Contra o Consenso: O Brasil e a América Latina
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mercredi, juillet 13, 2005

 

O Brasil e a América Latina

Uma vez, li num desses fóruns, uma frase de um português que me pareceu uma das coisas mais lúcidas que li na vida: "Brasileiro adora falar mal de todo mundo, mas detesta quando falam mal dele." Imaginemos que Howard Dean, George Bush, Trent Lott ou qualquer membro de destaque do Partido Republicano ou Democrata dos Estados Unidos falassem coisas como que, os EUA corriam o risco de virarem um grande Brasil, sem lei. Imagine, óbvio, os protestos do governo brasileiro, os Arnaldo Jabor e outros menos cotados pedindo a cabeça desse sujeito nos jornais, os blogueiros indignados, as correntes de email pedindo boicote aos produtos americanos.

Na campanha presidencial de 2002, várias vezes José Serra e jornalistas falavam no risco do Brasil virar uma Venezuela, uma Argentina ou uma Colômbia. Tinhamos, aí, o candidato de um dos maiores partidos do país colocando a hipótese do Brasil se transformar em um dos vizinhos(E parceiros comerciais de porte) como um evento apocalíptico e catastrófico. Repito, dúvido que isso passasse em branco caso o Brasil fosse o alvo. Nessa semana, Tarso Genro fez questão de repetir a mesma asneira. Em entrevista à Folha, disse: "o Brasil pode entrar numa situação de anomia semelhante à da Colômbia."

Não só Genro repete o mesmo vício de FHC- usar termos desconhecidos- (anomia,ausência de leis ou de regras)- como ele próprio esquece que um dos últimos países que poderiam criticar a Colômbia dessa forma é justamente o Brasil. Afinal, em duas das principais cidades do país, em vários bairros, o poder público simplesmente não manda. Há bairros de São Paulo aonde chacinas e vinganças ocorrem sem interferência da polícia, há bairros do Rio de Janeiro comandados pelo tráfico. A própria situação dos camelôs em qualquer cidade de porte do país mostra isso, com pessoas ocupando ruas para vender produtos piratas ou contrabandeados, ou comida, à revelia da Vigilância Sanitária. Também não sei porquê a comparação com a Colômbia, que tem IDH superior ao do Brasil, ser considerada tão catástrofica.

E claro, imaginemos o que nós, brasileiros, faríamos se políticos franceses ou americanos falassem do nosso país da mesma forma que nossos políticos falam dos nossos vizinhos.