Contra o Consenso: Por quê a esquerda brasileira gosta tanto do Pró-Álcool?
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samedi, avril 30, 2005

 

Por quê a esquerda brasileira gosta tanto do Pró-Álcool?

Uma dúvida que me aflige é a extrema paixão com que a esquerda nacional lida com o Pró-Álcool. A maioria acha que o programa é a salvação mundial para a questão do petróleo, outros ficam ardidos quando se fala mal do programa. A Carta Capital já fez vários artigos maravilhada com uma possível volta do programa. Eu não entendo(Descontando a paixão de boa parte da nossa esquerda pelo rodoviarismo, que acho um contrasenso).

O Pró-Álcool surgiu no auge da ditadura militar, pelo governo Geisel, em 1975. Para forçar os brasileiros a utilizarem uma forma de combustível pouco eficiente(Carro à àlcool era famoso por não pegar em dias frios), o governo subsidiava pesadamente essa forma de combustível, o que basicamente significava uma forma de distribuição de renda ao contrário, dos trabalhadores para os usineiros e donos de carro. Os país assistiria a ascensão de uma casta de usineiros, que se mostraria uma das piores espécies de empresários a surgirem no país: cometiam fraudes, não pagavam empréstimos dentro do Banco do Brasil e exploravam trabalhadores. A exploração da cana de áçucar se mostraria anti-ecológica, desgastando o solo com uma monocultura e as famosas queimadas. Para piorar, alguns dos casos mais odiosos de exploração de trabalho infantil vistos no país ocorreriam nas plantações de cana.

O Pró-Álcool seria um bom exemplo do nefasto rodoviarismo que surgiria no país depois de Juscelino Kubitschek. Os militares prefeririam manter o preço do álcool artificialmente baixo ao invés de investir no transporte ferroviário de passageiros, extinguindo ramais e linhas com generosidade. Com exceção de algumas tentativas fracassadas de se estabelecer trens expressos, o foco dos investimentos no serviço militar dentro do setor ferroviário era o transporte de matéria-primas primárias, caso do corredor de exportação da FEPASA e da Ferrovia do Aço, muitas vezes efetuando retificações que faziam as linhas passarem longe dos centros urbanos. A eletrificação das ferrovias ocorreria num ritmo absurdamente lento. Poderia-se ter optado pelo transporte ferroviário numa época em que a energia elétrica era farta e barata. Preferiu-se o Pró-Álcool, combustível de um meio de transporte que já nessa época causava a degradação da qualidade de vida das grandes cidades, além de causar um número assustador de mortes no trânsito.

Definitivamente, não consigo entender a paixão de boa parte da esquerda nacional por uma das mais desastrosas idéias do governo militar.