Fala-se novela mexicana para denominar dramalhão, mas acho as coisas da Televisa muito menos maçantes que as tralhas que a Globo lança.

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O ensaio da Flávia Monteiro na Playboy é bem interessante. Dá enfase ao corpo e ao rosto da moça, sem fotos ginecológicas ou coisas semelhantes. Também é natural, com bastante simpatia da atriz.

As fotos são boas para desenhistas atrás de estudos também.

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Há vários mistérios entre as mulheres que eu nunca conseguia entender. Um deles era a questão do francês. Nunca entendia o que podia ser tão interessante numa língua. Mas bem, acabei descobrindo a razão. Nada mais sensual que uma mulher cantando em francês, superando até o espanhol com sotaque mexicano. Nunca pensei em ficar ouvindo o dia inteiro Natasha St. Pier, Isabelle Boulay, Camile.

Agora só falta descobrir por què as mulheres gostam de novela, Djavan e Lenny Kravitz.

 

Citação da Semana

 

A USP e as bicicletas


Pista de Cooper na Cidade Universitária da USP
Continua a briga entre a USP e os ciclistas, agora com a morte de dois atletas em vias de alta velocidade( Amandio Pereira Fernandes Bacalhau, 71, no acesso ao Rodoanel em Perus, e Luís Fernando Costa Rosa, 40, no Km 33 da Bandeirantes, em Caieiras). Os atletas acusam a USP, que proibiu o uso de bicicletas na via para não-estudantes e funcionários, pelos acidentes.

O que não deixa de ser interessante. A maioria das cidades com universidades nos EUA são conhecidas pela quantidade de bicicletas, justamente por causa dos estudantesconhecidas pela quantidade de bicicletas, justamente por causa dos estudantes. A região do entorno da USP é conhecida pelo seu trânsito caótico, com um forte trânsito de carros de estudantes. Afinal, sem terem que pagar pela faculdade, fica fácil comprar carro, não fica? A USP deveria estar repleta de bicicletas, não de carros. Não vejo sentido, ainda mais que muitos pobres usam a bicicleta para se locomover. Ao contrário de muitas estações de trem(como as que servem a região de Itapevi, Barueri, Carapicuíba, bastante pobres), não há estacionamentos na entrada da dita para os ciclista deixarem suas bicicletas(Pobre não estuda lá, mas usa vários serviços)..

Pessoalmente, acho estranha a política de movimentação dentro da universidade. Ela poderia ganhar um bom dinheiro cobrando pelo uso dos estacionamentos, que poderiam ser uma boa fonte de dinheiro. Ou mesmo cobrar pedágio de quem entra de carro. As ruas da Cidade Universitária deveriam estar repletas de bicicletas, não de carros.

Acho uma das piores coisas de São Paulo o fato de boa parte da cidade ter sido projetada para os carros, não para as pessoas. Não vejo sentido a USP seguir esse caminho.

A USP não fica no meio do mato, mas numa das regiões mais povoadas de São Paulo, entre distritos como Pinheiros, Morumbi, Butantã, Rio Pequeno, Jaguaré, Alto de Pinheiros, Vila Leopoldina e Itaim-Bibi. Não vejo sentido que aqueles que sustentam a universidade com seu ICMS não possam usufruir desta importante área verde.

Também acho interessante a exigência de liberdade por parte das universidades e universitários. A maioria não quer a polícia entrando nos campi, quer que permita que se fume maconha e use drogas, quer liberdade para escolher o reitor, quer liberdade para isso, para aquilo. Só não querem liberdade financeira, uma vez que exigem que o Estado continue financiando os estudos da fatia mais rica da população.

E bem, a única coisa pública na USP é justamente seu financiamento.

jeudi, mai 19, 2005

 

O estuprador da floresta tropical

O The Independent, de Londrez na edição desta sexta, publica um artigo sobre a devastação da floresta tropical em Mato Grosso. Eu gosto do jornal, apesar daquele artigo sobre a violência do Rio ter sido bastante exagerada.

Agora o alvo é Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, apresentado aos leitores como o "homem por trás do estupro da Floresta Tropical". Trechos relevantes:

É duro. É quase inacreditável. Mas a destruição cruel da floresta amazônia continua ocorrendo numa escala bastante veloz, como novos números revelam - e hoje revelamos o homem que mais que nenhum outro representa as forças fazendo isso ocorrer.

Ele é Blairo Maggi, o milionário fazendeiro e político descompromissado chefiando o boom brasileiro na produção de soja. Ele é conhecido no Brasil cpmo o Rei da Soja.

Ambientalistas brasileiros o chamam de outra coisa - O Rei do Desmatamento. Para o boom da soja, alimentar uma aparentemente insaciável vontade do mercado mundial por grãos de soja como alimentação da soja é agora o maior motivador da destruição da floresta.

Números mostram que no último ano a taxa de devastação na Amazônia era a segunda maior registrada quando o boom da soja completa seu terceiro ano. Uma área de mais de 10 mil milhas quadradas - uma área quase do tamanho da Bélgica, com metade da destruição, aonde Mr. Maggi, cujo o Grupo Maggi é o maior produtor mundial de soja, é o govenador.

Mr. Maggi não derrama lágrimas pelas árvores perdidas. Em 2003, seu primeiro ano como governador, a taxa de desmatamento no Mato Grosso mais que dobrou.

Numa entrevista ano passado, ele disse: "Para mim, um aumento de 40% no desmatamento não significa nada; não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui. Estamos falando de uma área maior que a Europa toda e que foi muito pouco explorada. Não há razão para se preocupar".

Muitas pessoas discordam. A sobrevivência da Amazônia, que cobre uma área de mais de 4,1 milhões de quilômetros e cobre metade da área do Brasil pode ser a chave para a sobrevivência do planeta. A floresta é as vezes chamada de pulmão do mundo, uma vez que suas árvores produzem muito do oxigênio do planeta. Acredita-se que vinte por cento já tenha sido destruída para produção de madeira(legal e ilegalmente) e para a criação de gado. Mas o boom da soja ampliou dramaticamente o ritmo da destruição.

