Contra o Consenso: O fim do subúrbio
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vendredi, juin 10, 2005

 

O fim do subúrbio


near Chapultepec
Originally uploaded by borya.
Há um filme canadense, relativamente novo, que deveria ser presença obrigatória nas escolas, prefeituras e demais orgãos públicos brasileiros. Chama-se The End of Suburbia: Oil Depletion and the Collapse of The American Dream(O Fim dos Subúrbios: O esgotamento do petróleo e o colapso do Sonho Americano), de James Howard Kunstler.

O Suburbia do título são os subúrbios americanos, os bairros afastados das grandes cidades americanas, praticamente na Zona Rural. São um dos estilos de vida mais custosos ao meio ambiente que existem, uma vez que exigem que seus moradores façam quase todas as suas funções básicas de carro. Pior, muitas vezes exigindo o transbordo de carro ao trabalho, por dezenas de quilômetros.

O filme parte de uma perspectiva pessimista com relação à possibilidade de esgotamento de petróleo. Considera não haver alternativas: as fontes eólicas e solares são ineficientes, as reservas de gás e carvão natural estão a caminho do esgotamento, mesmo o urânio irá se esgotar, o etanol e a bio-massa são ineficientes, de que consomem mais energia no seu plantio e na sua produção(Nem haveria terra suficiente para sua produção), de que o hidrogênio é uma piada(Ele seria uma fonte de armazenamento de energia, não de energia, cuja a produção consome mais energia que produz). Os autores entrevistados prevêm inclusive guerras pelo controle de reservas. Eles consideram o atual padrão de vida dos americanos insustentável, de que existirão pressões políticas para mantê-lo, e que isso poderia levar a anos de recessão generalizada. O estilo dos subúrbios é altamente criticado por destruir áreas agrícolas e reservas de verde.

Bem, esse estilo de vida vêm sido seguido à risca aqui no Brasil, em especial no interior de São Paulo(Inclusive, os anúncios dos condomínios seguem o mesmo padrão do usado aqui: uso de motivos da natureza, com nomes de animais). Os efeitos já são sentidos: muitas cidades do interior já enfrentam problemas típicos de cidade do interior, já existem problemas ambientais relacionados à esses empreendimentos, isso afeta negativamente os fluxos das rodovias, já que esse tipo de empreendimento é feito à beira de auto-estrada.

A péssima estrutura de transportes tem feito a ocupação urbana estar sendo feita da pior forma possível. A classe média foge dos altos preços dos alugueis de São Paulo para cidades servidas por rodovias, enquanto os pobres se amontoam nas cidades servidas pelo trem de subúrbio.

Por exemplo, de 1991 para cá: Sorocaba(90 km a oeste da capital) passou de 374,108 habitantes para quase 521,500! Isso é quase o dobro de aumento. Itapevi, uma cidade dormitório paupérrima na extremidade de uma das linhas dos trens de subúrbio que servem a capital, passou de 107,976 para 179,200 no mesmo período. Caieiras, à beira de uma das linhas de trens, de 37,770 para 78,000(!). Louveira, a beira da Via Anhanguera, região de Campinas, de 14,131 para 24,000. Isso enquanto a maior parte das regiões do interior mais distantes têm tido crescimento inexpressivo ou mesmo negativo. Isso no Estado de São Paulo, mas a degradação de áreas urbanas em outros espaços tende a causar o mesmo efeito, como já se enxerga no Rio de Janeiro.

O desenvolvimento de uma ocupação mais racional do espaço, tanto nos grandes centros urbanos como no interior, com uma rede de transportes mais planejada. Menos gastos com rodovias, mais com trens. Vale lembrar que o Brasil não tem tanta verba para manter esse estilo de vida como os americanos puderam bancar, com a construção de mais e mais rodovias.

Mas claro, como as imobiliárias e construtoras são algumas das maiores anunciantes dos jornais, todo mundo deixa isso de lado.


P.S: O End Of Suburbia é um bom documentário. Apesar de engajado, tem um tom mais sério que o Michael Moore ou Morgan Sporlock. Pode ser encontrado com facilidade em redes peer-to-peer, como o E-Mule.