samedi, juillet 02, 2005
F***-se o Live 8
O Live 8 é o Criança Esperança da MTV em níveis mundiais. As televisões e os artistas usam o evento como uma forma barata de fazer promoção delas. Pior, com os rumos que as coisas tomaram, o evento pode ser um golpe violento contra os próprios ativistas sociais e contra os africanos em si.
Primeiramente, o foco do evento está errado. Seria muito mais óbvio e menos simplório fazer um evento pedindo o fim da guerra ao Iraque e ao Afeganistão, pedindo um "nao" a um ataque ao Irã e sim, pedindo ajuda e mantimentos a esses lugares. Ainda mais se pensarmos que boa parte do foco do evento estará concentrado nos EStados Unidos e Reino Unido, aonde a pressão pacifista deveria ser mais forte.
Claro, na verdade, é muito pior: o evento abraça justamente uma campanha encabeçada por Tony Blair(Que fez a campanha para a anistia das dívidas dos países africanos, como se isso o perdoasse das atrocidades no Iraque ou tivesse alguma diferença na prática), um dos arquitetos da Guerra ao Iraque e ao Afeganistão. Bono Vox teria chamado Tony Blair e Gordon Brown de "Lennon e McCartney da redução da pobreza", para o desespero dos ativistas.
Patrick Bond, Dennis Brutus e Virginia Setshedi, ativistas com atuação na África, publicaram um duro e longo artigo na Counterpunch criticando de forma severa evento. O pior é que boa parte do texto faz bastante sentido.
Outro ponto chato é que a última coisa que a África precisa é de ajuda governamental. Certo, doar dinheiro para entidades como a Cruz Vermelha ou os Médicos sem Fronteiras são ações bastante dignas. São organizações que conhecem as necessidades dos pobres na África, e tem a agilidade e eficiência para tal. Por outro lado, ajuda estatal tende a ampliar a corrupção, ao manter no poder governos muitas vezes impopulares. Condicionar a ajuda à "reformas democratizantes"(Ou seja, aos furados planos econômicos vindos de economistas furados de Londres e Nova York que não tem noção alguma da realidade desses países) é uma atrocidade sem tamanho. Não faz sentido querer fazer campanha para que o G-8 doe dinheiro para os ditadores da África. Ainda mais considerando os efeitos desastrosos que o envio de verba dos soviéticos e americanos a ditadores como Mobuto Sese Seko tiveram no passado.
O ponto mais chato é que, se há uma coisa que de fato ajudaria muitos países africanos, isso seria justamente o fim dos subsídios agrícolas na Europa e Estados Unidos(Há outros pontos, já que outras alternativas boas para arrecadar verbas para os africanos, como, por exemplo, a caça regulamentada, tem sua maior oposição justamente entre a esquerda americana e européia). Será que os cantores tão preocupados com a causa social pediriam um fim à guerra ao Iraque na Philadelphia ou ainda, o fim dos subsídios agrícolas na França? Ou, será que o evento é mais uma tentativa hipócrita de parecer bonzinho e caridoso sem dar a cara para bater?
Bono Vox falou que eles não queriam "caridade, queriam justiça". É um discurso absurdamente vago(Até agora, não fiquei sabendo de ninguém falando em Darfour, no Sudão). Kofi Annan, aquele que foi duramente criticado pela sua inação nos massacres de Ruanda, disse: "Estas sim, são as Nações Unidas. Todo o mundo se uniu em solidariedade aos pobres". Como se a organização que ele dirige tivesse algum efeito positivo dentro da África. Como se fosse piada, Bill Gates, apareceu e foi aplaudido como grande benfeitor. Claro, como se os custos abusivos de seus softwares não fossem uma sangria para muitos governos de países pobres.
Outra: o Fórum Social Mundial foi bastante criticado por receber ajuda do governo. O Live 8 vai muito além disso, se alinhando, não só economicamente, mas ideologicamente com um governo impopular, que foi responsável por duas guerras ilegais, como com as grandes corporações, como a Time-Warner e Viacom, com Bill Gates, com a própria ONU.
