Contra o Consenso: A Carta Capital e a Brasil Ferrovias
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mercredi, avril 27, 2005

 

A Carta Capital e a Brasil Ferrovias

A Carta Capital publicou uma notinha sobre a ajuda do BNDES à concessionária Brasil Ferrovias. Há um monte de equívocos dentro do texto. A notar.

A Brasil Ferrovias é fruto de um sonho megalômano do empresário Olacyr de Moraes e a ação dos magos da privatização do governo Fernando Henrique Cardoso.

Errado. A Ferronorte, que foi a participação do Olacyr de Moraes dentro da Brasil Ferrovias, era um projeto viável, sem nada de megalomania(Ao contrário da Ferrovia do Aço, da ferrovia Norte-Sul e outros projetos megalomaníacos do governo federal). Ela quebrou basicamente porque o governo do Estado de São Paulo e Governo Federal(Na época, governados respectivamente por Mário Covas e Fernando Henrique) não cumpriram a única parte que lhes devia dentro da obra, uma ponte rodoferroviária sobre o Rio Paraná, que ficou paralisada por mais de dois anos, com as obras da Ferronorte já tendo sido iniciadas.

Mas, concordo, o processo de privatização da FEPASA e da RFFSA de fato tiveram vários erros. No caso da FEPASA, toda a malha foi vendida para um grupo só, que englobavam companhias que haviam sido formadas basicamente competindo entre si, com duas bitolas diferentes. Também não se calculou sobre o que fazer com o material, muitas vezes de valor histórico(estações principalmente) que não seriam usados pelas concessionárias e o governo não se preocupou com o transporte de passageiros à longa distância, que até por ter rentabilidade baixa na maioria dos países é subsidiado pelo estado. Esqueceu-se também de que a FEPASA muitas vezes necessitava usar parte da malha da RFFSA para chegar a Santos, assim como o contrário, o que criou vários gargalos burocráticos. Mas não acho que as duas estatais deveriam ter sido mantidas(Aliás, poucos estudiosos do assunto concordam com isso) .

A criação de uma holding, a reunir a Novoeste, a Ferronorte e a Ferroban, foi saudada como sinais de novos tempos no setor ferroviário brasileiro, o momento em que, finalmente, o País usaria os trilhos de forma eficiente e produtiva, em prol do crescimento e da competitividade. Alguns anos depois, sobram ruínas.

A Brasil Ferrovias só foi criada em 2002, seis anos depois do início do processo de concessão da malha, entre outros motivos por causa do acesso ao Porto de Santos, que tanto a Ferronorte e a Ferroban necessitam da malha da Ferroban para isso.

Quando a Brasil Ferrovias foi criada, as três empresas que formariam o holding já tinham péssima reputação. Ferronorte era a ferrovia que havia quebrado Olacyr de Morais, Ferroban havia sido apelidada de Ferrobandida, sendo conhecida pela sua péssima administração, atrasos no pagamento de funcionários e descaso com o material rodante, assim como a Novoeste.
(A ASSEF, Associação de Engenheiros Ferroviários do Estado de São Paulo, mantém uma página só para postar notícias contra a Ferroban).

O grupo deve R$ 357 milhões ao Tesouro Nacional pela falta de pagamento das parcelas de arrendamento e concessão da Ferroban e da Novoeste. Enquanto as fundações e o BNDES entram com a grana, a única iniciativa dos sócios privados parece ser a de arrumar um jeito de se livrar do mico.

Com o aporte, os bancos JP Morgan e Bradesco, fundos de investimento dos Estados Unidos e a Constran, de Olacyr de Moraes, vão reduzir sua parcela de participação na companhia. Chega ao fim mais uma aventura do capitalismo à brasileira.

O grosso das ações da Brasil Ferrovias, mais de 80%, estava nas mãos do FUNCEF(Fundo de pensão dos funcionários da Caixa) e da PREVI(Fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). Foram sempre os fundos que decidiam as coisas dentro da Brasil Ferrovias. A participação de outros acionistas sempre foi bastante pequena.