Tudo começou com a crise do BSE(Mal da Vaca Louca) no Reino Unido, quando a ração dada ao gado se tornou matéria de grande preocupação publica. Criadores de gado do mundo inteiro mudaram para a soja como uma fonte irrepreensível.

O boom foi intensificado pelo fato do Brasil - em contraste com os EUA e a Argentina - não utilizam os transgênicos na sua agricultura, então, quando a maioria dos países europeus escolheram pelo seu banimento, o Brasil que foi escolhido como fornecedor de soja. A Europa importa agora 65% da sua soja do Brasil. Um maior ímpeto para o boom vêm da China, cuja a classe média emergente quer comer mais e mais carne- então a demanda por ração está aumentando.

O boom da soja está sendo criticado duramente pelos ambientalistas." Está transformando a floresta tropical em ração de gado. É inaceitável" diz John Sauven, chefe da campanha para florestas tropicais do Greenpeace no Reino Unido.

Primeiramente apareceu nos indices de desmatamento dem 2003, quando após oito anos de queda ou estabilidade, a taxa de destruição aumento 40% em um único ano, 18,170 km2 para 25,500 km2.


Uma vez que taxa permaneceu no seu novo alto nível, com 24,597 km2 cortados no ano sequinte, e como os indices mostrando ontem pelo Ministério do Meio Ambiente mostram, apartir de fotos de satélite e outras informações, nada mais 26,130 km2 foram cortados nos doze últimos meses anteriores à 2004. Este é um aumento de 6% em relação ao ano anterior e causou imensa tristeza, uma vez que o governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva adotou um plano ano passado de proteger a Amazônia. A Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que é da Amazônia, no Estado do Acred, disse que os números são altos, mas que o país iria trabalhar de forma estruturada, com ação prolongada e efetiva, envolvendo todos os setores."

(...)

Há também um artigo comentando sobre o fato de Lula estar dividido entre a preservação e devastação, uma vez que as principais indústrias exportadoras seriam as principais poluidores, em especial no tocante à mineração e à exportação de soja. Ao contrário do artigo sobre o Rio, este aparece em destaque no site do jornal(Deve ser a manchete da edição impressa). Resta saber como será a reação não só do governo do Mato Grosso(Espero que este site não seja processado por publicar trechos do artigo) como dos consumidores da soja brasileira. A Burger King quase foi à falência quando descobriram que a carne do seu gado provinha de pastagens formadas apartir da destruição de florestas tropicais. Não é muito legal para a imagem do governo, ainda mais considerando a importância da soja na economia atualmente.

 

Bovinos


Pastagem bovina em Piracaia, SP.

Virou chavão brasileiro reclamar do brasileiro. Eu sou meio crítico, embora talvez mais retoricamente. Acho meio estranho essa mania de tanto parte da esquerda quanto da direita reclamarem do brasileiro em si. Afinal, nós não deixamos de ser brasileiros, mesmo que por ventura venhamos a morar no exterior. É uma questão cultural.

Virou chavão acusar o brasileiro de um povo bovino, como um povo burro, inculto e que segue a massa. Concordo, brasileiro assiste bastante televisão, é muito influenciado pela mídia. Mas que povo não é? Não foi a mídia que enfiou na cabeça dos americanos que Saddam Husssein estava por trás do 11/9? E céus, não foram os alemães, espanhóis, italianos, russos e outros povos supostamente cultos que em massa escolheram regimes horríveis, induzidos por uma minoria? Povo em si tende a ser relativamente simples e manipulável.

Ninguém espera discutir filosofia com o tiozinho na praça em Topeka ou em Santa Fé, ou ainda que o senhor lá em Palermo ou em Frankfurt seja um profundo conhecedor das coisas da vida. Acho o povo brasileiro em si fascinante: seja aquele povo do interior que acolhe todo forasteiro com carinho, seja aquele povo do subúrbio sempre alegre. É justamente pela simplicidade que nos conquista. Mesmo as manifestações culturais desse povo são maravilhosas. E também é um povo que tende a ser relativamente tolerante em alguns assuntos, como gays. Lésbicas em novelas brasileiras tendem a fazer menos barulho que em outros lugares, por exemplo.

O que acho que tende a pender contra o Brasil é justamente quando se sai do povão: a maioria dos países pobres tendem a ter uma elite educada. É o caso de muitos países latino-americanos e árabes. No Brasil temos uma elite que mal-sabe falar inglês ou espanhol, que ignora os princípios mais básicos da geografia e da cultura dos seus vizinhos. Uma elite que paga uma fortuna para assistir uma orquestra e dormir ou ainda que faz vexame na Disney World. Mesmo as revistas, jornais e sites supostamente para a elite tendem a ser simplórios. A mesma elite que acusa o povão de ser bovino e burro.

Também acho curioso essa crítica do brasileiro como um povo gado, já que a maioria que diz isso copia o que escreve de outros autores, sejam o Paulo Francis ou ainda sites estrangeiros, como o LewRockwell, a Counterpunch ou a Weekly Standard. Até ideologicamente, como o povo conservador que quer se passar por libertarians , esquecendo simplesmente que esse é um contexto que nem sempre se encaixa no Brasil. Muitos dos que reclamam do Brasil tem opiniões insuportavelmente pausterizadas sobre um grande número de posições, inclusive com uma devoção bovina a George Walker Bush.

O chavão de que "nós nunca produzimos nada de interessante é bobagem". Nós é que não sabemos reconhecer um gênio pela frente. Heitor Villa-Lobos sempre teve mais reconhecimento na Europa e nos EUA que no Brasil. Machado de Assis, que muito brasileiro olha torto, teve seu gênio reconhecido por críticos como Harold Bloom, talvez o mais conhecido crítico literário vivo. Cicero Dias é um desconhecido no Brasil, mas um artista super-reconhecido na França. Os franceses estarão fazendo umas três exposições em honra dos cinquenta anos da morte de Victor Brecheret, os brasileiros nada. Aleijadinho é reconhecido como gênio por Germain Bazin, um dos grandes estudiosos do barroco. O grande fator comum nos gênios brasileiros é que eles sempre são reconhecidos no exterior, mas nunca no Brasil. A França de Berlioz, Zola, Flaubert sabe valorizar mais a arte do Brasil que nós.

