Contra o Consenso: Lula, Lula e Lula
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jeudi, mai 26, 2005

 

Lula, Lula e Lula


Avenida Eusébio Matoso em São Paulo em obras no ano passado, com propaganda eleitoral ao fundo

Ontem, eu fuçava o site da revista Primeira Leitura e notei uma coisa curiosa: o site da revista ignorava que São Paulo, a maior cidade do país, havia sido inundada. Falava daquela CPI dos Correios(Que no máximo vai conseguir é torrar a paciência de quem acompanha o noticiário político, como quase toda CPI), mas não do fato de São Paulo ter passado um dia inteiro praticamente paralisada por causa da chuva. Talvez fosse politicagem, já que as enchentes atingiam em cheio o PSDB, mas, bem, a revista sempre deixou questões de lado. Mas de fato tinhamos uma revista cuja a redação de localizava no distrito paulistano do Itaim-Bibi, ao lado do Pinheiros que quase transbordou, ignorando um problema ao lado.

Ontem o Tiago chegou num ponto interessante: fala-se muito de Brasília quando se discute os problemas brasileiros e pouco do governo municipal e estadual. Uma birra minha com o "esquerdismo engajado" de São Paulo é que se fala muito de Lula, e pouco de Geraldo Alckmin, que, afinal de contas, é a antítese da esquerda. Cansei de ver gente falando em neo-liberalismo, mas poucos falando sobre o fato de ter gente apanhando a rodo da polícia militar na rua.

Eu tenho uma certa dificuldade de linkar muitos blogs porque eu não sei de que canto do país o sujeito escreve. Afinal, só se fala de Lula, Lula e Lula. Mesmo com problemas que são questões municipais(Educação) ou estaduais(Segurança a culpa é de Lula). Por exemplo, a maioria dos movimentos pela paz de São Paulo ainda insistem na idéia de só falar em governo federal para protestar sobre determinado assassinato. Parece que o Governador e o secretário estadual de segurança não tem responsabilidade sobre isso, só Lula.

Essa questão em si se torna um tanto séria, porque aí a base do sistema democrático da população fiscalizando o governo para poder escolhe-lo se torna ainda mais frágil do que ela já é. Afinal, as esferas mais importantes - municipal e estadual - são ignoradas. As políticas que de fato influem na sua vida, como a questão de transportes, segurança, educação ou saúde são questões estaduais e municipais. Basicamente, o que o governo federal nessas áreas faz é criar regulamentações e similares. É preciso colocar no centro das críticas não as futricas políticas de Brasília, mas o que seu governador e seu prefeito fazem.

Pessoalmente, Emídio, prefeito de Osasco, talvez seja o petista que mais me preocupe, talvez pela minha convivência com esta cidade, assim como outros prefeitos do PT. Mais que José Dirceu ou mesmo Lula.

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Além do mais, precisamos esquecer por um momento fofoquinhas políticas e centrar fogo nas questões principais. Mais importante do que o fato de Lula estar se aliando ao PTB, ao PRONA ou a eei lá o quê são políticas de transporte, educação, saúde, segurança. Em São Paulo, por exemplo, eu nunca vi gente discutindo sobre a questão de transporte público. Fora do VLT da Baixada Santista isso não se discute. Poucas vezes vi discussão sobre algum tipo de metrô leve em São Paulo. O governo estadual discute conceder uma malha rodoviária(Dom Pedro-Ayrton Senna-Carvalho Pinto-Tamoios) que pode aumentar o pedágio pago numa viagem entre Campinas e o litoral norte de São Paulo em mais de vinte reais. O Rodoanel poucos discutem se seu custo-beneficio é favorável ao público. Poucos jornais falam do assunto. Mesmo políticas educacionais ou de segurança pública são ignoradas, com exceção talvez do desarmamento.

Pode parecer bobagem, mas será que se houvesse uma real discussão teríamos visto a construção de obras viárias que degradariam regiões inteiras, como o Minhocão? Ou ainda Paulo Maluf enterrando uma linha de metrô inteira num túnel debaixo do Ibirapuera? Afinal, a Lower Manhattan Expressway, uma via elevada que desalojaria dez mil pessoas e destruíria um bom sem número de prédios históricos em Nova York, foi deixada de lado por pressão popular.

Deixemos as fofocas políticas de lado. Vamos ao que interessa.