Contra o Consenso: O Politicamente Correto
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mardi, mai 17, 2005

 

O Politicamente Correto

A grande polêmica agora é o tal livrinho de politicamente correto que o governo imprimiu. Utilizam termos que fazem referências à aquele autor britânico medíocre(Sim, Orwell criou conceitos fascinantes. Mas como escritor ele tinha várias deficiências) para se referir ao livro, como se ele fosse uma imposição ou coisa do gênero. O que eu acho bobagem.

Vamos lá. O que se convencionou chamar de politicamente correto é falho em diversos pontos. Primeiro, porque as pessoas devem ser chamadas pelo seu nome. Ninguém chama fulana de "branca", "caucasiana", "indo-européia", "ariana" nem nada do gênero. Chama pelo nome. Isso obviamente deve valer para pessoas de todas as discriminações. Para situações mais específicas, creio que o termo mais óbvios e cientifícos são bastante aceitáveis. Deficiente físico não é nada ofensivo, creio eu, se estivermos falarmos de ações afirmativas para pessoas nessa situação, como assentos em coletivos. Segundo, é uma denominação que tende a ser sectária em vários pontos. Afro-alguma coisa subentende que tal negro teria uma influência cultural(no caso africana) maior que a média, quando diversas minorias tiveram um longo histórico de lutas para conseguir se integrar à cultura dos países em que refugiaram.

Claro, existem sim termos ofensivos à várias minorias, e estes são evitados por pessoas minimamente sensatas, como "crioulo", "nigger", "kike", "japs". Pessoas inteligentes e com um certo conhecimento histórico sabem evitar termos que se relacionam à grupos relacionados a racismo ou a certos contextos históricos. Reclamar do racismo de piadas de loira pode pegar mal, por exemplo, já que esta é uma reclamação constante de supremacistas brancos. Mas aí é uma opção de quem fala. Assim como de quem quiser assumir o tal vocabulário. Ninguém pode ser forçado a nada.

A imagem de ditaduras do politicamente correto dentro das universidades americanas é falsa. Como diz o Professor Barry Glassner no seu ótimo "A Cultura do Medo":

Uma das campanhas alarmistas mais eficazes do final do século xx - o politicamente correto - foi empreendida com o objetivo expresso de modificar os termos de debate sobre civilidade. Compreenda, as pes­soas que criaram o pânico não a expressaram nesses termos: elas exprimi­ram seu alarmismo usando a linguagem da Primeira Emenda.a No final
da década de 1980, comentaristas conservadores começaram a advertir sobre o que descreviam como "a maior ameaça à Primeira Emenda de nossa história" (Rush Limbaugh), "o equivalente ao movimento nazista de controle de pensamento" (Walter Williams) e "um vírus ideológico tão mortal quanto a AIDS" (David Horowitz).
Em 1991, o presidente George Bush, em um discurso de formatu­ra na Universidade de Michigan, apresentou a questão com um pouco mais de sobriedade, ao censurar aqueles que "declaram proibidos alguns assuntos, proibidas algumas expressões, até mesmo proibidos alguns gestos". Alguns professores e estudantes estavam de fato pressionando
a. Parte da Constituição americana que dá ao cidadão o direito à liberdade de expres­são, liberdade de imprensa, liberdade religiosa e liberdade de reunião. (N. T.) para quê determinados tipos de declarações e gestos fossem abolidos da Vida umversitária. Especificamente, procuravam maneiras de acabar com comportamentos racistas, sexistas e homofóbicos. Se algo pode ser qualificado como incivilizado em uma sociedade diversificada, argurmentavam, é precisamente esse tipo de comportamento.21

Aqueles que foram censurados por serem politicamente corretos
estavam procurando criar um ambiente mais respeitoso e inclusivo nas
universidades para grupos que foram amplamente excluídos - um ob­jetivo que os conservadores não podiam atacar de frente para não per­der o apoio já frágil que tinham entre as minorias. Além disso, longe de serem defensores absolutos da Primeira Emenda, muitos conservadores apoiavam medidas restritivas em relação a diversos tipos de comporta­mento, de queima de bandeiras à exibição de arte homoerótica. Então, em vez de discutirem honestamente com liberais e progressistas nas uni­versidades, os conservadores os rotularam de "politicamente corretos". De modo muito semelhante a como seus ancestrais usaram o epíteto "comunista" há algumas décadas, os conservadores da década de 1990 acusaram seus inimigos de serem politicamente corretos (pc). (...)