Antes de falar mal do Brasil, certas pessoas deveriam olhar para o seu RG e para sua Certidão de Nascimento.
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Sim, estou dando os últimos ajustes na template.

mercredi, mai 18, 2005

 

Avisos da Administração

Algumas vezes a página tem aberto com erros na acentuação, mas apertando o "reload" do seu browser ele parece voltar ao normal. Eu não sei que diabos é isso, mas, vou trabalhar para acertar...


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Pelas pesquisas do Google, muitas pessoas tem caído nesta página fazendo pesquisas escolares, em especial sobre petróleo. A não ser que vocês queiram tirar zero, repetir de ano e ficar de dependência(Não só de álcool) no final do ano, NÂO usem este site como fonte em nenhum trabalho universitário.

Pesquisas na biblioteca é chato, mas ao menos você fica de férias mais cedo.

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Se você acha as posições dessa página muito à esquerda(Embora eu não goste da esquerda também), visite o Apostos. Conservadorismo inteligente é por lá mesmo. Eu não sou nada conservador, infelizmente(Inclusive quando a esquerda assume traços conservadores demais, caso do MST ou do comunismo).

mardi, mai 17, 2005

 

O Politicamente Correto

A grande polêmica agora é o tal livrinho de politicamente correto que o governo imprimiu. Utilizam termos que fazem referências à aquele autor britânico medíocre(Sim, Orwell criou conceitos fascinantes. Mas como escritor ele tinha várias deficiências) para se referir ao livro, como se ele fosse uma imposição ou coisa do gênero. O que eu acho bobagem.

Vamos lá. O que se convencionou chamar de politicamente correto é falho em diversos pontos. Primeiro, porque as pessoas devem ser chamadas pelo seu nome. Ninguém chama fulana de "branca", "caucasiana", "indo-européia", "ariana" nem nada do gênero. Chama pelo nome. Isso obviamente deve valer para pessoas de todas as discriminações. Para situações mais específicas, creio que o termo mais óbvios e cientifícos são bastante aceitáveis. Deficiente físico não é nada ofensivo, creio eu, se estivermos falarmos de ações afirmativas para pessoas nessa situação, como assentos em coletivos. Segundo, é uma denominação que tende a ser sectária em vários pontos. Afro-alguma coisa subentende que tal negro teria uma influência cultural(no caso africana) maior que a média, quando diversas minorias tiveram um longo histórico de lutas para conseguir se integrar à cultura dos países em que refugiaram.

Claro, existem sim termos ofensivos à várias minorias, e estes são evitados por pessoas minimamente sensatas, como "crioulo", "nigger", "kike", "japs". Pessoas inteligentes e com um certo conhecimento histórico sabem evitar termos que se relacionam à grupos relacionados a racismo ou a certos contextos históricos. Reclamar do racismo de piadas de loira pode pegar mal, por exemplo, já que esta é uma reclamação constante de supremacistas brancos. Mas aí é uma opção de quem fala. Assim como de quem quiser assumir o tal vocabulário. Ninguém pode ser forçado a nada.

A imagem de ditaduras do politicamente correto dentro das universidades americanas é falsa. Como diz o Professor Barry Glassner no seu ótimo "A Cultura do Medo":

Uma das campanhas alarmistas mais eficazes do final do século xx - o politicamente correto - foi empreendida com o objetivo expresso de modificar os termos de debate sobre civilidade. Compreenda, as pes­soas que criaram o pânico não a expressaram nesses termos: elas exprimi­ram seu alarmismo usando a linguagem da Primeira Emenda.a No final
da década de 1980, comentaristas conservadores começaram a advertir sobre o que descreviam como "a maior ameaça à Primeira Emenda de nossa história" (Rush Limbaugh), "o equivalente ao movimento nazista de controle de pensamento" (Walter Williams) e "um vírus ideológico tão mortal quanto a AIDS" (David Horowitz).
Em 1991, o presidente George Bush, em um discurso de formatu­ra na Universidade de Michigan, apresentou a questão com um pouco mais de sobriedade, ao censurar aqueles que "declaram proibidos alguns assuntos, proibidas algumas expressões, até mesmo proibidos alguns gestos". Alguns professores e estudantes estavam de fato pressionando
a. Parte da Constituição americana que dá ao cidadão o direito à liberdade de expres­são, liberdade de imprensa, liberdade religiosa e liberdade de reunião. (N. T.) para quê determinados tipos de declarações e gestos fossem abolidos da Vida umversitária. Especificamente, procuravam maneiras de acabar com comportamentos racistas, sexistas e homofóbicos. Se algo pode ser qualificado como incivilizado em uma sociedade diversificada, argurmentavam, é precisamente esse tipo de comportamento.21

Aqueles que foram censurados por serem politicamente corretos
estavam procurando criar um ambiente mais respeitoso e inclusivo nas
universidades para grupos que foram amplamente excluídos - um ob­jetivo que os conservadores não podiam atacar de frente para não per­der o apoio já frágil que tinham entre as minorias. Além disso, longe de serem defensores absolutos da Primeira Emenda, muitos conservadores apoiavam medidas restritivas em relação a diversos tipos de comporta­mento, de queima de bandeiras à exibição de arte homoerótica. Então, em vez de discutirem honestamente com liberais e progressistas nas uni­versidades, os conservadores os rotularam de "politicamente corretos". De modo muito semelhante a como seus ancestrais usaram o epíteto "comunista" há algumas décadas, os conservadores da década de 1990 acusaram seus inimigos de serem politicamente corretos (pc). (...)

