Contra o Consenso: Empresas privadas e estatais
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dimanche, juillet 10, 2005

 

Empresas privadas e estatais

Todo mundo tem uma empresa ou corporação que odeia. Pode ser o McDonalds, a Nestlé, a Coca-Cola, a Microsoft, a Google, ou mesmo aquele super-mercado da esquina que te atendeu mal. As pessoas tendem a ser bastante exigentes com empresas privadas porque sabem que estão pagando por um serviço. Ninguém é estúpido a ponto de ficar idolatrando empresas privadas gratuitamente. Qualquer elogio à uma empresa privada é condicionado a uma satisfação com a prestação de serviços. Isso é vantajoso, uma vez que coloca uma forte pressão em cima delas.

No entanto, a coisa muda quando se fala de estatais. As pessoas vivem na ilusão de que são também donas da Petrobrás ou do Banco do Brasil. Mesmo que atendimento, em vários pontos do Banco do Brasil seja péssimo, ou que a Petrobrás já tenha causado um sem número de acidentes, as pessoas tendem a defender essas empresas com unhas e dentes. Poucos criticam o horário pouco abrangente de funcionamento das agências de correios, ou ainda de você ter que pagar taxas extras(E caras) para ter certeza absoluta que sua correspondência chega ao seu destinatário. A Petrobrás no seu aniversário de 50 anos, ano passado, ganhou destaque em vários jornais. Duvido que isso ocorreria nos EUA, nessa escala, com a GM ou com a Exxon. Poucos pensam que estatal é uma empresa da mesma forma que uma empresa privada, e de que elas são pagas para determinado serviço. A maioria fala como se os funcionários dessas empresas trabalhassem de favor, e esquece como é patético bancar o puxa-saco de uma empresa gratuitamente.

Quando a Telesp era estatal, quase ninguém odiava a empresa. Nem quando o presidente da empresa colocou a culpa na sobrecarga do sistema nos usuários da internet. Por outro lado, os usuários odeiam fervorosamente a Telefonica, a Telemar, a Embratel, a Claro, a Vivo, e tudo quanto é empresa de telefonia.

Empresa que tem a paixão irrestrita e incondicional dos seus consumidores, não importa a qualidade dos seus serviços, como é o caso do Banco do Brasil, dos Correios, da Petrobrás, não tem incentivo algum para oferecer melhores serviços. Estatal deveria ser tratada como empresa, não como deus.

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Toda empresa precisa de incentivos, de pressão de resultados para trabalhar com eficiência. No caso de empresas privadas, isso se chama mercado. No caso de empresas estatais, aonde a escolha da direção é por motivos políticos e não raro diretorias inteiras permanecem intactas mesmo anos de prejuízo, isso não existe. Então, a pressão e o incentivo devem existir politicamente também: os eleitores devem pressionar os governantes para que esses serviços sejam os mais eficientes possível(Sim, sei por questões técnicas que isso é muito díficil).

Então, as estatais deveriam se limitar a serviços fundamentais na vida do cidadão, de forma que ele possa sentir os impactos no caso de uma eventual queda dos serviços da sua vida. Por isso mesmo que coisas como o metrô deveriam fazer parte da discussão diária das pessoas, mais do que fofoquinhas políticas. No caso da antiga RFFSA, mesmo entre os fãs mais ferverosos de ferrovias era dificil achar alguém que soubesse de cor a real extensão da linhas, ainda mais considerando a enfase no transporte de cargas da empresa. Tanto que muitas linhas foram suprimidas(Ou inauguradas) com pouco destaque na imprensa. Muitas estatais privatizadas eram desconhecidas antes de serem vendidas.

Claro, isso não tira os erros cometidos no processo de desestatização. Mas que, francamente, não vejo sentido de estatais no setor industrial. Ou, ainda, que o governo federal mantenha dois bancos(Sou a favor de se privatizar o Banco do Brasil, após transferir parte do crédito agrícola e as agências menores para a Caixa). Ou, ainda, de que os Correios mantenham o monopólio sobre a correspondência.