É verdade que os ativistas de esquerda às vezes se comportavam com desfaçatez ou intolerância. Em certas ocasiões, certos palestrantes foram vaiados por ser considerados racistas, sexistas ou antihomosse­xuais. O total dessas ocorrências, porém, não sustentava a afirmação. de que "a deslegitimação, até mesmo a demonização do homem branco aringiu limites extremos", como escreveu, em 1996, Paul Craig Ro­berts, do Instituto Cato, um centro de estudos conservador, em um artigo op-ed do San Francisco Examiner. Transacionando perfidamente so­bre a memória do Holocausto, b Roberts passou então a afirmar que as a&ontas aos homens brancos nas universidades são "comparáveis à ... delação de judeus por anti-semitas" .26

(...)

Afirmações exageradas desse tipo receberam mais atenção da opi­nião pública que os padrões reais de discriminação e exclusão nas uni­versidades americanas. Talvez os editores ficassem desesperados de ser chamadosr de politicamente corretos caso publicassem a história, mas havia uma importante a ser contada. Os dados eram bem alarmantes: na véspera do século XXI, mulheres, negros e hispânicos, longe de to­mar o lugar dos homens brancos do corpo docente, na maioria das ve­zes tinham os piores empregos e salários. No auge do pânico acerca do politicamente correto, no começo e meados da década de 1990, as mu­lheres totalizavam menos de um terço dos corpo docente com dedica­ção integral nas faculdades e universidades americanas, número so­mente um pouco superior ao de 1920, quando as mulheres adquiriram o direito de voto. Apenas um entre cerca de 20 professores era hispâ­nico ou afro-americano.
As pesquisas feitas entre estudantes registraram outras tendências alarmantes. As mulheres e os estudantes de cor freqüentemente rece­biam menos atenção e estímulo nas salas de aula que seus colegas bran­cos, e fora das classes eram alvo de milhares de ataques físicos e verbais todos os anos. Da mesma forma, estudantes gays e lésbicas enfrentavam ataques, intolerância e ameaças de morte. Mesmo em faculdades noto­riamente liberais, os gays e as lésbicas sofriam preconceitos. Em uma pesquisa feita em Yale, quase todos os estudantes gays e lésbicas disseram çue tinham escutado comentários preconceituosos, e um entre cada
quatro havIa sido ameaçado. Na Faculdade Oberljn, praticamente meta­de dos estudantes gays, lésbicas e bissexuais afirmaram ter de censurar a si próprios quando debatiam assuntos gays.
Enquanto isso, para os integrantes do corpo docente em muitas fa­culdades, o fato de ser abertamente gay ou lésbica significava arriscar não conseguir obter estabilidade no emprego, promoção e oportunida­de de transferir-se para cargos administrativos, mostrou a pesquisa.

(...)


Eu pessoalmente acho que há um exagero quando se fala em ditadura do PC. Eu acho meio bobo termos como afro-americanos ou ainda que em escreve coisas como médic@s, mas bem, não sou eu quem decide como fulano fala ou escreve. Vale lembrar de várias tentativas de conservadores de tirar livros como "A Evolução das Espécies" de Darwin das bibliotecas públicas ou mesmo de livros de autores gays, como um representante republicano no Alabama desejava fazer, antes de querer colocar o politicamente correto como a maior ameaça mundial contra a liberdade de expressão.

Resumindo, o pânico em cima da cartilha de politicamente correto do governo é falta do que fazer.