É verdade que os ativistas de esquerda às vezes se comportavam com desfaçatez ou intolerância. Em certas ocasiões, certos palestrantes foram vaiados por ser considerados racistas, sexistas ou antihomosse­xuais. O total dessas ocorrências, porém, não sustentava a afirmação. de que "a deslegitimação, até mesmo a demonização do homem branco aringiu limites extremos", como escreveu, em 1996, Paul Craig Ro­berts, do Instituto Cato, um centro de estudos conservador, em um artigo op-ed do San Francisco Examiner. Transacionando perfidamente so­bre a memória do Holocausto, b Roberts passou então a afirmar que as a&ontas aos homens brancos nas universidades são "comparáveis à ... delação de judeus por anti-semitas" .26

(...)

Afirmações exageradas desse tipo receberam mais atenção da opi­nião pública que os padrões reais de discriminação e exclusão nas uni­versidades americanas. Talvez os editores ficassem desesperados de ser chamadosr de politicamente corretos caso publicassem a história, mas havia uma importante a ser contada. Os dados eram bem alarmantes: na véspera do século XXI, mulheres, negros e hispânicos, longe de to­mar o lugar dos homens brancos do corpo docente, na maioria das ve­zes tinham os piores empregos e salários. No auge do pânico acerca do politicamente correto, no começo e meados da década de 1990, as mu­lheres totalizavam menos de um terço dos corpo docente com dedica­ção integral nas faculdades e universidades americanas, número so­mente um pouco superior ao de 1920, quando as mulheres adquiriram o direito de voto. Apenas um entre cerca de 20 professores era hispâ­nico ou afro-americano.
As pesquisas feitas entre estudantes registraram outras tendências alarmantes. As mulheres e os estudantes de cor freqüentemente rece­biam menos atenção e estímulo nas salas de aula que seus colegas bran­cos, e fora das classes eram alvo de milhares de ataques físicos e verbais todos os anos. Da mesma forma, estudantes gays e lésbicas enfrentavam ataques, intolerância e ameaças de morte. Mesmo em faculdades noto­riamente liberais, os gays e as lésbicas sofriam preconceitos. Em uma pesquisa feita em Yale, quase todos os estudantes gays e lésbicas disseram çue tinham escutado comentários preconceituosos, e um entre cada
quatro havIa sido ameaçado. Na Faculdade Oberljn, praticamente meta­de dos estudantes gays, lésbicas e bissexuais afirmaram ter de censurar a si próprios quando debatiam assuntos gays.
Enquanto isso, para os integrantes do corpo docente em muitas fa­culdades, o fato de ser abertamente gay ou lésbica significava arriscar não conseguir obter estabilidade no emprego, promoção e oportunida­de de transferir-se para cargos administrativos, mostrou a pesquisa.

(...)


Eu pessoalmente acho que há um exagero quando se fala em ditadura do PC. Eu acho meio bobo termos como afro-americanos ou ainda que em escreve coisas como médic@s, mas bem, não sou eu quem decide como fulano fala ou escreve. Vale lembrar de várias tentativas de conservadores de tirar livros como "A Evolução das Espécies" de Darwin das bibliotecas públicas ou mesmo de livros de autores gays, como um representante republicano no Alabama desejava fazer, antes de querer colocar o politicamente correto como a maior ameaça mundial contra a liberdade de expressão.

Resumindo, o pânico em cima da cartilha de politicamente correto do governo é falta do que fazer.

lundi, mai 16, 2005

 

O mundo gira VI

Em mais um capítulo da birra do Judiciário contra a Liberdade de Expressão, o Desembargador Gabriel Marques proibiu a veiculação de uma reportagem do Fantástico em Rondônia com deputados pedindo verbas à ao governador Ivo Cassol (PSDB).

Acho um absurdo: para variar, mais uma vez a Justiça toma uma decisão arbitrária, agindo contra a liberdade de expressão e do direito de informação do cidadão. Além de claro, agir em prol de uma pequena minoria.

***
O Pravda fala do encontro entre líderes sul-americanos e árabes. Ou seja, é a revolução gramsciana em pleno vapor.
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Aproveitando o escândalo de corrupção nos Correios, não seria hora de acabar com o monopólio no envio de correspondência por parte desta estatal? Não vejo muito sentido, ainda mais num serviço supostamente essencial que abre às nove, fecha às cinco e ainda estravia cartas com alguma frequência...

 

Por quê ninguém discute o crescimento urbano?


Ponte Rebouças e Ponte Bernardo Goldfard, São Paulo.
O conjunto das duas pontes
entre o Rio Pinheiros é um dos pontos
mais movimentos da capital paulista, foco

de constantes congestionamentos. Arquivo Pessoal.


A maioria das grandes cidades brasileiras teve um crescimento desordenado e sem planejamento, em especial nas duas principais metropóles, Rio e São Paulo. Ambas deram atenção demasiada ao transporte individual, não souberam trabalhar a qualidade de vida, desenvolveram verdadeiros infernos para os pedestres(É quase impossível andar a pé com uma certa tranquilidade em muitas ruas de São Paulo, como a região das marginais e na Faria Lima), criaram fartas áreas sem policiamento, que o Estado ignora existir, para a farra da bandidagem. Não a toa, são duas cidades amplamente problemáticas do ponto de vista de qualidade de vida. Poluição, trânsito caótico, violência, entre outros fatores(Tá, no Rio certos problemas parecem estar em escala menor, mas pelo que eu vejo algumas das piores táticas aplicadas nos anos 70 em São Paulo estão sendo importadas pelos cariocas) . O fenômeno está se repetindo em outras cidades, em especial no interior paulista. E ninguem discute sobre o que está ocorrendo dentro da ocupação urbana no Brasil.

Há dentro dos EUA o fenômeno conhecido como "sprawl", que é a mudança das pessoas dos grandes centros urbanos para bairros de baixa densidade demográfica. É um fenômeno que tem preocupado muito os ambientalistas e outros estudiosos, por acabar com as áreas verdes, sobrecarregar as estradas(Já que o sujeito anda de carro dezenas de quilômetros para chegar ao trabalho), destruir propriedades rurais inteiras, o que afeta inclusive a produção de alimentos. Há uma séria discussão em torno do assunto por lá. A fórmula, adivinha, tem se repetido no Brasil, com condomínios e mais condomínios sendo construídos ao redor das estradas. Não vi até agora nenhum político ou mesmo ambientalista discutindo o assunto. Caminha-se mais ou menos para um caminho semelhante, podendo o cidadão escolher morar longe de tudo ou morar num centro urbano perto dos serviços, mas convivendo com poluição, trânsito e uma péssima qualidade de vida.

