Contra o Consenso: Latino-americanos e árabes
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vendredi, mai 13, 2005

 

Latino-americanos e árabes

O que é mais marcante na relação entre latino-americanos e árabes é que se fala muito em cultura árabe e latina, fala-se muito em panarabismo e panamericanismo, mas na prática, bem, a coisa não funciona bem assim. Ao contrário de europeus, árabes e latinos tendem a viver em sistemas políticos e econômicos que ficam longe do desejar o que acentua rivalidades. Países como a Bolívia não tem acesso ao mar, rivalidades comuns(Argentinos e chilenos, libaneses e sírios, etc) costumam se exacerbar, habitantes dos países mais pobres(bolivianos, paraguaios ou afegãos) costumam ser malvistos nos países mais ricos . São países que alternam governantes excessivamente ligados à Washington em detrimento da vontade da população com demagogos populistas. Num encontro em que, bem, os puxa-sacos dos americanos não aparecem, a grande coisa em comum é a condenação, óbvia, das ações de Israel e dos EUA.

A Confederação Israelita, entre outras entidades pró-Israel, claro, protestou, assim como vários jornalistas. Bem, aos comentários da declaração, que está em itálico:

1 – Importaram para nosso País uma guerra que não é nossa – uma guerra que, em seu campo próprio, já é objeto de negociações e tende a se extinguir;

Não consta que o Brasil esteja fornecendo armamentos nem dinheiro para nenhum dos seus dois lados. A guerra entre os dois países está muito longe de se extinguir e as negociações estão congeladas há mais de cinco anos.

Também não vejo sentido uma pequena federação querer decidir o que o Itamaraty assina ou deixa de assinar.

2 – Aprovando o item 2.16, endossaram o terrorismo, ao aceitar a suposta diferença entre o “terrorismo bom”, aceitável, e o “terrorismo ruim”, que deveria ser condenado. Na prática, “terrorismo bom” é aquele que alguns signatários da Declaração Conjunta praticam ou apóiam; “terrorismo mau” é aquele praticado contra esses países ou seus aliados. Pura balela: terrorismo é terrorismo, é crime contra a Humanidade. Este crime não deixa de existir quando tentam adjetivar seu nome.

A Confederação Israelita fala como se os próprios israelenses, antes da fundação do Estado de Israel, não tivessem cometido atentados contra árabes e ingleses. Ou ainda que os israelenses não tivessem levado a cabo a infame Operação Suzannah, em que agentes do Mossad explodiram várias bibliotecas, um cinema e outros prédios americanos no Egito em 1952, numa tentativa de atribuir o atentado aos árabes.

Isso sem contar ataques áereos, demolição de casas, tortura, que não só atingem civis como mulheres e crianças.

3 – Aprovando o item 2.17, endossaram a ação de movimentos armados que buscam atingir civis, como aquele que mantém entre suas vítimas, há 110 dias, um nosso compatriota, o engenheiro João José de Vasconcellos Jr., sem que sua família e nosso país recebam qualquer notícia sobre seu destino;

A Confederação se esquece do fato da maioria das retaliações de Israel contra os palestinos serem ataques em áreas civis(A não ser que todos os palestinos sejam terroristas e todos os israelenses civis) e de Mohamad Hasan Musa, cidadão brasileiro, morto por forças israelenses.

4 – Não faz qualquer menção à democracia, nem aos direitos humanos, nem aos direitos das mulheres, sistematicamente desrespeitados por muitas nações que participaram da Cúpula;

A Confederação quer decidir o que o Itamaraty assina.

5 - É curioso verificar que países militarmente ocupados e cujo Governo só pôde ser escolhido graças à ocupação, como o Iraque;

A Confederação parece falar como se não soubesse o tamanho da atrocidade que foi a ocupação e qeu o tal governo escolhido tem pouca representação popular.

e países que ocuparam militarmente seus vizinhos até menos de duas semanas atrás, como a Síria, cujas tropas mantiveram o controle armado do Líbano por 30 anos, assinam documento que condena a ocupação militar de territórios estrangeiros;

A Confederação esquece que o problema não é Israel ocupar territórios estrangeiros, mas sim o fato de se promover colonizações(O que é contra a Convenção de Genebra), permanecer contra a vontade das populações submetidas à ela e principalmente por desrespeitar vários artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos com um estado de sítio permanente e vários massacres. Ou ainda que a invasão israelense ao Líbano não tenha matado mais de dez mil pessoas.

6 – O Brasil foi desrespeitado, já que, segundo o chanceler Celso Amorim, a “Conferência de Cúpula Árabe-Sul Americana” teria caráter econômico e cultural e não se voltaria a ataques a aliados históricos do Brasil.

Frase que não faz sentido algum.

Em resumo, realizou-se um grande esforço de propaganda em favor de causas alheias ao interesse do Brasil.

Bobagem, como se muita gente tivesse prestado atenção naquele papel.

E se tornou óbvio que o objetivo árabe nesta “Conferência de Cúpula” era condenar metade da guerra, em vez de aproveitar a oportunidade e condenar a guerra inteira.

A Confederação fala como se a questão fosse uma simples guerra, não um estado de agressão permamente contra uma população inteira.

Atualização: No sono, eu acabei grafando "Federação" ao invés de Confederação. A falha já foi acertada.