Contra o Consenso: Colonizando o interior
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mercredi, août 10, 2005

 

Colonizando o interior

Uma coisa eu admiro na Argentina: a população do país se concentra em algumas poucas províncias ao norte, como Buenos Aires, Mendonza, Santa Fé e Córboba. E bem, ninguém vê problema nisso. Nunca ouvi ninguém falando em querer desenvolver e colonizar a região da Terra do Fogo nem querer em fazer uma capital no meio da Patagônia. Bem, no caso brasileiro, obviamente, a população e boa parte das riquezas nacionais se concentram nos estados da costa. Eu não vejo nenhum problema nisso, mas bem, muita gente fala como se tivessemos o dever de desenvolver e colonizar a região do Centro-Oeste e a região da Amazônia.

Eu, pessoalmente, nunca entendi essa necessidade. Ecologicamente, até seria mais interessante. E ao menos considerando a situação dos Estados mais populosos e supostamente industrializados, não seria o caso de tentar sanar os graves problemas de intra-estrutura desses estados, antes de querer "povoar" o centro do país?

Daí que eu não entendo Brasília. Afinal, não me lembro de cabeça de nenhum país em que a capital fique localizada no centro geográfico do país.

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O grande problema desse pensamento é que a verdadeira forma de se desenvolver um país como o nosso seria por uma infra-estrutura mínima de transportes. Na Rússia, por exemplo, há a Transiberiana e nos EUA a grande preocupação em termos logísticos sempre foi a integração das regiões do país com ligações intercontinentais.

Já em 1869, os americanos teriam uma ligação ferroviária ligando as duas costas daquele país, numa das obras ferroviárias mais conhecidas de todos os tempos. Seria um sistema integrado, que permitia ligações entre as mais distantes regiões daquele país. Seria uma idéia copiada pelos planos rodoviários adotados pelo país.

Por exemplo, a famosa Route 66 ligava a região de Chicago a Califórnia, e o sistema de auto-estradas desse país interliga com facilidade o país inteiro.

Já aqui no Brasil, essa questão sempre foi pessimamente administrada. Por exemplo, nunca tivemos uma bitola ferroviária unificada. A malha do sul era em bitola métrica, a ligação entre São Paulo, Rio e Belo Horizonte em bitola larga(1,60). Somando isso à falta de integração de boa parte de nossa rede ferroviária- por exemplo, a falta da ligação entre São Paulo e Curitiba e Belo Horizonte, ou entre a Bahia e Vitória, ou mesmo da região norte com o resto do país, bem, nunca tivemos uma integração de fato país afora. Pior, isso seria copiado nos planos rodoviários, que na prática seriam um monte de rodovias ligando regiões sem muita relação entre si.

Ainda hoje não há grande preocupação com isso. E pelo que vemos Brasil afora, apostar as fichas em Brasília ao invés de infra-estrutura de transportes foi uma ótima escolha de Juscelino Kubitschek.


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O grande mote social no Brasil é o salário mínimo. Seja em qual governo for, a briga da oposição e as grandes promessas são sempre por um aumento maior do mínimo(Vide a recente decisão do Senado de aumentar o mínimo para R$ 384,29). O que é meio estranho. A maioria dos cargos dentro da iniciativa privada não é indexada pelo salário mínimo e bem, para serviços de menor exigência, as pessoas dão uns trocados por fora, sem se preocupar nem em registrar o funcionário. Na prática, o mínimo é tão baixo que poucos na iniciativa privada pagam isso para funcionários registrados.

Na prática, quem de fato paga com o salário mínimo é o Estado, através das aposentadorias e dos salários de funcionários das prefeituras. Justamente por isso que ele é sempre um grande foco de discussão: porque tem regiões inteiras do país sobrevivendo com salários originados dos aposentados e dos funcionários públicos.

Se não fosse por isso, ninguém falaria no mínimo.