Nos anos 70, construíram Alphaville, um conjunto de condomínios de luxo na região de Barueri, Carapicuíba, nas beiras da recém-construída Castelo Branco. A rodovia, construída com padrões bastante modernos, apesar de ter trânsito tranquilo no interior, é um inferno nos trechos iniciais, o que inclusive dificulta a ligação entre a capital e a região oeste do Estado. Sabe-se que as possibilidades de que a região entre Campinas-Sorocaba-São José dos Campos-Santos, ou seja, um raio mais ou menos de 100 km em torno da capital paulista possam se conurbar, com exceção dos trechos de serras e parques. O que poderia ser desastroso do ponto de vista ambiental.

Não se têm se preocupado com a questão de transportes. O centro ainda é o transporte rodoviário, que incentiva a desocupação desordenada. A poluição dos carros costuma transformar as grandes cidades em lugares quase que inabitáveis, ao passa que não ordena a ocupação das regiões periféricas, já que não há ponto de referência. Sabe-se bem que bairros com metrô, trem e similares são mais organizados que os bairros sem. Costumam, além de ter trânsito menos pesado, centros comerciais e maiores concentrações em torno das estações, e casas menores a um raio maior. O grande investimento em termos de transporte em São Paulo é o Rodoanel, que incentiva o sprawl.

Todo mundo sabe no que ocorreu na São Paulo e no Rio das obras viárias fabulosas, gastos mínimos com metrô e o esquema favela aqui, condomínio acolá. Campinas, outrora uma cidade interiorana, hoje tem todos os problemas urbanos de São Paulo e Sorocaba, São José dos Campos e Ribeirão Preto vão pelo mesmo caminho. Resta saber por quê diabos o fenômeno se repete, com a população civil assistindo de braços cruzados.

 

A democracia em alta

Cerca de quinhentos manifestantes teriam sido fuzilados por soldados no Uzbequistão, parceiro de Bush na Guerra ao Terrorismo, país que ainda tem uma base militar americana. Lembra-se de quando você leu em jornais e revistas de que a democracia florescia no Oriente Médio porque a Síria estava retirando uns soldados do Líbano, que a invasão ao Iraque tinha produzido resultados? Então.

A maioria dos analistas sempre criticou a retórica de Bush em trazer democracia ao Oriente Médio porquê os americanos seriam aliados fortes de dos piores regimes da região. A Arábia Saudita têm uma interpretação tão violenta da religião que mesmo muçulmanos tendem a criticá-la. O Egito é governado pelo mesmo cara, Hosni Mubarak, com mão de ferro, desde do ano em que eu nasci. O ocorrido no Uzbequistão é mais um exemplo da retórica vazia de Bush.

Afinal, o presidente Karimov, que governa o país desde do fim da URSS, massacrou seu próprio povo, assim como Saddam. A resposta da Casa Branca frente à carnificina do seu amiguinho foi de um cinismo gigantesco:

"Temos grandes preocupações com os direitos humanos, mas estamos preocupados com o aumento da violência, em especial por parte de alguns membros de uma organização terrorista que foram libertados. E pedimos um pouco de controle ao governo e aos manifestantes. O povo do Uzbequistão quer um governo mais representativo e democratico, mas isso deve vir por meios pacíficos, não por meio da violência.
E essa é nossa mensagem."

Ainda não acredito que tenham acreditado naquele papo de trazer democracia ao Oriente Médio.

 

Mudanças

Mais uma vez, uma pequena mudança de nome. Passa-se o nome para o plural. A razão, além do nome de livro de um certo jornalista, é por quê há uma crença forte dentro da chamada "direita" brasileira de que o consenso é uma prática comum apenas â esquerda. Não nego as opiniões comuns dentro da esquerda brasileira(Algumas que acho fora da realidade, seja no tocante a gratuidade dentro das universidades públicas como a questão da opressão do "capitalismo", que poucos explicam o que isso significaria), mas a direita, livre do consenso?

A maioria dos direitistas sempre citam os mesmos caras: Paulo Francis, Gustavo Corção, Roberto Campos. É meio raro falarem de Paul Johnson, Gilberto Freye ou Bernard Lewis. Temos xingamentos à Lula(embora, raras vezes críticas embasadas), à Chavez. a Fidel. A maioria reclama das mesmas coisas, de um suposto senso de domínio da esquerda dentro da mídia - como se os donos de jornais deixassem seu investimento ao deus dará. Outros falam no tal Foro de São Paulo. o fórum supersecreto que publica suas atas na internet e que conseguiu a façanha de unir toda a esquerda da América Latina(Como Charles Featherstone notou, esquerdistas são incapazes de fazer uma reunião, quanto mais de dominar o mundo). Há também os choramingos por quê a "esquerda" fala mal de Paulo Francis ou Olavo de Carvalho, como uma adolescente brava quando falam do cantorzinho da moda(Detalhe, esses caras sempre falam mal não dos escritores favoritos da esquerda, mas filosófos clássicos como Kant e Hegel). Isso sem contar o puxa-saquismo pelos EUA, que culturalmente tem muito pouca relação com Brasil(A não ser os imigrantes que foram para Americana, em São Paulo, ou pela quantidade de italianos na sua formação. Ou talvez pela ignorância dos seus habitantes com relação ao mundo).

Então, não há um consenso. Há vários. A maioria importada pronta dos EUA, outros não. Há a turma que idolatra o MST, outros que demonizam. Alguns falam mal do PT, outros defendem o PT. Outros defendem a Igreja Católica, outros atacam. Mas não deixa de ser uma espécie de consenso generalizado entre grupos.

De qualquer forma, é sempre legal ser do contra.