Em suma, é um evento que traz no seu âmago a própria idéia da submissão do ativismo social à grandes corporações e aos governos. Ou seja, contra tudo o que os ativistas sérios(Aqueles que de fato colocam a mão na massa, que visitam e auxiliam doentes e pobres nos piores lugares do planeta ) se dispõem a fazer.
Primeiramente, o foco do evento está errado. Seria muito mais óbvio e menos simplório fazer um evento pedindo o fim da guerra ao Iraque e ao Afeganistão, pedindo um "nao" a um ataque ao Irã e sim, pedindo ajuda e mantimentos a esses lugares. Ainda mais se pensarmos que boa parte do foco do evento estará concentrado nos EStados Unidos e Reino Unido, aonde a pressão pacifista deveria ser mais forte.
Claro, na verdade, é muito pior: o evento abraça justamente uma campanha encabeçada por Tony Blair(Que fez a campanha para a anistia das dívidas dos países africanos, como se isso o perdoasse das atrocidades no Iraque ou tivesse alguma diferença na prática), um dos arquitetos da Guerra ao Iraque e ao Afeganistão. Bono Vox teria chamado Tony Blair e Gordon Brown de "Lennon e McCartney da redução da pobreza", para o desespero dos ativistas.
Patrick Bond, Dennis Brutus e Virginia Setshedi, ativistas com atuação na África, publicaram um duro e longo artigo na Counterpunch criticando de forma severa evento. O pior é que boa parte do texto faz bastante sentido.
Outro ponto chato é que a última coisa que a África precisa é de ajuda governamental. Certo, doar dinheiro para entidades como a Cruz Vermelha ou os Médicos sem Fronteiras são ações bastante dignas. São organizações que conhecem as necessidades dos pobres na África, e tem a agilidade e eficiência para tal. Por outro lado, ajuda estatal tende a ampliar a corrupção, ao manter no poder governos muitas vezes impopulares. Condicionar a ajuda à "reformas democratizantes"(Ou seja, aos furados planos econômicos vindos de economistas furados de Londres e Nova York que não tem noção alguma da realidade desses países) é uma atrocidade sem tamanho. Não faz sentido querer fazer campanha para que o G-8 doe dinheiro para os ditadores da África. Ainda mais considerando os efeitos desastrosos que o envio de verba dos soviéticos e americanos a ditadores como Mobuto Sese Seko tiveram no passado.
O ponto mais chato é que, se há uma coisa que de fato ajudaria muitos países africanos, isso seria justamente o fim dos subsídios agrícolas na Europa e Estados Unidos(Há outros pontos, já que outras alternativas boas para arrecadar verbas para os africanos, como, por exemplo, a caça regulamentada, tem sua maior oposição justamente entre a esquerda americana e européia). Será que os cantores tão preocupados com a causa social pediriam um fim à guerra ao Iraque na Philadelphia ou ainda, o fim dos subsídios agrícolas na França? Ou, será que o evento é mais uma tentativa hipócrita de parecer bonzinho e caridoso sem dar a cara para bater?
Bono Vox falou que eles não queriam "caridade, queriam justiça". É um discurso absurdamente vago(Até agora, não fiquei sabendo de ninguém falando em Darfour, no Sudão). Kofi Annan, aquele que foi duramente criticado pela sua inação nos massacres de Ruanda, disse: "Estas sim, são as Nações Unidas. Todo o mundo se uniu em solidariedade aos pobres". Como se a organização que ele dirige tivesse algum efeito positivo dentro da África. Como se fosse piada, Bill Gates, apareceu e foi aplaudido como grande benfeitor. Claro, como se os custos abusivos de seus softwares não fossem uma sangria para muitos governos de países pobres.
Outra: o Fórum Social Mundial foi bastante criticado por receber ajuda do governo. O Live 8 vai muito além disso, se alinhando, não só economicamente, mas ideologicamente com um governo impopular, que foi responsável por duas guerras ilegais, como com as grandes corporações, como a Time-Warner e Viacom, com Bill Gates, com a própria ONU.
Em suma, é um evento que traz no seu âmago a própria idéia da submissão do ativismo social à grandes corporações e aos governos. Ou seja, contra tudo o que os ativistas sérios(Aqueles que de fato colocam a mão na massa, que visitam e auxiliam doentes e pobres nos piores lugares do planeta ) se dispõem a fazer.