Contra o Consenso: Os professores e os salários
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mercredi, juillet 20, 2005

 

Os professores e os salários

Gustavo Ioschpe, na revista Educação(Uma das razões pela qual eu não acredito em revistas desse tipo é pelo fato de pessoas como o Gustavo Xarope, não profissionais da área, dão o pitaco nas coisas) afirmou, entre outras coisas, que o problema da educação não estava nos salários dos professores e que, considerando a formação e a faixa etária, os professores ganhariam até 11% a mais que não professores.

Bem, em termos. Sim, a rigor, aumentar salários, na maioria dos casos, não tem grandes efeitos sobre a qualidade do ensino. Na prática, tende a atrair para a profissão pessoas atrás de um emprego estável e com bons ganhos, mas que muitas vezes detestam lidar com alunos ou a profissão. Claro que há exceções: em áreas como matemática, aonde a demanda de profissionais em outras áreas costuma ser forte, um salário maior poderia atrair profissionais mais qualificados numa área que costuma atrair somente pessoas que não conseguem emprego em estatística. É justamente nessa área aonde as fraquezas do sistema aparecem com mais força.

Com relação aos salários, a coisa varia muito. Uma cidade como Vinhedo paga uma coisa, a rede estadual outra. Um professor de Ciclo Um, primeira a quarta série, muitas vezes sem faculdade, dificilmente conseguiria um ganho semelhante em outras profissões que em muitas prefeituras. Claro, há férias(que agora são só um pouquinho maiores que em outras profissões), mas ao menos na rede estadual de São Paulo, não há FGTS, vale-alimentação ou vale transporte. Para quem é concursado há a estabilidade, mas para quem não é, periga-se da instabilidade ser maior que em outras profissões. Isso sem contar que muitas vezes o professor é obrigado a se locomover entre mais de uma escola, em mais de um bairro. E para quem não tem carro, a locomoção costuma ser dificil, já que o sistema de transportes é feito para levar pessoas das areas residenciais aos centros, e as escolas geralmente ficam em areas residenciais. Mesmo em distâncias curtas, a locomoção costuma ser dificil. Isso sem contar que o trabalho do professor(Isso se ele der aula de verdade, não ficar pedindo para aluno ler livro) é incessante, bastante cansativo, sem contar trabalhos extra-classe, como correção de provas. Não acho que seiscentos reais, que é a média de um professor da rede estadual por vinte horas semanais, numa cidade como São Paulo, seja justo(Sem vale-transporte ou alimentação). Tem faxineira ganha mais que isso.

E há casos, relativamente comuns, de professores trabalhando mais de SESSENTA horas por semana. Não há forma de se manter qualidade de ensino dessa forma(Embora de fato, mesmo com salários maiores, muitos professores continuam trabalhando com essa carga horária insana).

Mesmo a aposentaria pode não ser muito interessante. Há casos como na rede estadual de São Paulo em que a maior parte do salário de quem está na ativa são complementações, que não aparecem nos rendimentos de quem se aposentou. Muitos aposentados, inclusive, continuam lecionando.

Claro, é decisão de cada um, não sou muito fã dos professores da rede pública tendo visto as barbaridades que já vi. Mas acho que na média, é pouco compensador encarar a rede pública. Considerando coisas como vale-transporte e alimentação, profissões como vendedor de loja podem ser muito mais interessantes. Considerando a falta de professores de várias matérias em muitas escolas mais afastadas, sim, o salário pode melhorar a educação. E nem em todos os casos professor ganha bem. Há disparidades aí para se criar certas generalizações.

E céus, pensar que já cheguei a criticar a revista "Nova Escola"...