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Também há sistema de comentários novo e uma leve mudança de template.

samedi, mai 14, 2005

 

O Proer Ferroviário de Lula

O projeto de reestruturação da Brasil Ferrovias por parte de Lula é meio semelhante ao Proer de FHC. É um dinheiro que acaba privilegiando uma gestão particularmente ineficiente, e bem, além de ser dinheiro do Estado para empresas. Mas infelizmente necessário. Fernando Henrique poderia ter visto um verdadeiro caos generalizado no sistema financeiro se tivesse permitido que um Bamerindus ou um Nacional quebrassem e deixassem seus correntistas à míngua. Já, a Brasil Ferrovias é a principal via de escoamento de soja e outros produtos para exportação e dificilmente nossa soja seria competitiva no mercado externo sem ela. A grana que o BNDES vai gastar para reestruturar a firma é provavelmente maior que a que seria gasta com subsídios se as ferrovias envolvidas tivessem permanecido estatizadas. Aí com transporte de passageiros e o uso de ramais menores e menos lucrativos.

A dúvida é se a empresa de fato consegue a sua independência financeira após a reestruturação e se os importantes corredores da companhia conseguirão atender não só os produtores de soja, mas as indústrias do interior paulista. Elias Negri, ex-FCA, parece estar conseguindo mudar a cultura administrativa da empresa, mas os problemas tanto da Ferroban quanto da Novoeste são tantos que fica difícil de acreditar. Acho que o Trem do Pantanal, um dos troféus da empresa até então é mais para fazer charminho para o presidente. Por outro lado, ramais que estavam sem uso há vários anos(Bauru-Panorama, Araraquara-Colômbia e Campo Grande-Ponta Porã) serão reformados, para voltarem a ser utilizados. Os dois primeiros chegam até o Rio Grande e Paraná respectivamente, o terceiro atinge o Rio Paraguai. O trecho entre as estações de Boa Vista(Campinas) e Jundiaí será reformado, aumentando a velocidade no trecho(utilizado pela MRS) e diminuindo o triste histórico de acidentes. A ANTT estabeleceu direito de passagem no trecho da MRS que dá acesso ao porto de Santos, garantindo tanto a FCA quanto a ALL o acesso ao maior porto do país, com a construção de um terceiro trilho no trecho. A MRS, claro, está reclamando, uma vez que isso é menos compensador a ela. Que querendo ou não, gastou um bom dinheiro reformando o trecho.

De qualquer forma, pode não parecer, mas se tudo correr bem dentro da Brasil Ferrovias, Lula se livra de um dos seus piores problemas.

 

A dura verdade sobre Palestina e Israel

Em 1982, o Reino Unido e a Argentina brigaram pelas Malvinas, um arquipélago minúsculo, no meio do nada que tem população menor que um prédio residencial, numa guerra estúpida que matou quase que mil pessoas. Antes disso, Argentina e o Chile haviam quase entrada em guerra por causa do Estreito de Beagle, um monte de gelo bem na ponta da América do Sul. O Reino Unido e Espanha disputam um naco de terra de pouca importância chamado Gilbraltar. Rússia e Japão disputam a supremacia sobre ilhas de porte pequeno como as Curilas e a Sacalina. Os alemães também reinvidicam Kaligrado(Ou Konigsberg) dos russos. Três anos atrás a Espanha e o Marrocos quase que entraram em guerra pela posse de um pedra no meio do Mediterrâneo. Parte considerável das guerras que assolaram o mundo foram causadas pela disputa de territórios, muitos deles não-essenciais aos povos beligerantes. Os ingleses passaram anos em clima de guerra com o IRA por causa da Irlanda do Norte, um território deficitário para os cofres públicos britânicos. Tanto a Alsácia quanto a Lorena, territórios que aumentaria as rivalidades entre franceses e alemães que provocariam uma das tensões responsáveis pela Primeira Guerra Mundial, não eram, apesar de territórios ricos em minério de ferro e carvão, essenciais à existência de nenhum dos dois países. Não davam acesso ao mar, não eram uma proporção grande de território nem separavam em nacos os países citados.

A não ser quando a nação invadida sente uma identificação muito forte com o invasor, ou em casos especiais, a única forma de se conseguir subtrair um território de outra nação é por vias sangrentas. Não por meio de uma simples vitória militar, mas vitórias militares tão sangrentas que façam com que a população invadida fique absurdamente traumatizada a ponto de não querer se rebelar.

Muitas pessoas reclamam que os palestinos e árabes não aceitam Israel, como se fosse uma questão de simples guerra. E não é. Alguns falam que os palestinos deveriam se refugiar entre seus "amigos" na Jordânia, como se fosse uma questão simples. O ponto é que nenhum povo aceitou de mão aberta ceder territórios, mesmo aqueles que eram uma fatia minúscula da sua área total, sem importância estratégica. Então, os palestinos não aceitam ceder mais da metade do seu território a uma outra nação porque nenhuma outra nação cederia. No caso, não é uma Malvinas ou uma Alsácia-Lorena. São territórios com algumas das principais áreas fertéis, cidades e ainda Jerusalém, que são palco do principal orgulho militar dos árabes: a vitória nas Cruzadas. E para piorar, dividem seu país em dois nacos.

A grosso modo, qualquer generosidade por parte de Israel é algo como o ladrão que rouba carteiras, pega o dinheiro e devolve os documentos ao dono. Não é bom trato para a pessoa assaltada.

Considerando os agravantes, como que o israelenses não estão dispostos a deixar os palestinos se assimilarem à sua população e que estes foram obrigados, a única forma de fazer com que os palestinos "aceitem" ceder mais da metade das suas terras à outro país é na base da força. É hipócrita e ingênuo exigir que os palestinos cedam na maior boa vontade suas terras, sem compensação financeira alguma.

Os árabes em geral tendem a enxergar um estado culturalmente ocidental dentro das suas fronteiras como uma forma de invasão. A única forma de se garantir a existência de Israel é por meio de um aparato militar bastante violento, para poder se impôr não só aos palestinos como entre os vizinhos árabes. Mesmo assim, sempre existirão ataques terroristas.

