Contra o Consenso: Amor e ódio
Google
 

dimanche, juin 12, 2005

 

Amor e ódio

A seção de Cartas ao Leitor do NoMínimo foi inundada de e-mails mal-educados por quê Paulo Roberto Pires reclamou contra o fato da classe média ter colocado um policial militar flagrado pelas câmeras chutando um assaltante. São reflexos do mesmo populismo que coloca um Coronel Ubiratan, um Conte Lopes ou um Afanásio como paladinos da justiça. Há vários pontos a destacar sobre esse raciocinio:

1-) A polícia é um dos grandes braços físicos do Estado. Se a polícia passa a ter carta branca para espancar criminosos ou ainda, se fugir do controle da lei, estamos a meio passo da tirania. Se o policial fere a lei ao bater num ladrão, nada impede que ele fira a mesma lei para vender cocaína ou extorquir comerciantes. Também não é papel do policial julgar nem prender.

Eu pessoalmente dispenso que a polícia interfira na minha liberdade pessoal, o que inevitavelmente ocorre com as políticas de "tolerância zero"(Nos EUA, já prenderam uma menina de doze anos que cometeu o grave crime de comer batatas fritas no metrô). Já não nos bastam os criminosos, agora temos que encarar a violência da polícia também?

2-) Penas duras não é garantia de segurança. Primeiro, assaltantes em geral mal-sabem a quantidade de anos que podem ficar presos. Segundo, ninguém assalta banco pensando na menor possibilidade de ser preso. Seja para ficar preso dois, três anos, o que seja.

3-) Uma polícia dura com criminosos não precisa ser necessariamente fora da lei.

4-) Criminosos não são uma casta única. Não faz sentido achar que um avião do tráfico mereça porrada da mesma forma que um estuprador. Ou que todo preso seja uma ameaça mortal, ainda mais num país em que boa parte dos presos são traficantes pequenos.

5-) O que dá medo não é ódio aos criminosos(O que muitas vezes se traduz num ódio ao pobre), mas o amor que esse povo nutre pela polícia, em especial por uma polícia violenta e que coibe as liberdades individuais. O que nos leva a desconfiar que esse povo nunca foi assaltado: é dificil adorar a polícia quando se o tratamento que lhe é dispensado ao registrar ocorrência. Ou ainda pelo fato da polícia não aparecer quando você está lá, com arma na nuca.

Eis um passo que pouco se pensou: o fascismo que resplandesce não das palavras de ódio ao criminosos, mas nas palavras de amor à polícia.

***

O Brasil é maravilhoso. O governo fala como social-democrata, o povo fala como fascista.

***

Falando nisso, pede-se mais uma vez a renúncia de Saulo Abreu de Castro, o Secretário da (in)Segurança de São Paulo. Isso nunca é demais para o chefe de uma das polícias mais violentas, corruptas e racistas do país.