Um ponto que eu acho complicado é que Israel não tem grandes recursos naturais, não é um entreposto importante entre nenhuma rota comercial importante, têm acesso díficil à maioria dos mercados, é um país aonde a agricultura e o acesso à água costumam ser bastante caros. Mesmo com uma mão de obra bastante qualificada e o turismo religioso, isso por si só não garante o dinheiro necessário . É Estado dependente da ajuda americana, e que dificilmente sobreviveria sem os quase dez bilhões de dólares cedidos pelo contribuinte americano.

Em suma, é um conflito bastante complexo, ainda mais que Israel depende de um aparato militar violentissímo para garantir sua existência. A única chance de paz é justamente a exaustâo e os traumas causados pela guerra.

 

Troféu Óleo de Peroba

Os vencedores são os advogados de Sabrina Harman. A defesa da Soldada Harman foi a de que ela queria documentar um comportamento que considerava errado. "Era uma piada. Gilligan sabia que era para ser uma piada. Era tudo parte do relacionamento deles. Era uma relação além do que as fotos mostravam", disse Frank Spinner, defensor da moça.(via Antiwar).

Obviamente, nas fotos abaixo, podemos ver Sabrina documentando o comportamento que considerava errado e a sua piada, dentro do seu relacionamento.



É um defesa tão estúpida quanto a do Sargento Graner, outro dos acusados, no início do ano: " As líderes de torcida por toda a América não fazem pirâmides seis ou oitos vezes por ano? Isso seria por acaso tortura?", disse o seu então advogado, querendo justificar o empilhamento de prisioneiros nus, que para os dois seria algo tão passável quanto performances em jogos de futebol americano. Os dois juraram que isso seria uma forma correta e legal de se controlar os presos.

vendredi, mai 13, 2005

 

Falando do Irã

Harry Browne foi candidato a presidente dos EUA por duas vezes pelo Partido Libertário, em 1996 e 2000. Como Jello Biafra recusou o convite para ser candidato, Browne é junto com o Ralph Nader o cara mais legal a se prestar ao mico de concorrer à Casa Branca, como o seguinte texto do cara nos prova:

George Bush gosta de nos lembrar vezes e mais vez que uma bomba nuclear iraniana seria uma violação do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Irã assinou o tratado e concordou em não desenvolver armas nucleares.
No entando, o tratado também pede que os países que detinham armas nuclears em 1970 - EUA, Grã-Bretanha, França, Russia e Chinca - que começassem a reduzir seus arsenais ou mesmo eventualmente que os eliminassem por completo. Ao menos para meu conhecimento, nenhum desses cinco países destruiu uma única arma nuclear. Então nós teremos que atacar a Grã-Bretanha, França, Rússia, China e os Estados Unidos também?

Nem Paquistão, India ou Israel assinaram o tratado e todos eles desenvolveram armas nucleares. Mas o governo americano está apenas intimidando o Irã, que pelos termos do tratado permitiu que inspetores internacionais fossem checar o que eles andam fazendo. E até agora, os inspetores não encontraram nada.

Como os Estados Unidos não só desonram o tratado ao não reduzir o seu arsenal, mas na verdade desenvolvendo novas armas nucleares, países sem tecnologia nuclear estão condenando o país por violá-lo ao passo que tentam impô-lo a outras nações.

George Bush responde a essas condenações dizendo que - adivinha - o onze de setembro muda tudo. Se lermos suas palavras literalmente, ele está dizendo que os EUA podem desenvolver novas armas nucleares e utilizá-las para matar terroristas. Mas isso certamente significaria a morte de uma quantidade enorme de civis inocentes.

Ninguém respondeu - ou, até agora, mesmo perguntou - a questão óbvia: por quê os Estados Unidos podem ter um arsenal bastante maior que de que qualquer outro país do mundo, mas o Irã não pode ter uma única bomba nuclear - especialmente quando Israel, Paquistão e Indía têm armas nucleares?

Mas, então, essa é a missão do noticiário na TV: fugir das questões óbvias.

 

Latino-americanos e árabes

O que é mais marcante na relação entre latino-americanos e árabes é que se fala muito em cultura árabe e latina, fala-se muito em panarabismo e panamericanismo, mas na prática, bem, a coisa não funciona bem assim. Ao contrário de europeus, árabes e latinos tendem a viver em sistemas políticos e econômicos que ficam longe do desejar o que acentua rivalidades. Países como a Bolívia não tem acesso ao mar, rivalidades comuns(Argentinos e chilenos, libaneses e sírios, etc) costumam se exacerbar, habitantes dos países mais pobres(bolivianos, paraguaios ou afegãos) costumam ser malvistos nos países mais ricos . São países que alternam governantes excessivamente ligados à Washington em detrimento da vontade da população com demagogos populistas. Num encontro em que, bem, os puxa-sacos dos americanos não aparecem, a grande coisa em comum é a condenação, óbvia, das ações de Israel e dos EUA.

A Confederação Israelita, entre outras entidades pró-Israel, claro, protestou, assim como vários jornalistas. Bem, aos comentários da declaração, que está em itálico:

1 – Importaram para nosso País uma guerra que não é nossa – uma guerra que, em seu campo próprio, já é objeto de negociações e tende a se extinguir;

Não consta que o Brasil esteja fornecendo armamentos nem dinheiro para nenhum dos seus dois lados. A guerra entre os dois países está muito longe de se extinguir e as negociações estão congeladas há mais de cinco anos.

Também não vejo sentido uma pequena federação querer decidir o que o Itamaraty assina ou deixa de assinar.

2 – Aprovando o item 2.16, endossaram o terrorismo, ao aceitar a suposta diferença entre o “terrorismo bom”, aceitável, e o “terrorismo ruim”, que deveria ser condenado. Na prática, “terrorismo bom” é aquele que alguns signatários da Declaração Conjunta praticam ou apóiam; “terrorismo mau” é aquele praticado contra esses países ou seus aliados. Pura balela: terrorismo é terrorismo, é crime contra a Humanidade. Este crime não deixa de existir quando tentam adjetivar seu nome.

A Confederação Israelita fala como se os próprios israelenses, antes da fundação do Estado de Israel, não tivessem cometido atentados contra árabes e ingleses. Ou ainda que os israelenses não tivessem levado a cabo a infame Operação Suzannah, em que agentes do Mossad explodiram várias bibliotecas, um cinema e outros prédios americanos no Egito em 1952, numa tentativa de atribuir o atentado aos árabes.

Isso sem contar ataques áereos, demolição de casas, tortura, que não só atingem civis como mulheres e crianças.

3 – Aprovando o item 2.17, endossaram a ação de movimentos armados que buscam atingir civis, como aquele que mantém entre suas vítimas, há 110 dias, um nosso compatriota, o engenheiro João José de Vasconcellos Jr., sem que sua família e nosso país recebam qualquer notícia sobre seu destino;

A Confederação se esquece do fato da maioria das retaliações de Israel contra os palestinos serem ataques em áreas civis(A não ser que todos os palestinos sejam terroristas e todos os israelenses civis) e de Mohamad Hasan Musa, cidadão brasileiro, morto por forças israelenses.

4 – Não faz qualquer menção à democracia, nem aos direitos humanos, nem aos direitos das mulheres, sistematicamente desrespeitados por muitas nações que participaram da Cúpula;

A Confederação quer decidir o que o Itamaraty assina.

5 - É curioso verificar que países militarmente ocupados e cujo Governo só pôde ser escolhido graças à ocupação, como o Iraque;

A Confederação parece falar como se não soubesse o tamanho da atrocidade que foi a ocupação e qeu o tal governo escolhido tem pouca representação popular.

e países que ocuparam militarmente seus vizinhos até menos de duas semanas atrás, como a Síria, cujas tropas mantiveram o controle armado do Líbano por 30 anos, assinam documento que condena a ocupação militar de territórios estrangeiros;

A Confederação esquece que o problema não é Israel ocupar territórios estrangeiros, mas sim o fato de se promover colonizações(O que é contra a Convenção de Genebra), permanecer contra a vontade das populações submetidas à ela e principalmente por desrespeitar vários artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com um estado de sítio permanente e vários massacres. Ou ainda que a invasão israelense ao Líbano não tenha matado mais de dez mil pessoas.

6 – O Brasil foi desrespeitado, já que, segundo o chanceler Celso Amorim, a “Conferência de Cúpula Árabe-Sul Americana” teria caráter econômico e cultural e não se voltaria a ataques a aliados históricos do Brasil.

Frase que não faz sentido algum.

Em resumo, realizou-se um grande esforço de propaganda em favor de causas alheias ao interesse do Brasil.

Bobagem, como se muita gente tivesse prestado atenção naquele papel.

E se tornou óbvio que o objetivo árabe nesta “Conferência de Cúpula” era condenar metade da guerra, em vez de aproveitar a oportunidade e condenar a guerra inteira.

A Confederação fala como se a questão fosse uma simples guerra, não um estado de agressão permamente contra uma população inteira.

Atualização: No sono, eu acabei grafando "Federação" ao invés de Confederação. A falha já foi acertada.

jeudi, mai 12, 2005

 

Anotações no Papel de Pão II

Não sei o que é pior: o governo gastar papel e tinta com uma cartilha de politicamente correto ou um monte cretinos gastarem saliva, tinta, papel e teclado para comentar a dita.

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O Troféu Pollyanna do mês vai para a Veja São Paulo, que acredita mesmo que a cidade de São Paulo vai ganhar 1,9 milhão de metros de áreas verdes de uma hora para outra.

(Os outros vencedores do troféu são aqueles que acreditaram na onda de democracia no Oriente Médio e em todos aqueles que acreditam que Bush é homem de valores e capaz de trazer segurança aos EUA).

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Semana passada, os americanos anunciaram a captura de um líbio que seria o número três da Al-Qaeda. Nenhum especialista em segurança ou em terrorismo conhecia o sujeito, que segundo seria comentado por um ex-associado de Bin Laden, "servia apenas o cafezinho e tirava xerox".

Mais uma mentira com jeito de dramalhão num mar de mentiras(Nunca vi um chefe de estado mentir tanto quanto Bush e Blair. Até Stálin, aquele que apagava desafetos de fotos históricas, devia ser mais sincero).

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Uma dúvida que assola o coração dos paulistanos há um bom tempo: quando que se vai tomar uma atitude com relação à super-lotação da linha vermelha do metrô? Chega o horário de pico, o usuário(Na Barra Funda, ponto inicial do sistema) precisa as vezes esperar duas, três quatro composições para poder embarcar, sempre apertadíssimo.

Para mim, é falta de mais linhas.

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Já o Rodoanel está entrando no rol das grandes obras de infra-estrutura mais conturbadas da história brasileira, junto com a Ferrovia do Aço, a Ferrovia Norte-Sul e a Transamazônica. A previsão inicial era de inauguração em 2008, até agora só há um trecho de pouco mais de 30 km de uma obra de 170 km, com a construção do trecho sul emperrada por motivos ambientais e financeiros.

Eu sempre achei a obra uma bobagem imensa, que retiraria uma fatia mínima do trânsito na capital a um custo ambiental e financeiro gigantesco. O buraco cada vez parece ser maior.

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Desnecessário comentar a decisão de José Serra de obrigar os estabelecimentos comerciais a fazerem seus descarregamentos à noite, numa forma esdrúxula de tentar diminuir os congestionamentos. A culpa do trânsito em São Paulo ser tão caótico como é não é culpa dos caminhões, mas de anos de uma política de transportes centrada no uso de carros e ônibus. Não vejo sentido que os comerciantes tenham que arcar com os custos adicionais de energia, segurança, adicionais de trabalho noturno, muito menos que os empregados tenham que trabalhar à noite ou que os moradores da cidade tenham que aturar níveis adicionais de ruído à noite. Ainda mais para reduzir em níveis mínimos os congestionamentos. Uma decisão autoritária e inútil.

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Para não dizer que tudo são pedras, a decisão da prefeitura paulistana de combater os pichadores da forma devida - como violadores da lei - é acertadíssima. Vamos ver no que vai dar.